Algumas nações escaparam de suas crises por meio do aperfeiçoamento das relações entre os homens, produto, principalmente, da arte. Fernando Pessoa foi um dos indutores dessa solução, num momento aflitivo de Portugal.
A arte penetra em terreno mais profundo que o do mundo empírico. Supera o mundo dos fenômenos materiais, das aparências. Aparência porque vê-se o fato e, como sua causa, apenas o imediatamente antecedente. Não suas causas, que são, também, desbordantes do estreito espaço e do curvo tempo.
O aprimoramento da forma, a indagação das fontes primeiras, são meios que amenizam as crises. Mostram ao homem que sua guerra no mundo material é grotesca; em geral, motivada por posições econômicas, políticas etc, que, se importantes, em geral são equivocadas. Talvez por isso os poetas não são afetos aos Partidos Políticos, porque, neles, quem discrepa da cartilha pode ser expulso, ainda que suas convicções mais profundas sigam de embrulho. Mas os Partidos Políticos - e o futuro há de confirmar - não são os únicos instrumentos de representação do povo numa história caracterizada pela evolução e mutações.
A forma incisiva do poema penetra fundamente nos fenômenos e os derrete. O mundo imperceptível da vontade cósmica, contudo, só é visto por poucos, que se dispõem a vê-lo, primeiro pela parte, depois sob a ética. Conjugadas, arte e ética transformam uma nação.
Infelizmente, vemos no Brasil de hoje absolutamente desprezo por elas. A solução é o desenvolvimento e a criação de empregos, a qualquer custo; ainda que o custo esteja óbvio nas iniquidades de uma lei que desfez um século de doutrina do direito do trabalho e resulta em miséria e tristeza.
Por outro lado, nossos interlocutores sociais dispuseram-se a brigar no fundo de um poço. O desprezo pela forma - a linguagem errada, embrutecedora, ofensiva - de nossas redes sociais demonstram que estamos mais num cabaré de segunda classe em final de noite que numa nação potencialmente construtiva.
E o embate tosco, sem nenhuma arte e engenho, não fica apenas entre os pequenos. Hoje lemos com dissabor matéria jornalística de uma ilustre e respeitada autoria em agressão de cunho pessoal e repugnante ao Presidente do maior Tribunal de Justiça da América Latina; o "gancho" foi mais seu nome, no contexto do artigo, do que o assunto posto em debate. Lamentável.
Vamos crescer, apesar de tudo isso, dizem os indicadores. Menos pior, mas não nos iludamos; aqueles que desejam uma nação em que comer, beber e dormir não são seus únicos elementos, conhecem a relevância do universo imaterial a que nos referimos.
Amadeu Garrido de Paula
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