sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Docentes e Formandos do Colégio Marques Afonso

Como meu pai enfrentou a velhice

Desse homem conheço numerosos fatos notáveis, mas nada é mais digno de admiração do que a maneira como enfrentou a velhice.
Todas as pessoas desejam viver muito, mas, quando ficam velhas, algumas se lamentam muito.
Certa ocasião, perguntei a meu pai se desejava viver muito tempo, ele respondeu:

  • nada tenho a reprovar em relação à velhice, os frutos dela são todas as lembranças que adquiri do passado;
  • os velhos não devem se apegar, nem renunciar ao pouco de vida que lhe resta, porque ninguém é bastante velho para não viver vários anos a mais;
  • saber distribuir o tempo é saber aproveitá-lo;
  • as pessoas agradáveis suportam facilmente a velhice; o temperamento e a beleza estão em todas as idades;
  • toda idade tem seu prazer e sua virtude. Não é a força nem a agilidade que marcam as grandes façanhas de um homem. O que importa é a maneira de pensar, a sabedoria, a humildade, o discernimento, a honestidade, a bondade e a verdade;

Portanto, meu Pai acreditava ser o ser humano a origem e o fim de todas as coisas na sociedade. Ele entendia que as pessoas, através do estudo e trabalho, buscam a sobrevivência e o crescimento da espécie.
Gostava de dizer: velho sim, velhaco jamais.
Enfatizava que chegou àquela idade tendo permanecido ativo, trabalhado sem descanso desde novo, sobretudo porque tinha perdído seus pais muito cedo, criado sua familia, participado do processo da construção do Colégio Marques Afonso e cultivado o caminho do bem.

A construção do Colégio foi uma boa lembrança que carregava consigo. Sentia que ela tinha propiciado às pessoas, desde o mais humilde ao mais abastado, sentarem-se lado a lado e terem as mesmas oportunidades na vida.
Seu grande sonho e desafio foi diminuir as desigualdades através da educação. Acreditava que não há limites para os sonhos e não importa o tamanho do seu sonho, o importante é acreditar.
Ele dizia que a razão que o motivou a lutar pelo colégio naquela época foi ter observado que muitos pais não tinham condições financeiras de manterem seus filhos estudando fora do prata.
Sua alegria foi muito grande ao perceber que, depois de construído, dentre os primeiros alunos matriculados no colégio havia não só pessoas do Prata, mas também de cidades vizinhas.
Fazia questão de ressaltar que tinha aprendido com sua esposa Auxiliadora, minha mãe, que o que fazemos de graça recebemos em graça.
Meu pai exerceu seu ofício(odontólogo) com profissionalismo, dedicação, amor e respeito aos clientes. 

As lembranças das coisas boas que realizou o confortaram muito na velhice. Dizia que seus cabelos brancos e suas rugas eram a recompensa de um passado exemplar que teve e concluía afirmando:
"assim como o bom vinho, as boas ações que praticamos no passado não azedam com o passar do tempo; Deus nos fornece, aqui na terra, um hotel provisório e não um domicilio definitivo".

Essas são as lembranças que tenho do meu Pai, Benjamim Torres. Guardo com muito carinho a imagem de um homem bom que se sentia muito bem em fazer o bem, que lutou muito para o bem da coletividade, que nos deixou muito orgulhosos com seus gestos, e soube envelhecer com sabedoria, embora tenha partido, continua vivo em meu coração.

