Dela / Comportamento
Por - iG São Paulo
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Sorte, azar, destino: afinal, o que podemos controlar? Há
aspectos da vida sobre os quais não temos controle, mas em outros é possível
executar ações para alcançar o que queremos
Não basta ter boa sorte se a pessoa não consegue segurar as rédeas da própria
vida. Entretanto, se desenvolver suas qualidades pessoais, é possível vencer a
má sorte. É o que propõe Nicolau Maquiavel com os conceitos de virtù e
fortuna, apresentados principalmente na obra “O Príncipe”, no século 16.
Fortuna, a deusa da sorte, boa e má, seria incontrolável, segundo acreditavam os
gregos e romanos. O filósofo italiano, contudo, apostava que quando desenvolvida
a virtù, ou atributos como força de caráter, coragem e perspicácia, o
indivíduo controlaria as forças do destino, superaria as adversidades e obteria
êxito em suas ações.
"Maquiavel afirmava que se o chefe político tivesse virtù,
seria possível para ele prever e vencer a má fortuna”, relembra o professor de
filosofia da PUC Antônio Valverde. “O pensar grande, o enxergar longe, é um
jeito de afastar o acaso”, completa Valverde.
Nesse sentido, saber ler o próprio tempo perceber corretamente a
realidade é a principal atitude para atrair a boa sorte, como explica Dulce
Magalhães, Ph.D. em Filosofia pela Universidade Columbia (EUA) e autora do livro
“O Foco Define a Sorte” (Integrare Editora). Na acepção da palavra, sorte tem
diferentes sentidos, como destino, resultado e fortuna. “Ela é fruto de nossas
escolhas, nossa forma de ver a vida, das respostas que somos capazes de
arquitetar”, define Dulce. Já o contrário de sorte, o azar, quer dizer acaso.
Por isso a boa sorte é definida pelo foco e pela escolha, em oposição ao
imprevisível. “A questão fundamental para ter um bom resultado é estabelecer um
processo decisório com clareza”, diz ela.Esforço e estratégia
Desde criança ouvimos que “a vida é difícil”: dinheiro não dá em árvore, é preciso se esforçar muito para conseguir algo e o que vem fácil vai embora fácil. Pois justamente esta lente de contato nos faz enxergar uma realidade nebulosa. “O paradigma vigente no Brasil é o da escassez”, afirma Dulce. “Estamos habituados ao esforço e não à estratégia. Fazemos mais do mesmo em vez de fazer mais com menos”. Libertar-se deste único modelo, diz ela, é o primeiro passo para ajustar o foco e reconhecer caminhos que nos conduzam diretamente aos nossos propósitos.
Como despertar a criatividade
Ao definir um caminho aleatoriamente, sem método ou critério, não se tem consciência para onde a vida segue nem de que maneira nosso interior funciona. É fundamental que no processo de interação com o mundo a pessoa se dê conta de qual é o seu papel e o que lhe cabe em cada aspecto da vida. “Só assim poderemos acertar e reproduzir o acerto e, se errarmos, evitar outros erros”.
Sendo a sorte o resultado de qualquer ação, a boa ou a má sorte depende do processo decisório. Por isso, quando se decide tomar uma decisão, é preciso colocá-la em prática. Um exemplo muito comum é aquela pessoa que se dá conta que precisa emagrecer, mas não faz qualquer movimento para perder peso. Não muda a alimentação e continua sedentária. Inevitavelmente ela terá um mau resultado – ou uma má sorte.
Tempo é vida
Impulsionar a boa sorte tem a ver com a estratégia do pensamento. É importante definir o que é prioritário para si, o que traz mais impacto para a sua vida e saber gerenciar o tempo. Há sinônimos que podem clarear o processo: o duo “tempo” e “vida” é um deles. Portanto, pessoas que falam “eu não tenho tempo agora” passam a seguinte mensagem: “Eu não tenho vida para mim agora”.
Dulce dá três dicas essenciais para a melhor gestão do tempo. Primeiro, saiba qual é sua prioridade. “É sem ‘s’, pois não é múltipla. É exatamente o que é preciso fazer agora, o que tem mais impacto e relevância neste instante”, afirma Dulce.
Segundo, aprenda a ter tempo livre. Ao enchermos o dia, transformando-o em um atropelamento constante de tarefas, não permitimos um momento de ócio criativo. “A inovação só vem do ócio criativo e não do trabalho árduo. O ócio é o fomento para a criatividade aparecer”, ela explica.
Em terceiro, coloque o que queremos todos os dias na nossa agenda. Em vez de deixar o lazer só para o fim de semana, é importante ter lazer na vida diariamente, nem que seja por 15 minutos. “Isso garante que todos sejam dias sejam de melhor performance”, ela garante.
Como superar a timidez
Com a agenda bem equilibrada, perceba então o que está em ação na sua vida: se é o destino ou o livre-arbítrio. Fazer dar certo tem a ver com o livre-arbítrio, que determina se a porta à sua frente é um beco sem saída ou um novo caminho. Não se pode mudar o destino da porta, está fora de nosso controle, mas sim como passar por ela.
Aprender sobre a sorte que se pode criar é o mote do palestrante motivacional Douglas Miller no livro “A Sorte Como Hábito” (Integrare Editora). Para Miller, pessoas sortudas não esperam as coisas acontecerem; elas têm participação ativa em suas vidas, pois executam ações específicas para conseguir o que querem. Ao longo dos anos, essas ações se tornam hábitos e a boa sorte as acompanha para sempre.
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