Odeio o ódio a ponto de descrever esta metáfora de Edgard Allan Poe.
Fora preso em Toledo por ordem dos santos prelados inquisidores a serviço da Igreja Católica, Apostólica, Romana.
Posto num beco tétrico, baixo, de pouquíssimos metros quadrados. Obviamente, sem luz. Vez ou outra uma mão invisível depositava por uma fresta um prato de comida repelente, para sobreviver algumas horas ou dias ao suplício. Mandá-lo logo ao inferno seria um prêmio.
Sobre sua cabeça, um pêndulo de lâminas cortantes, que girava, desciam e tornavam-se cada vez mais próximas de sua cabeça.
No centro do cubículo, um poço preto, fétido, repleto de gigantes ratazanas famintas.
Haveria um momento à opção derradeira, enquanto mais se abaixava. Ou a amputação da garganta ou a paulatina corrupção de partes de seu corpo pelos animais repelentes.
Os minutos eram programados para passarem lentamente e aumentar o sofrimento.
Impossível qualquer outra resistência, nosso homem rendeu-se. Por força do instinto da sobrevivência, atirar-se-ia no poço inominável. Mais vida, por pouco e infame tempo.
Essa é a melhor fotografia do ódio, desde o doméstico até os que impulsionam as grandes guerras. Corresponde às fisionomias engurujadas de homens e mulheres tomados por essa emoção torpe.
No momento de atirar-se, mãos fortes o tiraram da agonia. Pertenciam ao General Lasalle, que invadira a Espanha, aprisionara os bispos justiceiros e libertara a Espanha da Santa Inquisição. O ódio fizera seus costumeiros ultrajes, que felizmente ficaram limitados ao mundo psicológico de Poe.
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