Clubinho da esquina - MG1 - TV Globo
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
Amador Bueno - O homem que não queria ser rei
Livro "Augusto Malta Revival", do fotógrafo Marcello Cavalcanti - A mescla do Rio de Janeiro da Belle Époque com a Cidade Maravilhosa de hoje...
"O inverno é rigoroso
Bem dizia minha avó...
Quem dorme muito tem frio -
Quanto mais quem dorme só..."
Quadrinha do Rio de Janeiro dos tempos de Augusto Malta... Identificação total...
Natal: sempre que nasce uma criança, é sinal de que Deus ainda acredita no ser humano
Leonardo Boff
* Teólogo
Estamos na época de Natal mas a aura não é natalina, é antes de sexta-feira santa. Tantas são as crises, os atentados terroristas, as guerras que, juntas, as potencia belicosas e militaristas (USA, França, Inglaterra, Russa e Alemanha) conduzem contra o Estado Islâmico, destruindo praticamente a Síria com uma espantosa mortandade de civis e de crianças como a própria imprensa tem mostrado, a atmosfera contaminada por rancores e espírito de vindita na política brasileira, sem falar dos níveis astronômicos de corrupção: tudo isso apaga as luzes natalinas e amortecem os pinheirinhos que deveriam criar uma atmosfera de alegria e de inocência infantil que ainda persiste em cada pessoa humana.
Quem pôde assistir o filme Crianças Invisíveis, em sete cenas diferentes, dirigido por diretores renomados como Spike Lee, Katia Lund, John Woo entre outros, pode se dar conta da vida destruída de crianças, de várias partes do mundo, condenadas a viver do lixo e no lixo; e ainda assim há cenas comovedoras de camaradagem, de pequenas alegrias nos olhos tristes e de solidariedade entre elas.
Quem pôde assistir o filme Crianças Invisíveis, em sete cenas diferentes, dirigido por diretores renomados como Spike Lee, Katia Lund, John Woo entre outros, pode se dar conta da vida destruída de crianças, de várias partes do mundo, condenadas a viver do lixo e no lixo; e ainda assim há cenas comovedoras de camaradagem, de pequenas alegrias nos olhos tristes e de solidariedade entre elas.
E pensar que são milhões hoje no mundo e que o próprio menino Jesus, segundo os textos bíblicos, nasceu numa manjedoura de animais porque não havia lugar para Maria, em serviço de parto, em nenhuma estalagem de Belém. Ele se misturou com o destino de todas estas crianças maltratadas pela nossa insensibilidade.
Mais tarde, esse mesmo Jesus, já adulto dirá:”quem receber esses meus irmãos e irmãs menores é a mim que recebe”. O Natal se realiza quando ocorre esse acolhimento como aquele que o Padre Lancelotti organiza em São Paulo para centenas de crianças de rua sob um viaduto e que contou, por anos, com a presença do Presidente Lula.
No meio desta desgraceira toda, no mundo e no Brasil, me vem à mente o pedaço de madeira com uma inscrição em pirografia que um internado num hospital psiquiátrico em Minas me entregou por ocasião de uma visita que fiz por lá para animar as atendentes. Lá estava escrito: ”Sempre que nasce uma criança é sinal de que Deus ainda acredita no ser humano”.
Poderá haver ato de fé e de esperança maior que este? Em algumas culturas de África se diz que Deus está de uma forma toda especial presente nos assim chamados por nós de “loucos”. Por isso eles são adotado por todos e todos cuidam deles como se fossem um irmão ou uma irmã. Por isso são integrados e vivem pacificamente. Nossa cultura os isola e não se reconhece neles.
O Natal deste ano nos remete à essa humanidade ofendida e a todas as crianças invisíveis cujos padecimentos são como os do menino Jesus que, certamente, no inverno dos campos de Belém, tiritava na manjedoura. Segundo a lenda antiga, foi aquecido pelo bafo de dois velhos cavalos que como prêmio ganharam, depois, a plena vitalidade.
Vale lembrar o significado religioso do Natal: Deus não é um velho barbudo, de olhos penetrantes e juiz severo de todos os nossos atos. É uma criança. E como criança não julga ninguém. Quer apenas conviver e ser acarinhado. Da mengedoura nos vem esta voz: ”Oh, criatura humana, não tenhas medo de Deus. Não vês que sua mãe enfaixou seu bracinhos? Ele não ameaça ninguém. Mais que ajudar, ele precisa ser ajudado e carregado no colo”.
