Menildo Jesus de Sousa Freitas, contador, professor da Faculdade Milton Campos, mestre em ciências contábeis, membro da Academia Mineira de Ciências Contábeis e perito contador do Ministério Público da União
A história é pródiga em reunir e mostrar diversos casos ilustrativos da situação aqui posta, principalmente, episódios em que o negacionismo da ciência se fez presente. Dentre eles, cito a seguir apenas dois. O primeiro remonta ao século XVII, quando o astrônomo e físico Galileu Galilei foi condenado no Tribunal da Santa Inquisição, pesando-lhe a acusação de defender ideias de Nicolau Copérnico, que afirmava que o nosso planeta girava em torno do sol. Considerado herege, Galileu foi obrigado a rejeitar ideias heliocêntricas para se eximir de pena capital. Já o segundo caso se refere a revolta da vacina de 1904 no Brasil, ou, mais remotamente, ao período em que o vírus a ser combatido era o causador da varíola – doença que hoje já se encontra erradicada. Naquela época, o governo imperial chegou a disponibilizar a aplicação gratuita da vacina, mas grande parte da população a recusou, contribuindo para que surtos da doença fossem recorrentes.
Não é tarefa simples manter uma discussão quando a outra pessoa, o interlocutor, não permite a expressão total do pensamento, interrompendo sem dar ao menos ouvidos ao que lhe é dito, mas, ao contrário, opõe-se a tudo, sem ter ou expor fundamentos lógicos, até tangenciando o cerne da questão posta, agindo assim apenas por ouvir dizer ou por ouvir falar. Qualquer discurso pode trazer verdades ou inverdades. No entanto, caso os fundamentos em que se baseiam um objeto ou a opinião exposta, carreguem provas irrefutáveis ou comprováveis, os mesmos tornam-se tenazes colunas que não podem ser derrubadas, em que pese a terrível força da ignorância – ou poder – e sua triste e nefasta disseminação.
É certo que a humanidade evoluiu e está em constante processo de mudança, mas também é certo que a evolução poderia ter ocorrido de forma mais célere e pacífica, se não houvesse a falta do saber, principalmente de conhecimento embasado na ciência. Esse atraso, hoje em dia como dantes, ainda se deve a interesses diversos e até mesmo mal-intencionados, que são pautados pela busca deliberada de conter e reverter o movimento evolutivo social de elementos que podem interferir em contextos políticos, posição social ou outras situações.
A informação útil, baseada em fatos e comprovável, assim como a inverdade, sem fundamento fático, amparada apenas em achismos e disseminada por pura ignorância ou até maledicência, transitam com a mesma velocidade, notadamente utilizando-se dos meios de comunicação postos à disposição da sociedade moderna.
Em relação as mídias sociais, na qual muitos se valem para copiar e divulgar informações, geralmente escolhendo a dedo aquilo que entendem ser apropriado, segundo as circunstâncias que se lhes apresentam, se faz útil a reflexão de Jean-Paul Sartre em seu livro O existencialismo é um humanismo: “fazer a escolha por isto ou aquilo equivale a afirmar ao mesmo tempo o valor daquilo que escolhemos, pois não podemos nunca escolher o mal; (ou pensamos estar agindo assim); o que escolhemos é sempre o bem, (ou pensamos estar agindo assim) e nada pode ser bom (ou mal) para nós sem sê-lo para todos”. O filósofo ainda afirma, corroborando com o retro exposto, que nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela envolve a sociedade como um todo.
Não deveria ser suficiente impor à sociedade ou a alguém, especificamente, que proceda assim ou com tal objetivo. Faz-se necessário que a sociedade ou determinada pessoa, tenha ciência e entenda plenamente o motivo e o objetivo a atingir. Assim, se a sociedade ou um indivíduo buscar este ou aquele objetivo, sem total discernimento daquilo que se busca e porque se busca – ou seja, se cada um não souber expressar claramente as razões, o porquê e de que forma está engajado –, haverá consequências ou resultados com certeza. Entretanto, neste caso, a realização pessoal de cada um daqueles que se deixa levar apenas pela imposição de um ou de alguns, recairá não na própria satisfação ou concretização de um desejo personalíssimo, mas no contentamento ou efetivação do desejo de um ou de poucos beneficiados ou manipuladores.
O embate, mais do que nunca, é necessário e deve se dar por meio da contínua promoção da educação formal e de qualidade, por dever constitucional do Estado e por meio de órgãos de comunicação, que se mostrem sérios e comprometidos com a difusão de fatos comprovadamente ocorridos. Esse compromisso também compete a cada um de nós, que ao adquirimos o devido saber acerca de um fato, objeto ou matéria posta em discussão e questionado por alguém, devemos transmitir e difundir esse conhecimento, desde que a emissão de opinião ou exposição, possua o devido sustentáculo na ciência e no conhecimento comprovado. Somente desta maneira, será possível sobrepor a luz do saber às trevas da ignorância, como de fato, felizmente tem ocorrido, ainda que com percalços.
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