quarta-feira, 14 de setembro de 2022

É conhecendo o passado que encontramos as soluções para o presente

Foi nesse clima que vivi a minha infância, numa atmosfera amena a que se criou a arte de viver, que é de saber conviver.

O prata, ainda não sabia o que era desenvolvimento, tudo estava no seu início.
As ruas eram pouco iluminadas, as luzes dos postes eram amarelas de tão fracas.
Os carros eram poucos, ouvia poucas buzinas, a rua não tinha nenhum movimento, e todos dormiam cedo na cidade.
A rua que nasci e fui criado era muito tranquila, calçamento não existia e não era arborizada, a consciência ambiental ainda não tinha chegado até aos gestores públicos.
A nossa diversão predileta era brincar de pique com as meninas e jogar futebol na rua.
A felicidade da meninada era bola quicando na área, e a rua toda transformada, em campo de futebol.
Nesse clima de camaradagem, todo mundo se encontrava na rua.
Após as aulas reuníamos, e sentíamos donos da rua e de nossas vidas, libertos de pai e mãe.
Num esforço de memória, aqueles acontecimentos vêm à cabeça com muita saudade da infância, esta fase da vida especial e única.
Dentre vários fatos, lembro-me de um, que meus colegas falavam, embora nunca tenha visto, da existência de um animal que aparecia na rua e assombrava a todos.
Diziam ser uma criatura que dava medo até em adultos, a mula sem cabeça era temida por todos.
Quando alguém falava do tal animal, todos lançavam um olhar estranho, ficavam apreensivos.
A noite, após algumas partidas de futebol, ninguém se arriscava a ficar na rua, com medo do bicho.
Éramos tranquilizados pelos nossos pais, de que o animal não existia, às vezes íamos dormir com aquilo na cabeça.
Diziam não ser verdade, ser ficção, que aquilo estava na imaginação das pessoas.
Tivemos vários casos de amigos que acordavam durante a noite com pesadelos.
Comentários surgiam os mais variados possíveis, sempre falava que alguém viu o animal, que era grande e muito feio; com isso a apreensão era geral.
Por pura obra do acaso, venho a saber deste acontecimento que mudaria o curso da história; que esta imagem falsa e negativa, era passada aos meninos daquela rua, por um senhor que morava lá e detestava o gorjear de um determinado pássaro, nativo na região.
Sentindo incomodado pelos assobios altos de alguns meninos, que imitavam o pássaro, falava da mula sem cabeça, como forma de intimidação.
Como um apaixonado pela história da minha infância, fazendo uma análise desse fato, percebo que não ficou nenhum vestígio de raiva, e nenhum sinal de ressentimento, nas pessoas.

Cristóvão Martins Torres

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