Ninguém melhor que Fernando Pessoa entendeu o significado humano e a verdade do menino Jesus:
”Ele é a Eterna Criança, o Deus que faltava. Ele é humano que é natural. Ele é o divino que sorri e que brinca. E por isso é que eu sei com toda certeza que ele é o Menino Jesus verdadeiro. É a criança tão humana que é divina. Damo-nos tão bem um com o outro, na companhia de tudo, que nunca pensamos um no outro...Quando eu morrer, filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno. Pega-me tu ao colo e leva-me para dentro de tua casa. Despe o meu ser cansado e humano. E deita-me na cama. E conta-me histórias, caso eu acorde, para eu tornar a adormecer. E dá-me sonhos teus para eu brincar até que nasça qualquer dia que tu sabes qual é”.
Dá para conter a emoção diante de tanta beleza? Por causa disso, vale ainda, apesar dos pesares, celebrar discretamente o Natal.
Por fim tem significado esta última mensagem que me encanta: “Todo menino quer ser homem. Todo homem quer ser rei. Todo rei quer ser “deus”. Só Deus quis ser menino”.
Abracemo-nos mutuamente, como quem abraça a Criança divina que se esconde em nós e que nunca nos abandonou. E que o Natal seja ainda uma festa discretamente feliz.
Um dito popular bem antigo e bastante utilizado por quem aceita bons conselhos: se conselho fosse bom ninguém dava de graça.
Contrariando isso um cantor e compositor disse em uma letra de suas músicas: ouça um bom conselho que eu dou de graça.
Ao contrario do que muita gente pensa, as pessoas não nascem sabendo. O aprendizado se dá, ao longo da vida, com ajuda de gente experiente.
O aprendizado é contínuo.
Tive a felicidade de conviver, ao longo dos anos de minha vida, com pessoas de grande sabedoria, que além de me dar preciosos conselhos, transformaram minha forma de pensar, agir e enxergar a vida.
Esses conselheiros, que na sua maioria eram familiares, alguns amigos, professores, colegas de escola, namoradas, alguns chefes e colegas de trabalho que tive ao longo dos anos, transformaram para melhor a minha vida.
Foram dias de muitas lições.
Diziam eles: dê ao seu caluniador um presente e não se torne aquilo que te feriu, família é tudo na vida de uma pessoa, evite conviver com pessoas mal humoradas, ame a vida como ela é, perdoe sempre os pobres de espíritos, amigos não tem defeitos, não desista de seus sonhos, não fale dos outros pois a língua é o chicote do corpo, escute mais e fale menos, seja sempre humilde, não guarde ressentimentos, não fique preso ao passado, tente sempre ser melhor a cada dia, somos todos diferentes por isso pensamos de forma diferente, leia tudo que puder, é preciso estar sempre se atualizando, a informação não é nossa portanto seja um multiplicador de suas informações, transforme suas dificuldades em oportunidades, seja persistente sempre, ouça os conselhos das pessoas experientes e aprenda com eles, respeite os mais velhos, seja dotado de extraordinária curiosidade, não fique remoendo erros do passado, cometa novos erros.
Na vida, a régua suprema deve ser sempre a honestidade, virtudes que assume todos os predicados!
Um conselho paterno que não esqueço: nunca perca o endereço da fé, cultura não é entretenimento, na vida é bem melhor servir que ser servido.
Cada conselho que recebemos é sempre um convite à reflexão.
São mensagens vindas de pessoas que, de certa forma, guiaram minhas atitudes e decisões na vida.
'P.S' - Conselhos de um Jurista:
O indignado dorme, ainda que a sobressaltos. O caluniador sonha com seu mal, acorda, tem náuseas, atribula-se de diversos modos e por muitos anos, sem identificar a origem de seu mal. É o inconsciente detratado que veio à luz e a racionalidade incapaz de contê-lo em sua caverna mal cheirosa.
Portanto, dê a seu caluniador um presente que só amaciará mais seu coração generoso. O perdoado sofrerá enquanto viver e, esperemos que não, na eternidade.
Conselhos de um escritor:
Ser inteligente em uma sociedade pouco instruída é como receber uma estrela de xerife no velho oeste bem no dia em que o bandido mais perigoso do local adentrou a cidade. Em outras palavras, o que quero dizer é o seguinte: as pessoas não querem saber o raio de conhecimento que você possui.
Basta averiguarmos com calma nossa comunidade e veremos que os intelectuais são sempre perseguidos, enquanto os demais são abraçados. Isso acontece porque vivemos em um mundo onde a inveja existe e os seres que aqui estão a valorizam demasiadamente. Por isso Fannie Flagg disse: “Lembre-se, se as pessoas falarem por suas costas, quer dizer apenas que você está vários passos à frente delas.
