Por Adriana Garibaldi
iG
Depressão é a doença do século que, sem dúvida, provoca extremo
sofrimento, em todas as idades, principalmente na terceira idade. Uma terrível
praga da alma. Intensa dor do coração.
Não sou psicóloga, mas sei, por
experiência própria, o significado desse triste adoecimento, chamado
depressão.
É necessário refletir, fazendo um autoanálise, para tentarmos
entender e contornar um mal como este. Que, sem uma causa aparente, instala-se
no corpo e na psique, levando-nos a uma falta permanente de motivação e de
entusiasmo. Um sentimento de desvalia profundamente
destrutivo.
Depressão... A dor da vida não vivida. Esta é a minha visão
particular a respeito deste drama da mente humana.
Muitos sofrimentos,
perdas, amores frustrados e tantos outros que nos levaram às raias da loucura.
Compõem um amontoado de dor e mais dor a povoar as prateleiras empoeiradas de
nossa historia pessoal.
A vida se basta a si mesma, quando é vivida na
intensidade e no tempo devido.
Viver a infância, como ela precisa ser vivida.
Viver a adolescência, ou a vida adulta no diapasão correto, intensamente.
Representa aquilo que nos pode garantir uma velhice saudável, sem o fantasma da
depressão.
Aquilo que não nos permitimos viver nem ser acaba se
transformando num fardo por demais pesado para ser carregado, um sentimento de
urgência por querer recuperar o tempo perdido que, infelizmente, não volta,
perturba-nos a mente.
Por causa disso, vemos muitas pessoas na casa dos
cinqüenta ou sessenta querendo parar o tempo, por meio de recursos artificiais,
construindo somente uma falsa perpetuação de juventude que mais se assemelha à
mascara grotesca. Uma imagem distorcida daquilo que foram algum dia.
Nada
contra a cirurgia plástica, quando necessária e realizada com critério e
responsabilidade.
Quando não nos permitimos viver a nossa existência com
alegria e na intensidade de vida, ao chegar o tempo de envelhecer, carrega-se no
coração o peso morto de um ciclo que não teve a sua conclusão natural. Não
podemos fechar esse ciclo que nem sequer fora aberto algum dia.
Muitos
daqueles da geração dos anos cinqüenta ou quarenta, casaram cedo, provavelmente,
com o primeiro ou a primeira namorada, arrastando pela vida afora um casamento
sem diálogo, sem cumplicidade, onde as mentiras e as traições permaneceram
abafadas na surdina de um fazer de contas, sufocante.
Muitos deles estão
aqui e agora, sofrendo as dores daquilo que poderia ter sido, mas não foi, por
mil e uma razões, internas ou sociais.
A chegada da terceira idade
poderia ser, contudo, um tempo de finalizações amenas.
O final da vida
está quase aí, à volta da esquina, e a solidão representa uma condição muito
comum, quando os filhos partiram para viverem suas próprias histórias, quando,
muitas vezes, um dos cônjuges mudara-se para um outro plano.
Hora em que
se faz imprescindível avaliar a própria história e, nessa avaliação, muitos
esbarram na dor de constatarem não terem vivido aquilo que um dia sonharam. Uma
história cheia de... e se? Ou... Se eu tivesse feito de forma
diferente...
Aqueles sonhos que ficaram perdidos no tempo não podem ser
recuperados, mas podem com certeza, serem revistos.
Seria maravilhoso se
um dia nos fosse possível nos transformarmos em Deuses ou Deusas do tempo, para
ressuscitar as nossas histórias e fazer diferente dessa vez.
Quem não sonha
ou sonhou vestir uma capa vermelha, ao estilo "Super Homem" e ter o poder de
voltar ao passado. Não horas, mas anos. Não dias, mas décadas. Quanta frustração
poderia ser revista e transformada.
É preciso amar... as pessoas como
se não tivesse amanhã... Canta Legião Urbana.
Amar, sim, amar com a
intensidade necessária e até com a paixão devida... Por que não?
Quem rotulou
a paixão como algo quase... digamos: Sinistro?
Viver!!!
Ah!! Quanto é
belo, quando é apaixonante, quanto é intenso.
Quem disse que a vida pode
ser vivida sem paixão?
Contudo, às vezes imaginamos ser tarde demais e a
gente se acostuma a sobreviver arrastando-se pelo tempo, como um zumbi.
