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Ouro Preto
19 de abril de 2023Parte da coleção do Museu Internacional de Arte Naïf, fechado no Rio de Janeiro desde 2016, é exibida no interior de Minas Gerais em mostras itinerantes
Curadoria reúne obras em três exposições temáticas realizadas simultaneamente em Ouro Preto, Congonhas e Conselheiro Lafaiete
O projeto Arte nas Estações, idealizado pelo colecionador e gestor cultural carioca Fabio Szwarcwald, será inaugurado nos dias 2, 3 e 4 de fevereiro de 2023, com a abertura de três exposições temáticas a serem realizadas simultaneamente em três cidades mineiras: Ouro Preto, Congonhas e Conselheiro Lafaiete. O Arte nas Estações tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e realização da RKF.
Consultoria.
Com curadoria de Ulisses Carrilho, as mostras levam obras da coleção do Museu Internacional de Arte Naïf – que em 2016 teve suas atividades encerradas no Rio de Janeiro, abrigando o maior acervo do gênero no mundo – para espaços fora do eixo Rio-São Paulo, com o objetivo de disseminar a sua potência.
Arte Naïf é o termo usado para identificar a produção de artistas autodidatas, que não tiveram acesso ao ensino formal de arte. No entanto, Carrilho reconhece que se trata de um termo questionável, defendendo a sua utilização para desmontar a ideia de inferioridade e sublinhar o texto político que estas obras carregam. "Essas exposições são sobre saberes que precisam ser respeitados e que não fazem parte de uma norma. Vamos levar estas obras a lugares aonde ainda não chegaram, bem como aprenderemos com os saberes locais em cada parada que fizermos".
Para o curador, a itinerância é a mecânica comum entre as três mostras distintas, que ocupam temporariamente os espaços e seguem para a próxima estação. "Faz todo o sentido falar de arte popular através dessa estrutura que monta e desmonta, como os grupos de teatro ambulante e de circo", reflete.
Para Szwarcwald, diretor executivo do projeto, é um sonho levar um acervo tão rico a lugares que, muitas vezes, não têm oportunidade de receber exposições por falta de investimento: “A itinerância é rara nesses territórios e a gente quer ultrapassar essa concentração cultural nas capitais”, comenta. “É muito interessante levar artistas naïf às suas cidades natais, onde nunca chegaram a expor, dando a eles o merecido reconhecimento. Meu objetivo é utilizar a arte e o trabalho destes artistas como uma plataforma de educação, criando uma oportunidade dos espectadores terem uma visão ampliada sobre o mundo que vivemos hoje".
Em Ouro Preto, no Paço da Misericórdia (antiga Santa Casa), "Sofrência" fala sobre apaixonamento e separação por meio de uma narrativa com início, meio e fim. Inspirada nas novelas, essa história apresenta ao público cenas de convívio social, flerte, festas e jogos de sedução, permeadas por poesias e poemas populares. "Olhar para essas obras faz lembrar como é político você dizer que ama alguém e manifestar o seu desejo", reforça Carrilho.
A Estação Ferroviária de Conselheiro Lafaiete, a 96 km da capital do estado, dá lugar à exposição "A Ferro e Fogo". Nela, artistas populares abordam uma relação integrada entre as questões naturais e políticas. Manifestações e rebeliões são representadas nas obras que trazem cenas de luta pela preservação das espécies: uma mata exuberante, uma terra fértil, um povo nutrido de um forte desejo de construir.
Por fim, o Museu de Congonhas recebe "Entre o Céu e a Terra", que aborda as fés – sempre no plural. Crenças, manifestações religiosas e crendices populares aparecem em cenas noturnas, céus estrelados, aparições, graças alcançadas, súplicas fervorosas e seres fantásticos do folclore brasileiro. A exposição conta ainda com um núcleo em que estadistas são retratados, como José Sarney e Getúlio Vargas, trazendo para a discussão a necessidade de acreditar numa ideia de Brasil também através da política.
A expografia, criada por Janine Marques, tem como objetivo reforçar a temática explorada em cada exposição e faz uso de elementos regionais para valorizar a cultura local, criando vínculos de identificação com o público. "Cada espaço vai ser travestido três vezes, de três temas diferentes", destaca o curador.
Para além das obras naïf, cada exposição conta com uma videoarte contemporânea escolhida para dialogar com as temáticas abordadas. Soledad, de Juliana Notari, O levante, de Jonathas Andrade e Nada é, de Yuri Firmeza, funcionam como dispositivos pedagógicos para criar discussão, interagindo com o presente.
O programa educativo tem como foco o trabalho com alunos das escolas de cada região e reforça o diálogo das mostras com as questões da contemporaneidade, abordando o papel do artista, a função social da arte e a aproximação com seus públicos.
Ao colocar a arte naïf em diálogo com questões do nosso tempo, o projeto preenche uma lacuna da história da arte brasileira, não só ao dar visibilidade a esta coleção, mas ao chamar a atenção para uma problemática latente desde o encerramento do Museu de Internacional de Arte Naïf, em 2016. A instituição, que tinha sede num casarão histórico no Cosme Velho, no Rio de Janeiro, suspendeu as atividades por falta de financiamento. Atualmente, a coleção privada de Jacqueline Finkelstein encontra-se armazenada num guarda-móveis.