Cristóvão Martins Torres
Portanto, dê a seu caluniador um presente que só amaciará mais seu coração generoso. O perdoado sofrerá enquanto viver e, esperemos que não, na eternidade.
Conselhos de um escritor:
Ser inteligente em uma sociedade pouco instruída é como receber uma estrela de xerife no velho oeste bem no dia em que o bandido mais perigoso do local adentrou a cidade. Em outras palavras, o que quero dizer é o seguinte: as pessoas não querem saber o raio de conhecimento que você possui.
Basta averiguarmos com calma nossa comunidade e veremos que os intelectuais são sempre perseguidos, enquanto os demais são abraçados. Isso acontece porque vivemos em um mundo onde a inveja existe e os seres que aqui estão a valorizam demasiadamente. Por isso Fannie Flagg disse: “Lembre-se, se as pessoas falarem por suas costas, quer dizer apenas que você está vários passos à frente delas.
Cristóvão Martins Torres
Beethoven, Debussy, Chopin...
Se o Brasil é hoje conhecido como o país do futebol alegre e irreverente, boa parte desta fama se deve ao que Garrincha fez nas décadas de 1950 e 60. Considerado o maior driblador da história do esporte, o ex-ponta-direita ganhou duas Copas do Mundo com a camisa da Seleção (1958 e 1962), mas entrou mesmo para a história por conta das jogadas desconcertantes que fazia diante de seus marcadores.
Mané Garrincha foi o Inspirador do "Olé" no Futebol
JOÃO SALDANHA
“OLÉ” NASCEU NO MÉXICO
(Texto extraído do livro Os subterrâneos do Futebol, de João Saldanha, lançado em 1963 pela editora Tempo Brasileiro).
O Estádio Universitário ficou à cunha. Cem mil pessoas comprimidas para assistir ao jogo. É muito alegre um jogo no México. É o país em que a torcida mais se parece com a do Rio de Janeiro. Barulhenta, participa de todos os lances da partida. Vários grupos de “mariaches” comparecem. Estes grupos, que formam o que há de mais típico da música mexicana, são constituídos de um ou dois “pistões” e clarins, dois ou três violões, harpa (parecida com a das guaranias), violinos e marimbas. As marimbas são completamente de madeira, mas não vão ao campo de futebol, sendo substituídas por instrumentos pequenos. O ponto alto dos “mariaches” é a turma do pistão, do clarim e o coro, naturalmente. No campo de futebol, os grupos amadores de “mariaches” que comparecem ficam mais ativos em dois momentos distintos: ou quando o jogo está muito bom e eles se entusiasmam, ou, inversamente, quando o jogo está chato e eles “atacam” músicas em tom gozador.
No jogo em que vencemos ao Toluca, que estava no segundo caso, os “mariaches” salvaram o espetáculo.
O time do River era, realmente, uma máquina. Futebol bonito e um entendimento que só um time que joga junto há três anos pode ter. Modestamente, jogamos trancados. A prudência mandava que isto fosse feito. De fato, se “abríssemos”, tomaríamos um baile.
Foi um jogo de rara beleza. E não foi por acaso. De um lado estavam Rossi, Labruña, Vairo, Menéndez, Zarate, Carrizo. De outro, estavam Didi, Nilton Santos, Garrincha etc. Jogo duro e jogo limpo. Não se tratava de camaradagem adquirida em quase um mês no mesmo hotel, mas sim da presença de grandes craques no gramado. A torcida exultava e os “mariaches” atacavam entusiasmados.
Estava muito difícil fazer gol. Poucas vezes vi um jogo disputado com tanta seriedade e respeito mútuos. Mas houve um espetáculo à parte. Mané Garrincha foi o comandante. Dirigiu os cem mil espectadores. Fazendo reagirem à medida de suas jogadas. Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do “Olé”, tão comumente utilizada posteriormente em nossos campos. Não porque o Botafogo tivesse dado “Olé” no River. Não. Foi um “Olé” pessoal. De Garrincha em Vairo.
Nunca assisti a coisa igual.
Só a torcida mexicana com seu traquejo de touradas poderia, de forma tão sincronizada e perfeita, dar um “Olé” daquele tamanho. Toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: “Ôôôôô”! O som do “olé” mexicano é diferente do nosso. O deles é o típico das touradas. Começa com um ô prolongado, em tom bem grave, parecendo um vento forte, em crescendo, e termina com a sílaba “lé” dita de forma rápida. Aqui é ao contrário: acentua-se mais o final “lé”: “Olééé!” – sem separar, com nitidez, as sílabas em tom aberto.
