Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram um quadro crítico da aposentadoria no Brasil. Segundo a instituição, apenas 1% dos aposentados é independente financeiramente. Dos outros 99%, 46% dependem da ajuda de parentes e 28%, de terceiros. Os 25% restantes precisam continuar trabalhando por necessidade.
Todos esses números apontam para um comportamento comum dos brasileiros: não poupar dinheiro. É o que diz também um levantamento feito pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito): 57% da população não tem a preocupação de garantir a aposentadoria no futuro. Preparar-se desde cedo para desfrutar de uma velhice tranquila é fundamental, uma vez que a expectativa de vida do brasileiro, calculada pelo IBGE, atingiu 74,9 anos em 2013. Para se ter uma ideia, no início da década de 80, a estimativa era de apenas 62,5 anos.
Com essa esticadinha na vida, fica cada vez mais difícil contar apenas com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), uma vez que, devido às regras para o cálculo da aposentadoria (saiba mais no fim do texto), o contribuinte acaba, muitas vezes, recebendo um valor inferior ao salário que caía na conta enquanto estava na ativa. Deve-se levar em conta também o aumento de alguns gastos — com a saúde, por exemplo — nessa faixa etária.
Se você faz parte da imensa maioria que não poupou ao longo da vida, ainda é tempo de mudar os seus hábitos e garantir uma qualidade de vida melhor nos próximos anos. Para isso, é preciso poupar de forma ordenada e calculada. O terapeuta financeiro Reinaldo Domingos, autor do livro “Terapia Financeira' (Ed. DSOP), conta que, para isso, é preciso saber com quantos anos quer pendurar a chuteira e o valor que precisa juntar até lá.
Ele explica ainda que, para ter uma aposentadoria “sustentável', o valor total que você deverá ter investido quando se tornar independente tem que render juros mensais equivalentes ao dobro do dinheiro que você pretende sacar mensalmente. Um exemplo: se você quer viver com R$ 5.000 por mês enquanto aposentado, seus investimentos devem gerar uma renda passiva de R$ 10 mil mensais. No entanto, para essa tática dar certo, a retirada deve ser de metade desse rendimento total. A outra metade, por sua vez, deve ser reinvestida para garantir a perpetuidade do patrimônio.
Domingos, que se aposentou há 17 anos, quando tinha 37, criou uma fórmula para descobrir os números mágicos da tal aposentadoria dos sonhos —ela pode ser baixada gratuitamente no site da DSOP Educação Financeira (clique aqui).
Se guardar R$ 300 todo mês, com uma correção de 10% ao ano (pensando na inflação), durante 15 anos parece uma tarefa difícil, o terapeuta financeiro sugere colocar tudo na ponta do lápis. “É hora de retomar as rédeas do seu padrão de vida e mudar os seus hábitos', alerta.
É hora de botar no papel todas as suas prioridades na vida, todos os seus objetivos (identificado como sonhos no método DSOP), sejam eles de curto (até um ano), como uma viagem de férias ou o presente de aniversário do neto, médio (de um a dez anos), seja ele trocar o carro ou comprar uma casa, e longo (acima de dez anos) prazo —é aqui que entra a sua aposentadoria. “Esses três tipos de sonhos têm que ser buscados ao mesmo tempo. Se você está endividado, um deles deve ser a saída da dívida. Ainda assim, não deixe de pensar naqueles sonhos que vão te trazer felicidade, como a sua viagem e a sua aposentadoria', orienta.
Para cada tipo de objetivo, há uma melhor forma de aplicação: no curto prazo, invista na caderneta de poupança; no médio, vá atrás do Tesouro Direto, dos CDBs e de fundos de investimento; e, no longo, o Tesouro Direto costuma ser a opção mais acertada, uma vez que, se você estiver há poucos passos da aposentadoria, não há mais tempo para a previdência privada.
“Se as suas despesas estão muito altas e os seus sonhos não estão cabendo no seu orçamento, é preciso fazer uma faxina financeira', explica Domingos. “Em média, as famílias brasileiras têm um excesso de 30% ao mês em tudo o que consome', aponta. Para identificar o caminho que o seu dinheiro está fazendo assim que cai na sua conta, o ideal é, durante 30 dias, registrar gasto por gasto em uma planilha, separando por tipo: água, luz, alimentação, supermercado, padaria, neto A, neto B e até mesmo as gorjetas que deu para o flanelinha cuidar de seu carro na rua.
Entram na redução de custos também sair daquela casa enorme e comprar um imóvel menor perto do comércio e do metrô e até mesmo colocar à venda aquele apartamento praticamente abandonado na praia. Além disso, se já passou dos 60 anos, procure usufruir dos benefícios que o governo proporciona à terceira idade, como a Farmácia do Povo e os descontos em laboratório, o transporte público gratuito, as viagens coletivas com preço reduzido, o desconto no cinema.
Segundo o terapeuta financeiro, não se deve pagar as contas primeiro para depois guardar o dinheiro. O caminho deve ser inverso. “Você deve priorizar os seus sonhos.'
As novas regras de aposentadoria pelo INSS
O governo instituiu uma nova regra para a concessão de aposentadorias, criando uma alternativa ao fator previdenciário, que continua valendo. É a chamada regra 85/95.
Essa fórmula permite aos trabalhadores atingir o valor integral da aposentadoria, não sofrendo incidência do fator previdenciário, quando a soma mínima de idade e tempo de contribuição chegue a 85 pontos para mulheres e a 95 pontos para homens, sendo a contribuição mínima de 35 anos e 30 anos, respectivamente.
Caso o contribuinte decida se aposentar antes de atingir essa marca, a aposentadoria continua sendo reduzida pelo fator previdenciário.
A regra 85/95 sofrerá, no entanto, uma progressão a partir de 2017 até chegar a 90/100 em 2022.
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