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Depois de um período de forte crescimento, a economia da China está agora desacelerando.
Até 2010, o PIB (Produto Interno Bruto, a soma de bens e serviços produzidos por um país) cresceu em média 10% ao ano durante três décadas.Mas desde então a atividade econômica perdeu força. No ano passado, a economia chinesa cresceu 7,4%. Segundo a previsão mais recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB do país deve registrar alta de 6,8% neste ano e 6,3% em 2016.
Mas por que isso é importante?
Por que a economia da China está desacelerando?
O governo queria uma retração, e, de certa forma, a incentivou porque há forças de longo prazo que, inevitavelmente, produziram tal resultado.
O melhor dos mundos é que o gigante asiático obtenha uma desaceleração moderada ─ chamada de "aterrisagem suave" ─ do que uma abrupta.
Além disso, o rápido crescimento econômico do país era baseado em alguns fatores que não durariam para sempre.
Níveis de investimento muito altos têm papel fundamental nessa história.
No ano passado, eles respondiam por 48% do PIB, segundo estimativas do FMI.
Para efeitos de comparação, no mesmo período, no Brasil, essa proporção era de 19,7%, abaixo do que os especialistas recomendam para um crescimento sustentável da economia (em torno de 25%).
Há poucas economias no mundo onde essa taxa se mantém tão alta.
Na maioria dos países, como o Brasil, o número varia entre 15% e 30%.
O investimento é certamente essencial para ampliar a capacidade da economia no futuro.
Na prática, altas taxas de investimento são um fator importante por trás das histórias de sucesso de muitos países asiáticos.
Mas é quase impossível mantê-las a um nível tão alto por tanto tempo.
Há sempre um risco com os investimentos em larga escala: alguns projetos podem ser antieconômicos.
Forte investimento em construção, por exemplo, pode criar instabilidade nos preços dos imóveis, e, atualmente, há preocupações persistentes sobre se haverá uma crise imobiliária na China.
Sendo assim, o objetivo do governo é fazer com que o consumo das famílias chinesas desempenhe um papel mais preponderante na economia, o que conta com o apoio do FMI.
Um relatório da instituição concluiu em 2012 que o nível de investimento chinês estava muito alto.
Há também o limite de oferta de novos trabalhadores que saem do campo em direção às cidades.
O FMI alertou que a China poderia enfrentar uma escassez de trabalhadores, parcialmente por causa da política de filho único vigente no país.
O que aconteceu com as exportações da China?
Exportações de produtos muito baratos foram fundamentais para explicar o crescimento formidável da China.
Da virada do século até 2011, em apenas dois anos as vendas externas do país não cresceram mais do que 10% anualmente.
Desse período, em seis anos, as exportações chegaram a registrar alta superior a 20%.
As exceções foram 2008 e 2009, quando os principais destinos das vendas chinesas no Ocidente foram atingidos em cheio pela crise financeira.
Desde 2011, no entanto, as exportações chinesas vêm sendo mais modestas, caindo para 6,4% no ano passado.
O bom desempenho das vendas do país para o exterior, no entanto, é alvo de críticas, especialmente dos Estados Unidos.
Estudos afirmam que emprego e salários foram afetados na indústria americana exposta à competição com produtos feitos na China.
O saldo comercial ─ a diferença entre exportações e importações ─ também é visto por alguns especialistas como um sinal do desafio que o país representa para a indústria manufatureira em nações desenvolvidas.
Mas observando um único dado ─ o superávit em conta corrente ─ essa situação se moderou.
Essa é uma medida das transações da China com o resto do mundo, e não com um país específico.
Como proporção do PIB chinês, esse superávit atingiu 10% em 2007. No ano passado, contudo, foi de 2%.
Em termos financeiros, o saldo ainda é alto, em torno de US$ 200 bilhões (R$ 600 bilhões).
Qual será o impacto da desaceleração da China para todos nós?
A China não só exporta, mas importa muito. Essa é uma das razões por que uma atividade econômica mais enfraquecida importa para o resto do mundo.
O gigante asiático é, atualmente, o segundo maior importador de produtos e serviços comerciais, atrás dos Estados Unidos.
É também o principal destino das exportações da Tailândia e ocupa o segundo lugar para países como Indonésia, África do Sul, Brasil e Japão – nos dois últimos, não está longe da primeira posição.
A China é, ainda, o terceiro maior mercado para a União Europeia (formada por 28 países) e o quarto principal destino das vendas do Reino Unido e dos Estados Unidos.
O país é um ávido consumidor de petróleo e de outras commodities, e a desaceleração do país está por trás da queda do preço internacional desses produtos nos últimos meses.