"Essas exposições podem ser o último suspiro de uma movimentação importante para trazer luz à situação da venda da coleção naïf. É importante mobilizar as pessoas, fazendo com que essas obras fiquem no Brasil", alerta Szwarcwald. Atualmente, cerca de 3 mil peças da coleção estão sob o risco de serem vendidas para fora do país. Destas, 270 compõem o corpo das exposições do Arte nas Estações.
O envolvimento de Fabio e Ulisses com a coleção teve início em 2019, a partir da exposição-manifesto Arte Naïf – Nenhum museu a menos, realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Pensada a partir do acervo, então composto por 6 mil obras de artistas de 120 países, a mostra buscou sensibilizar o público sobre a importância deste conjunto para o Brasil.
O legado desta primeira iniciativa se reflete não só na realização do projeto Arte nas Estações, com a itinerância de algumas das suas obras, mas também no reconhecimento internacional de artistas como Odoteres Ricardo de Ozias. O seu trabalho, que serviu como ponto de partida para a exposição do Parque Lage, é exposto pela primeira vez em Minas Gerais, onde nasceu Ozias.
Para Carrilho, o projeto contribui para a valorização da arte popular, dando seguimento a uma espécie de revisão do que vem sendo considerado arte no Brasil, iniciada com a exposição de 2019. "Poder olhar para essa coleção com apreço pelo popular já é um fenômeno", comemora. A força da poesia popular está não só na vivacidade das cores, mas também na capacidade desses artistas olharem para o exterior e fazerem o que Carrilho chama de "remix local": "A cultura popular continua fazendo esse movimento de capturar o outro e de refazer a partir de si".
O resultado disso é revelado, por exemplo, pelo interesse de galerias de arte e do mercado internacional pela Arte Naïf. "Infelizmente, essa pode ser a última oportunidade de a coleção ser vista no Brasil", lembra o curador.
Na atual ausência do Museu, o projeto se encarrega de criar espaços para mostrar a coleção e chamar a atenção para a sua relevância. A expectativa é que esta seja apenas a primeira edição do Arte nas Estações, que pretende continuar levando as artes visuais a outras cidades do país.
Sobre o Instituto Cultural Vale
O Instituto Cultural Vale parte do princípio de que viver a cultura possibilita às pessoas ampliarem sua visão de mundo e criarem novas perspectivas de futuro. Tem um importante papel na transformação social e busca democratizar o acesso, fomentar a arte, a cultura, o conhecimento e a difusão de diversas expressões artísticas do nosso país, ao mesmo tempo em que contribui para o fortalecimento da economia criativa. São mais de 500 projetos criados, apoiados ou patrocinados em 24 estados e no Distrito Federal. Dentre eles, uma rede de espaços culturais próprios, patrocinados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, com visitação gratuita, identidade e vocação únicas: Memorial Minas Gerais Vale (MG), Museu Vale (ES), Centro Cultural Vale Maranhão (MA) e Casa da Cultura de Canaã dos Carajás (PA). Onde tem Cultura, a Vale está. Visite o site do Instituto Cultural
Vale: institutoculturalvale.org
SERVIÇO:
Arte nas Estações
Abertura: fevereiro de 2023
Encerramento: setembro de 2023
OURO PRETO
Itinerâncias:
SOFRÊNCIA 02 fev a 09 abr 2023
A FERRO E FOGO - 22 abr a 18 jun 2023
ENTRE O CÉU E A TERRA - 8 jul a 3 set 2023
Paço da Misericórdia (antiga Santa Casa)
Rua Padre Rolim, 344
Ouro Preto - Minas Gerais
Horário de funcionamento: quinta a domingo, de 9h às 17h
Entrada gratuita | Classificação livre
CONSELHEIRO LAFAIETE
Itinerâncias:
A FERRO E FOGO - 03 fev a 09 abr 2023
ENTRE O CÉU E A TERRA - 20 abr a 18 jun 2023
SOFRÊNCIA - 6 jul a 3 set 2023
Estação Ferroviária
Rua Cel. Bento, 75 ou R. Mal. Floriano Peixoto, s/n, - Centro
Conselheiro Lafaiete - Minas Gerais
Horário de funcionamento: terça a domingo, de 9h às 17h
Entrada gratuita | Classificação livre
CONGONHAS
Itinerâncias:
ENTRE O CÉU E A TERRA - 04 fev a 09 abr 2023
SOFRÊNCIA - 19 abr a 18 jun 2023
A FERRO E FOGO - 7 jul a 3 set 2023
Museu de Congonhas
Alameda Cidade Matozinhos de Portugal, 77
Congonhas - Minas Gerais
Horário de funcionamento: terça a domingo, de 9h às 17h
Obs: O museu tem cobrança de ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), com gratuidade para todos os públicos às quartas.
Site: www.artenasestacoes.com.br
Instagram: @artenasestacoes
Imprensa:
Mônica Villela Companhia de Imprensa
Contatos: (21) 97339-9898 | monica@monicavillela.com.br
Jornal O Liberal
Região dos Inconfidentes
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