Todo mundo quer virar palestrante. Qualquer um já tem uma palestrinha preparada. O sonho de todo freqüentador de palestras ( o palestrita ) é um dia estar no palco falando para as multidões. Uma nobre missão, sem dúvida. Mas, e o preço que precisamos pagar por ela para a realizarmos com ética ?
Como é possível quem nunca assumiu milhões de reais como meta de vendas se meter a ensinar dirigentes comerciais a serem bem sucedidos ? E o que não falta é palestrantes com a fórmula dos campeões de vendas.
Como é possível quem nunca liderou equipes, empresas, corporações. Quem nunca passou por reais “ turnaround’s” na vida, na profissão e nas organizações, atrever-se a dar ensinamentos sobre os mandamentos que criam líderes ?
Como imaginarmos quem nunca teve sucesso real em nada, escrever cartilhas sobre os segredos do sucesso na vida ? Se até Nietzche que tentou de tudo para decifrar os códigos da vida acabou se suicidando ?
Agora ta na moda: superou as dores de uma unha encravada já quer ser celebridade. O acaso marcou encontro da sua barraquinha de pipoca com um jornalista sem ter nada o que escrever naquele dia, e ele escreveu na sua coluna que o pipoqueiro o Zé Pipoca é o máximo do marketing por que no saquinho estava escrito “ eu amo meus clientes ! “ La foi pra mídia e para os blogs conectores. Como dizia Raulzito, o nosso Seixas : “ até que parece sério, mas é tudo armação, tem muita estrela para pouca constelação “ O cara copia frases famosas, cola trechos de livros, dá uma geral num programinha de programação neuro-linguística ( enquanto o Grinder e o Bandler saltam furiosos das suas escrivaninhas la nos “ states “)
Então estamos vivendo uma inflação de palestrantes no Brasil . E estamos exportando também. Tem gente pagando pra fazer palestra. Tem agentes que estão oferecendo serviços para lançar palestrantes à módicos custos de seus serviços. Tem palestrante que inventou palestras sobre como você se transformar num palestrante bem sucedido. E tem palestristas que pagam, aplaudem e explodem de alegria, dando saltinhos pra cá, pulinhos pra la, pegando na mão e vamos la.. todo mundo trocando cartão... “ relationship é tudo “. Agora vamos ver de verdade : qual é o preço que você já pagou para ter o direito ético de falar sobre rumos e métodos para seres humanos ansiosos por caminhos nas suas vidas, profissões e empresas ? Basta ter vivência real, experiência de verdade, ser um existencialista confesso ? Isso dá legitimidade, mas não confere ainda “ autoridade “ Precisa ter mergulhado fundo no estudo. Quantas horas de escrivaninha ? Quanto tempo estudando ? Quais seus reais diplomas ? Tem teses ? São essas teses amparadas por instituições acadêmicas acima das suspeitas dos diplomas “ comprados “ ? Escreveu quantos livros ? Esses livros foram escritos pela pessoa ou por “ ghost writers “ contratados ? Suas publicações são lastreadas em pesquisas ? Em experiências comprovadas que permitam algum nível de generalizações ?
Tem mais palestrantes do que palestristas ! Todo dia alguém me pergunta : Tejon como faço para virar um palestrante ? como faço ?
O que posso dizer ? Faça. Comece a falar, acumule calos de apresentações gratuitas. De aulas por muitos anos. Fale para os seus funcionários, para os seus pares. Afinal quem não consegue ser ouvido nem pelos colegas do seu próprio trabalho como espera ser ouvido pelos de outras empresas ? Quem não é bom no time da rua onde nasceu não será bom só por que mudou de rua ! Agora, vamos botar a cabeça no travesseiro da dignidade e da ética. Que direito, que autoridade, que reputação, que legitimidade tenho eu, para ter o direito de ser ouvido pelos outros ? Onde estou e o que preciso fazer para obter esse direito ? Quantos anos de trabalho, de estudos, de experiências, de horas de vida dedicadas à causa do conhecimento e da arte da comunicação ? A auto-crítica é o que separa palestrantes sérios daqueles que estão de olho numa grande jogada ególotra comercial. Agora, cabe cada vez mais aos contratantes de palestrantes o dever de separar e de discernir sobre qualidade, conteúdo, pertinência e real contribuição evolutiva de um palestrante para suas equipes e pessoas envolvidas.
Falar todo mundo fala . Aliás alguns ótimos palestrantes de verdade dão show por que eram gagos. Para dar a virada, a volta por cima, estudaram tanto e se esforçaram tanto que falam como poucos. Agora se falar todo mundo fala, o que falar? O conteúdo da fala é o que vai separar a pipoca do grão não pipocado do saquinho do seu Zé Pipoca, aquele que ama todos os seus clientes...
Contratantes, atenção, tem mais palestrantes do que palestritas. Peneira neles !
José Luiz Tejon : Prof Pós Graduação da ESPM e FGV
Mestre em Educação e Cultura pela Universidade Mackenzie.
Presidente da TCA Internacional. Dirigiu empresas líderes e enfrentou desafios complexos.
Levou mais de 30 anos de experiências reais e acadêmicas para colocar no seu curriculum :
Palestrante com muita honra !
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