segunda-feira, 8 de setembro de 2014

“Não me apeguei à autopiedade”

Por Giovanna Tavares , iG São Paulo |
 
"A deficiência está no meu país"
 

“É claro que todos nós passamos por situações ridículas, no dia a dia. Uma vez, caí de barriga para cima na plataforma do trem. Fiquei parecendo um besouro no chão, com as pernas para o alto. Comecei a rir de mim mesma, por causa da vergonha, mas me ajudaram e passou. Não foi o fim do mundo”, diz ela. Segundo Michele, esse foi o segredo para driblar as dificuldades: a capacidade de seguir em frente com leveza e bom-humor.

Realidade:
De volta ao Brasil, Michele precisou encarar o choque cultural entre duas realidades muito distintas. A designer, que sempre foi muito independente e ativa, estava se reacostumando à sensação de liberdade e independência de Boston quando voltou para casa. As limitações ainda eram as mesmas: dificuldade para sair de casa sozinha, falta de acessibilidade, preconceito e poucas referências.

“Aqui, a gente nunca pode sair de casa. Então, você não vive coisas novas, não conhece outras pessoas, porque está frequentando aqueles mesmos lugares de sempre”, desabafa.

Além das limitações cotidianas, Michele precisa lidar com problemas de pressão, uma das sequelas do acidente e da paraplegia. Nos dias em que a pressão cai, não há o que fazer, senão ficar na cama.

Mesmo com todos os obstáculos, a personalidade inquieta de Michele não permite que ela fique parada por muito tempo, apenas lamentando a atual condição. A vontade de seguir em frente é tão grande que ela já está de viagem marcada novamente. Em outubro, a designer de moda embarca em mais uma aventura, desta vez no Canadá, para estudar inglês. Serão mais de duas semanas entre Montreal e Toronto, completamente sozinha.

“O turismo é uma referência muito legal para as pessoas saírem de casa, tanto que tenho feito isso em São Paulo também, descobrindo novos lugares e compartilhando com outros cadeirantes. Nós não precisamos parar de lutar. É uma batalha árdua, mas o retorno é realmente gratificante. Mesmo que a conquista seja conseguir pegar um copo de água. Toda conquista merece ser reconhecida”, finaliza.

iG

Nenhum comentário:

Postar um comentário