Verdadeira festa. Num dos momentos em que Vairo estava parado em frente a Garrincha, um dos clarins dos “mariaches” atacou aquele trecho da Carmem que é tocado na abertura das touradas. Quase veio abaixo o Estádio Universitário.
Numa jogada de Garrincha, Quarentinha completou com o gol vazio e fez nosso gol. O River reagiu e também fez o dele. Didi ainda fez outro, de fora da área, numa jogada que viera de um córner, mas o juiz anulou porque Paulo Valentim estava junto à baliza. Embora a bola tivesse entrado do outro lado, o árbitro considerou a posição de Paulinho ilegal. De fato, Paulinho estava “off-side”. Havia um bolo de jogadores na área, mas o árbitro estava bem ali. E Paulinho poderia estar distraindo a atenção de Carrizo.
O jogo terminou empatado. Vairo não foi até o fim. Minella tirou-o do campo, bem perto de nós no banco vizinho. Vairo saiu rindo e exclamando: “No hay nada que hacer. Imposible” – e dirigindo-se ao suplente que entrava, gozou:
– Buena suerte muchacho. Pero antes, te aconsejo que escribas algo a tu mamá.
O jogo terminou empatado e uma multidão invadiu o campo. O “Jarrito de Oro”, que só seria entregue ao “melhor do campo” no dia seguinte, depois de uma votação no café Tupinambá, foi entregue ali mesmo a Garrincha. Os torcedores agarraram-no e deram uma volta olímpica carregando Mané nos ombros. Sob ensurdecedora ovação da torcida. No dia seguinte, os jornais acharam que tínhamos vencido o jogo, considerando o tal gol como válido. Mas só dedicaram a isto poucas linhas. O resto das reportagens e crônicas foi sobre Garrincha.
As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao “Olé”. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o “Olé”. Foi assim que surgiu este tipo de gozação popular, tão discutido, mas que representa um sentimento da multidão.
Já tentaram acabar com o “Olé”. Os árbitros de futebol, com sua inequívoca vocação para levar vaias, discutiram o assunto em congresso e resolveram adotar sanções. Mas como aplicá-las? Expulsando a torcida do estádio? Verificando o ridículo a que estavam expostos, deixam cada dia mais o assunto de lado. É melhor assim. É mais fácil derrubar um governo do que acabar com o “Olé”.
Não poderia ter havido maior justiça a um jogador que a que foi feita pelos mexicanos a Mané Garrincha. Garrincha é o próprio “Olé”.
Dentro e fora de campo, jamais vi alguém tão desconcertante,
(Texto extraído do livro Os subterrâneos do Futebol, de João Saldanha, lançado em 1963 pela editora Tempo Brasileiro).
O Estádio Universitário ficou à cunha. Cem mil pessoas comprimidas para assistir ao jogo. É muito alegre um jogo no México. É o país em que a torcida mais se parece com a do Rio de Janeiro. Barulhenta, participa de todos os lances da partida. Vários grupos de “mariaches” comparecem. Estes grupos, que formam o que há de mais típico da música mexicana, são constituídos de um ou dois “pistões” e clarins, dois ou três violões, harpa (parecida com a das guaranias), violinos e marimbas. As marimbas são completamente de madeira, mas não vão ao campo de futebol, sendo substituídas por instrumentos pequenos. O ponto alto dos “mariaches” é a turma do pistão, do clarim e o coro, naturalmente. No campo de futebol, os grupos amadores de “mariaches” que comparecem ficam mais ativos em dois momentos distintos: ou quando o jogo está muito bom e eles se entusiasmam, ou, inversamente, quando o jogo está chato e eles “atacam” músicas em tom gozador.
No jogo em que vencemos ao Toluca, que estava no segundo caso, os “mariaches” salvaram o espetáculo.
O time do River era, realmente, uma máquina. Futebol bonito e um entendimento que só um time que joga junto há três anos pode ter. Modestamente, jogamos trancados. A prudência mandava que isto fosse feito. De fato, se “abríssemos”, tomaríamos um baile.
Foi um jogo de rara beleza. E não foi por acaso. De um lado estavam Rossi, Labruña, Vairo, Menéndez, Zarate, Carrizo. De outro, estavam Didi, Nilton Santos, Garrincha etc. Jogo duro e jogo limpo. Não se tratava de camaradagem adquirida em quase um mês no mesmo hotel, mas sim da presença de grandes craques no gramado. A torcida exultava e os “mariaches” atacavam entusiasmados.