Cristóvão Martins Torres


Feitos para a comunidade pratiana se orgulhar

Recentemente, por uma fonte confiável, ficamos sabendo que o Ginásio Marques Afonso foi o décimo segundo ginásio estadual instalado no Estado de Minas Gerais. A notícia revela um fato, por mim desconhecido, que merece destaque no conjunto de circunstâncias que marcaram a instalação do nosso ginásio. Na década de 1950, mesmo com todas suas carências, o Prata se viu envolvido com o sonho de conseguir um ginásio estadual para a cidade. Um dos símbolos  desse movimento, com a sua obstinação pela ideia, foi aos poucos contagiando as pessoas  e  acabou conseguindo uma mobilização  de forças atuantes na cidade para esse objetivo. Naquela época, ginásio estadual era coisa rara em Minas . O governo instalava poucas unidades por ano e priorizava as cidades com mais densidade populacional e econômica  do Estado. Não havia como furar a fila da hierarquia definida , porque era grande a disputa das cidades para ter o seu ginásio, uma vez que, por toda parte, a maioria dos jovens estava financeiramente impedida de fazer o curso secundário, disponível apenas em alguns colégios tradicionais , de propriedade privada , com pagamento de anuidade, e localizados fora de suas residências. Com tanta competição na área política, a única alternativa viável passou a ser idealizar um projeto para implantar o ginásio de forma diferente do que se adota hoje. Assim, a Secretaria de Educação delineou o que se pode chamar de " caminho das pedras", definindo como exigências que a cidade implantasse uma escola municipal de curso médio, como precursora do ginásio estadual, e construisse às suas expensas o prédio para o ginásio funcionar. Com isso, caberia ao governo apenas fazer a transformação de um estabelecimento de ensino em outro do mesmo nível, sem que houvesse constrangimentos com relação à hierarquia no meio político estadual.. Para conduzir os trabalhos previstos nesse pesado desafio , foi criada uma Fundação, de fé pública, denominada Sociedade Beneficente de Cultura , a quem se atribuiu as funções de coordenação dos trabalhos comunitáros e a articulação dos contatos com o órgão do Estado. A primeira medida adotada pela Sociedade Beneficente de Cultura foi  instituir , no ano de 1954, a Escola Técnica de Comércio Pratiana , a qual funcionou no prédio do Grupo Escolar Cônego João Pio, em horário noturno, com a plena e irrestrita colaboração de professores, que trabalharam sem receber salários. Simultâneamente ao funcionamento da escola, a Sociedade Beneficente dava  início à construção do prédio onde deveria funcionar o ginásio estadual, quando criado. O prédio foi construido com dinheiro de doações  do povo e de amigos da nossa cidade. Depois de concluido, o prédio foi doado ao Estado ,  cumprindo-se , dessa forma, com muita dedicação e trabalho, as exigências fixadas pela Secretaria de Educação. Em 1956, foi assinado o ato de criação do Ginásio Estadual  Marques Afonso, e o Prata, brilhantemente passou à  frente de mais de quatrocentas outras cidades de Minas Gerais no objetivo de ter o seu ginásio. Os alunos matriculados no curso básico da Escola Técnica foram absorvidos pelo ginásio estadual, mediante prova de avaliação acompanhada pelo Ministério de Educação, retratando a correção e a seriedade dos procedimentos  nesta fase inicial do curso secundário. A Escola Técnica de Comércio Pratiana funcionou ainda por um bom período, após a inauguração do ginásio, porém, com o curso técnico, ampliando a possibilidade de formação de alunos no curso médio complementar ao secundário. Só admitindo algo como um sopro divino, presente nas grandes obras, e outro tanto do trabalho de pessoas com paixões intensas, é possível explicar essa história notável  da Sociedade Beneficente de Cultura, com o pensamento único de deixar um legado duradouro para os jovens pratianos. O prédio, hoje utilizado como grupo escolar, deve ser conservado como um marco histórico, pela sua importância na criação do Ginásio Marques Afonso. Pelo pouco aqui revelado, dá para se ver que há muitas  histórias ligadas ao nosso ginásio esperando para serem contadas, e  que ajudariam a formar a memória da cidade.

Cristóvão Martins Torres


Início da Construção do Colégio Marques Afonso

Senhor Benjamim Torres, fundador do Colégio Marques Afonso, durante a construção, junto a seu filho Carlos e aos Trabalhadores da obra 

A construção do Colégio Marques Afonso (levantando as paredes)

O Colégio Marques Afonso, já concluído

Benjamim Torres fazendo discurso de inauguração
do Colégio Marques Afonso


Inauguração do Oratório do Colégio Marques Afonso


Há de ressaltar, a plena e irrestrita colaboração dos professores, que trabalharam sem receber salários, trabalharam de graça por um bom tempo. 
Benjamim Torres Junto aos Professores do Marques Afonso

Primeira Turma de Formandos do Colégio Marques Afonso

Abaixo, cartão escrito por Padre Geraldo Barreto Trindade(Pároco de Ponte Nova), datado de 1954, endereçado a Benjamim Torres, enaltecendo o seu trabalho para a implantação da Escola Técnica de Comércio em São Domingos do Prata
Colaboradores da mobilização de forças

No Desfile de 7 de Setembro de 1964,
a Fanfarra do Colégio Marques Afonso

Desfile das alunas do Colégio Marques Afonso,
 em 7 de Setembro de 1964.

Jardim de Infância Chapeuzinho Vermelho
Em 7 de Setembro, desfile do Jardim de Infância da Dona Dulce


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