Assim, apesar de o crescimento mais moderado da China ser benéfico a longo prazo, o menor apetite do gigante asiático tem um impacto negativo para muitos países, especialmente os chamados "exportadores de commodities", como o Brasil, por exemplo.
Há também a possibilidade de que a instabilidade financeira da China se espalhe pelo mundo.
Desde a crise financeira, a dívida do país tem crescido rapidamente.
Um relatório recente do FMI mostrou preocupação sobre o mercado imobiliário e como isso poderia afetar empresas que fizeram empréstimos vultosos a esse setor.
"Na China, exposições aos imóveis [excluindo hipotecas] estão a quase 20% do PIB, e uma instabilidade financeira entre empresas do setor pode causar efeitos nocivos diretos fora de suas fronteiras", informou o estudo.
Qual é o tamanho da economia chinesa?
Dependendo de como se analisam os números, a China é hoje a maior ou segunda maior economia do planeta.
A variação se deve ao fato de que, para comparar o tamanho de economias, é preciso converter os números em uma mesma moeda.
Normalmente, a divisa usada é o dólar americano, e há duas maneiras que os economistas fazem isso.
Uma é converter valores usando a taxa de câmbio; a outra consiste em um método chamado paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês), que tende a ser mais preciso, pois corrige as distorções de preço.
No ano passado, a China ultrapassou os Estados Unidos em paridade do poder de compra.
Se a primeira medida for usada, contudo, o gigante asiático ainda permanece em segundo lugar. Por essa ótica, a economia chinesa vale cerca de US$ 10 trilhões (R$ 30 trilhões).
Para efeitos de comparação, os valores são de US$ 17,4 trilhões para os EUA, US$ 4,6 trilhões para o Japão, US$ 4 trilhões para a Alemanha e US$ 3 trilhões para o Reino Unido. Na lista, o Brasil aparece com US$ 2,3 trilhões.
Em termos per capita ─ o que dá uma indicação mais clara do que aconteceu com os padrões de vida ─ a China avançou 1.300% de 1980 a 2010.
É preciso salientar, no entanto, que nesses termos, a China ainda permanece muito distante dos países ricos.
O PIB do país pode ser muito alto, mas sua população é imensa.
Em PPP, o PIB da China por pessoa equivale a um quarto do dos Estados Unidos e a um terço do Reino Unido. Também é menor do que o do Brasil.
Essa lacuna, no entanto, está se estreitando.
A luta contra a corrupção impulsionada pelo presidente Xi Jinping teve um impacto na economia chinesa?
Alguns dizem que sim.
Um relatório do Bank of America Merrill Lynch sugeriu que autoridades chinesas estariam mais relutantes em aprovar projetos pelo risco de serem acusadas de corrupção.
Rumores também indicam que essa mudança de postura do governo chinês também teve um impacto em hotéis e restaurantes.
Mas mesmo se tiver havido um impacto a curto prazo, há uma visão generalizada entre os economistas que a corrupção tem efeitos negativos a longo prazo.
O título de um estudo do Banco Mundial em 1999 traz consigo o próprio questionamento: "Corruption in Economic Development: Beneficial Grease, Minor Annoyance, or Major Obstacle?" (Corrupção no Desenvolvimento Econômico: Gordura Benéfica, Pequeno Contratempo ou Grande Obstáculo?", em tradução livre)
A conclusão era de que a corrupção se tratava de um grande obstáculo.
A prática encoraja o excesso de gasto público, e distorce a maneira pelo qual ele deve ser usado. As verbas deixam de ser aplicadas em saúde e educação, por exemplo, para serem direcionadas a projetos públicos menos eficientes.
Também inibe o investimento privado ─ embora o investimento insuficiente não seja atualmente um problema na China.
O que devemos esperar para os próximos meses?
As autoridades chinesas divulgam dados econômicos a cada três meses.
No primeiro trimestre deste ano, a economia da China cresceu 7% em relação ao mesmo período do ano anterior e 1,3% sobre os três últimos meses de 2014.
Mas há muito ceticismo sobre a confiabilidade das estimativas oficiais.
Diana Choyleva, da consultoria Lombard Street Research, acredita que o PIB chinês tenha registrado queda de janeiro a março deste ano.
A desaceleração da economia chinesa será um dos principais assuntos dos grandes eventos internacionais de política econômica do ano: a cúpula do G20 na Turquia em novembro e o encontro anual do FMI em outubro, que será realizado no Peru.
Certamente, a menor atividade econômica da China será um fator-chave no cenário global por muitos anos e afetará todos nós.
A expectativa do resto do mundo, entretanto, é de que a China possa alcançar a tão sonhada "aterrisagem suave".
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