A
velhice e a morte nos pegam desprevenidos, num piscar de olhos. Nem lembramos
quando a primeira ruga, ou o primeiro fio branco de cabelo nos deu um sinal
incontestável de que a roda da vida começava a imprimir um movimento
descendente.
Sinais do corpo como a gritar em nossos ouvidos: acorda!!! Viva,
enquanto é tempo, enquanto é hora, de ser aquilo que se deseja.
De se amar,
com a acuidade necessária, para sermos capazes de amar da mesma maneira aqueles
que viajam a nosso lado, no comboio do ser e do existir.
A juventude é
uma dádiva. Pena que somente se percebe isso quando já o tempo está prestes a
concluir a sua história, na maioria das vezes, uma longa história de
esquecimento de si mesmo.
Muitos denominam a terceira idade como: melhor
idade... Desculpa, mas, parece piada.
Sem querer fazer a apologia da
juventude, acredito que quem inventou essa frase deve ter sido algum jovem
desavisado.
Desavisado, sim!!! Dos ismos do tempo da velhice...
Aqui
uma outra frase brilhante que acho o fim:
"Sempre existe um chinelo velho
para um pé cansado"... Patético!!
Quem é capaz de desejar um chinelo
velho?... Nem de forma objetiva, nem tampouco figurada...
E isso de pé
cansado... Não existe isso de pé cansado.
Os pés foram feitos para a dança!!!
Para a celebração!!!(como diria o Mestre Osho)
Para se movimentar no compasso
da vida.
Falar de chinelo velho?... Socorro!! Tenha dó!!!
Prefiro um
sapato de verniz, como usavam nossos avós!!!
Poder dançar juntinhos, de rosto
colado, uma dança para celebrar o fato de estarmos vivos... Ainda estarmos
vivos!!!
Sem dúvida, não é possível vivermos num corpo eternamente jovem,
seria absurdo imaginar tamanha proeza da Engenharia Genética. A não ser para
algum Highlander do cinema americano. Mas, podemos, sim, aprender a celebrar a
vida, em qualquer tempo.
A nossa alma não tem idade, infelizmente o corpo
não é capaz de concordar com essa realidade essencial.
Mas... pé cansado?!
Chinelo velho? Ninguém merece!!
Aí aparece alguém, com boas intenções,
nos recomendando procurar um grupo de terceira idade .. para aprender
tricô...
Sem dúvida, para algumas pessoas isso pode ser benéfico e até
empolgante, mas para outras?... A antessala do Inferno!!!
Então aí, chega
o tempo da depressão. Da dor daquilo que já não pode ser vivido ou daquilo que
nem sequer fora vivido um dia.
Sem dúvida, não podemos cair na loucura de
intentarmos viver aos sessenta anos aquilo que somente é possível aos vinte ou
trinta.
Mas não precisamos com isso nos conformar em vestir a personagem que
as outras pessoas imaginam adequada para nós. Isso não seria saudável, em
nenhuma idade. Aqui podemos compreender porque é tão comum a depressão nessa
face da vida.
Considero esta forma de depressão como "um grito da alma".
Um pedido de socorro do coração que tem sede de viver com intensidade, amor, luz
e alegria, o tempo que lhe resta. Para assim, quando as portas da vida se
fecharem, seja-lhes possível mergulhar, sem medo, para fora do veículo carnal,
que acabou de completar seu ciclo.
Mergulhar na morte precisa ser um
movimento de libertação e de expansão, uma história que necessita ser fechada
com chave de ouro. Não arrastando conosco, para um outro plano, as amarguras e
depressões, por aquilo tudo que não nos permitimos viver, levando para uma outra
existência, as mesmas mazelas e frustrações acumuladas nesta, ou em existências
passadas.
Limpemos, enquanto é tempo, a estante empoeirada de recordações
dolorosas, de amores não vividos, de sentimentos recalcados e emoções
falsificadas. E, se não nos for possível, por circunstâncias óbvias, vivermos a
vida com a intensidade que gostaríamos, vivamos, pelo menos, o tanto que nos for
possível viver e desfrutar dessa dádiva do existir, num tempo chamado
agora.
O nosso corpo pode estar desgastado pela passagem dos anos, o
nosso rosto sem o viço dos vinte anos, mas o nosso coração ainda é capaz de
pulsar, com a mesma intensidade de sempre...
Dancemos esta dança, vivendo
intensamente antes que as cortinas do palco se fechem e devamos aguardar que um
novo espetáculo volte a ser encenado, quem sabe quando...
Adriana Garibaldi
iG