Estava muito difícil fazer gol. Poucas vezes vi um jogo disputado com tanta seriedade e respeito mútuos. Mas houve um espetáculo à parte. Mané Garrincha foi o comandante. Dirigiu os cem mil espectadores. Fazendo reagirem à medida de suas jogadas. Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do “Olé”, tão comumente utilizada posteriormente em nossos campos. Não porque o Botafogo tivesse dado “Olé” no River. Não. Foi um “Olé” pessoal. De Garrincha em Vairo.
Nunca assisti a coisa igual.
Só a torcida mexicana com seu traquejo de touradas poderia, de forma tão sincronizada e perfeita, dar um “Olé” daquele tamanho. Toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: “Ôôôôô”! O som do “olé” mexicano é diferente do nosso. O deles é o típico das touradas. Começa com um ô prolongado, em tom bem grave, parecendo um vento forte, em crescendo, e termina com a sílaba “lé” dita de forma rápida. Aqui é ao contrário: acentua-se mais o final “lé”: “Olééé!” – sem separar, com nitidez, as sílabas em tom aberto.
Verdadeira festa. Num dos momentos em que Vairo estava parado em frente a Garrincha, um dos clarins dos “mariaches” atacou aquele trecho da Carmem que é tocado na abertura das touradas. Quase veio abaixo o Estádio Universitário.
Numa jogada de Garrincha, Quarentinha completou com o gol vazio e fez nosso gol. O River reagiu e também fez o dele. Didi ainda fez outro, de fora da área, numa jogada que viera de um córner, mas o juiz anulou porque Paulo Valentim estava junto à baliza. Embora a bola tivesse entrado do outro lado, o árbitro considerou a posição de Paulinho ilegal. De fato, Paulinho estava “off-side”. Havia um bolo de jogadores na área, mas o árbitro estava bem ali. E Paulinho poderia estar distraindo a atenção de Carrizo.
O jogo terminou empatado. Vairo não foi até o fim. Minella tirou-o do campo, bem perto de nós no banco vizinho. Vairo saiu rindo e exclamando: “No hay nada que hacer. Imposible” – e dirigindo-se ao suplente que entrava, gozou:
– Buena suerte muchacho. Pero antes, te aconsejo que escribas algo a tu mamá.
O jogo terminou empatado e uma multidão invadiu o campo. O “Jarrito de Oro”, que só seria entregue ao “melhor do campo” no dia seguinte, depois de uma votação no café Tupinambá, foi entregue ali mesmo a Garrincha. Os torcedores agarraram-no e deram uma volta olímpica carregando Mané nos ombros. Sob ensurdecedora ovação da torcida. No dia seguinte, os jornais acharam que tínhamos vencido o jogo, considerando o tal gol como válido. Mas só dedicaram a isto poucas linhas. O resto das reportagens e crônicas foi sobre Garrincha.
As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao “Olé”. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o “Olé”. Foi assim que surgiu este tipo de gozação popular, tão discutido, mas que representa um sentimento da multidão.
Já tentaram acabar com o “Olé”. Os árbitros de futebol, com sua inequívoca vocação para levar vaias, discutiram o assunto em congresso e resolveram adotar sanções. Mas como aplicá-las? Expulsando a torcida do estádio? Verificando o ridículo a que estavam expostos, deixam cada dia mais o assunto de lado. É melhor assim. É mais fácil derrubar um governo do que acabar com o “Olé”.
Não poderia ter havido maior justiça a um jogador que a que foi feita pelos mexicanos a Mané Garrincha. Garrincha é o próprio “Olé”.
Dentro e fora de campo, jamais vi alguém tão desconcertante,
tão driblador. É impossível adivinhar-se o lado por onde Mané vai “sair” da enrascada. Foi a coisa mais justa do mundo que Garrincha tivesse sido o inspirador do “Olé”.
Frase do dia: "Tem certas coisas que só acontece com o Botafogo"...O Botafoguense é por natureza místico e supersticioso...
Botafogo campeão - Beth Carvalho
Mascote do Botafogo "Biriba"
"Pé quente"
Livro
Somos todos Carlito: Histórias, crendices e superstições de um homem que amava o Botafogo - Rafael Casé
"Um Icone no Botafogo"
"Carlito Rocha foi praticamente tudo no Botafogo. Jogador no início do século 20, técnico nos anos 30 e presidente de 1948 a 1951, o alvinegro às vezes é considerado como o maior botafoguense de todos os tempos. Para ilustrar uma das loucuras que fez pelo Alvinegro jogou uma partida contra o America em 1918 ardendo em febre. Como resultado, pegou uma pneumonia que quase o matou".
Essa é a figura biografada por Rafael Casé, jornalista que escreveu o livro "Somos todos Carlito - Histórias, crendices e superstições de um homem que amava o Botafogo".
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