A Mula Palmeira volta para casa
Na década de 50, meu avô Tineco tinha uma mula pêga, animal resistente, adequado para longas viagens. Nela viajou por toda a região do Prata, Nova Era e de Itabira.
Após a morte de meu avô, o animal, que o serviu por longo tempo, teve tratamento especial por parte da família: tio Feliciano, que morava na Fazenda da Vargem, reconhecendo os serviços que Palmeira tinha prestado a meu avô, deu a ela tratamento especial, concedendo-lhe um dos melhores pastos da fazenda. Palmeira havia se tornado um animal de estimação da família.A atividade leiteira era uma tradição na Fazenda da Vargem, passando de geração para geração. Na década de 50 a fazenda se tornou uma referência na produção de leite e, além disso, produzia arroz, feijão, café, milho e gado de corte de boa raça.
Desde a sua inauguração, a Fazenda da Vargem passou por três gerações da família, tendo sido meu avô Tineco seu último dono. Após seu falecimento, a fazenda encerrou suas atividades produtivas.
Na década de 60, em uma de minhas idas à Fazenda da Vargem, meu tio Feliciano me ofereceu a Mula Palmeira. Por ter sido ela um animal de estimação de meu avô, aceitei, com muito gosto, aquele presente do tio Feliciano. Acompanhado do amigo José Helvécio, segui para o Prata no lombo da mula, que, por já estar muito velha e ter uma deficiência no casco da pata esquerda, mancava muito. Além disso, Palmeira parava a todo instante, olhava para trás, em direção à fazenda, demonstrando querer ficar na casa onde tanto tempo tinha vivido. Por isso demoramos muito para chegar ao Prata.
A viagem foi longa e divertida. Saímos da fazenda após o almoço e chegamos ao Prata quando já estava escurecendo.
Quando chegamos ao Prata, meu pai ficou emocionado ao ver Palmeira, pois sabia que ela era o animal de estimação de Tineco. Em tom de espanto, disse: “- está ficando louco? Volta com essa mula para a Vargem! Ela não vai se adaptar aqui! O quintal é pequeno para ela, ela está acostumada com pastos grandes.”
Soltamos Palmeira no quintal da nossa casa. No meio da madrugada, acordamos todos com muito barulho: Palmeira estava batendo suas patas no portão, até que ele arrebentou. A barreira que impedia Palmeira de voltar para sua casa, a Fazenda da Vargem, caiu.
O motivo que fez Palmeira voltar para a Fazenda da Vargem foi a saudade de seu verdadeiro lar. Mas, no Prata, a versão que ficou, e que passou a integrar o folclore da cidade, foi a seguinte: como Palmeira tinha uma falha grande na dentição superior, eu teria pedido a meu pai para fazer uma dentadura para a mula. Ele teria se negado a fazer a dentadura, e Palmeira, chateada com isso, teria nos deixado.
Cristóvão Martins Torres
Imagem da infância
Pássaros
A minha infância via um garoto
Via amigos como garotos também
Percebo que não eram só garotos
Era apenas um pássaro com outros pássaros
Que eram garotos.
Brincávamos na rua como numa floresta
Brincando criando seus caminhos
Certos ou não.
Percebo que não eram só garotos
Era apenas um pássaro com outros pássaros
Que eram garotos.
Brincávamos na rua como numa floresta
Brincando criando seus caminhos
Certos ou não.
O Poeta Ivan Junqueira escreveu: A Flor Amarela, que diz assim; "Atrás daquela montanha tem uma flor amarela / dentro da flor amarela / o menino que você era / porém, se atrás daquela montanha não houver a tal flor amarela, / o importante é acreditar / que atrás de outra montanha / tenha uma flor amarela / como o menino que você era / guardado dentro dela".
"Doação Muda" de livros na Alemanha
Durante o tempo em que morei na Alemanha, tomei conhecimento de uma prática muito interessante: em determinados equipamentos públicos, como praças, parques etc., a prefeitura coloca à disposição da população estantes, nas quais as pessoas podem deixar os livros que já leram, para que outras pessoas peguem...
Fiquei impressionado com essa iniciativa, uma espécie de "doação muda"*, que faz com que a circulação de livros aumente, e, o melhor de tudo, a custo zero...
Perto da residência onde eu morava havia uma dessas estantes, e pensei então em colocar alguns livros que tinha levado para a leitura durante minha permanência. Exitei, pois não sabia se haveria interesse em livros escritos em português. Resolvi porém. arriscar, e coloquei na estante três livros que havia levado, e já terminado de ler...
Para minha surpresa, algumas semanas após ter colocado os livros na estante eles não estavam mais lá...Algum leitor ou alguns leitores de língua portuguesa os haviam levado. Não tenho como saber quem os levou: pode ter sido um ou alguns leitores brasileiros, portugueses, naturais de outro país de língua portuguesa ou mesmo algum alemão ou natural de outro país que tenha português como sua segunda língua...Jamais saberei. O que sei é que essa interessante iniciativa tornou possível que eu compartilhasse, na Alemanha, livros em língua portuguesa.
Abaixo, registro do dia em que coloquei um dos livros na estante.
*utilizo o termo "doação muda" sob inspiração do "comércio mudo" que havia em alguns povos antigos; nessa forma de comércio, um grupo deixava os bens que queria trocar em um local, e então saía. Um segundo grupo vinha e depositava os bens que queria ofertar em troca dos bens ofertados pelo primeiro grupo, depositando-os no mesmo local. Após a saída do segundo grupo, o primeiro grupo voltava e estudava a oferta do segundo grupo; se aceitasse a oferta, pegava os bens ofertados e ia embora; se negasse, pegava os seus bens de volta e ia embora.
Fiquei impressionado com essa iniciativa, uma espécie de "doação muda"*, que faz com que a circulação de livros aumente, e, o melhor de tudo, a custo zero...
Perto da residência onde eu morava havia uma dessas estantes, e pensei então em colocar alguns livros que tinha levado para a leitura durante minha permanência. Exitei, pois não sabia se haveria interesse em livros escritos em português. Resolvi porém. arriscar, e coloquei na estante três livros que havia levado, e já terminado de ler...
Para minha surpresa, algumas semanas após ter colocado os livros na estante eles não estavam mais lá...Algum leitor ou alguns leitores de língua portuguesa os haviam levado. Não tenho como saber quem os levou: pode ter sido um ou alguns leitores brasileiros, portugueses, naturais de outro país de língua portuguesa ou mesmo algum alemão ou natural de outro país que tenha português como sua segunda língua...Jamais saberei. O que sei é que essa interessante iniciativa tornou possível que eu compartilhasse, na Alemanha, livros em língua portuguesa.
Abaixo, registro do dia em que coloquei um dos livros na estante.
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