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Ouro Preto
19 de abril de 2023Por Lucas Porfírio
Pela primeira vez, o Brasil comemora, nesta quarta-feira (19/04), o “Dia dos Povos Indigenas”. Até o ano de 2022, a data era conhecida como “Dia do Índio”. A mudança foi oficializada em julho de 2022 com a aprovação da Lei 14.402, uma vez que a palavra “índio” é genérica e não considera a diversidade dos povos originários.
Para além de celebrar os povos indígenas, a data é marcada pelas lutas dos povos originários. Conforme explica o cacique Danilo Borum Kren, líder do Coletivo Borum Kren, grupo indígena da Região dos Inconfidentes em Minas Gerais, historicamente as populações indígenas brasileiras se mobilizam reivindicando direitos.
“O Ailton Krenak fala que os mundos ainda estão em guerra. Então, esse processo da colonização não acabou. Existe sim um processo de genôcidio, tanto cultural quanto de exterminar fisicamente os povos indígenas”, afirma o cacique Danilo Borum Kren.
Povo Borum Kren luta por territorialidade
Originário de Ouro Preto, o povo indígena Borum Kren, luta para ter seu território reafirmado. “A reafirmação do território faz com que o povo consiga um espaço de referência para que essa cultura exista. O nosso povo é originário de Ouro Preto, mas o nosso território não é reafirmado. As dificuldades que nós temos a nível federal são justamente por isso. Quando você reafirma, delimita um espaço, você vai contra os interesses de destruir, sugar o território”, diz Danilo.
O cacique explica que o Governo Federal é responsável pela reafirmação dos territórios indígenas. De acordo com ele, no que compete ao nível municipal, o povo Borum kren tem conseguido avanços. “Às vezes, enfrentamos alguns problemas a nível estadual. Uma característica de Minas é que todo povo originário do estado foi considerado extinto. Então, o povo tem que fazer um processo para mostrar que é vivo, de retomada, o que chamamos de ressurgência”, completou.
Apesar de não terem o território reafirmado, uma casa de referência em Ouro Preto, o povo Borum kren resiste ao apagamento histórico. “Eu sempre falo, nós somos o sangue dessa terra. Mas, é uma terra de ferro e a nossa resistência é de aço. Então, essa é a nossa luta. O apagamento histórico é a realidade de vários povos indígenas de Minas, mas é a realidade de vários outros também”, afirma o líder indigêna.
Movimento de ressurgência
O povo Borum Kren é originário do Alto do Rio Doce, do Alto do Rio das Velhas e Alto do Paraopeba. Danilo conta que muitas pessoas ainda possuem medo de se declarar indígena por causa da violência do passado ou, até mesmo, por não se reconhecerem por causa do apagamento histórico que mantém a visão romantizada do indigena do século XVI.
“O indígena naquela visão romantizada do passado, na realidade, nem nunca existiu. A gente tá lutando agora para mostrar como é o indígena pode ser uma pessoa comum, que tem ancestralidade do povo da terra, que luta no dia a dia, trabalha, estuda, corre atrás e que tem o sangue do povo desta terra”, diz Danilo Borum Kren.
Em Ouro Preto, ainda não há um senso de quantos indígenas Borum krem existem no território. Para o cacique Danilo Borum Kren, uma das justificativas para isso é que ainda existem muitas pessoas que são indígenas, mas ainda não sabem e não conhecem o processo de retomada e ressurgência.
“Lutar contra o apagamento é falar que existe um povo que está vivo, forte e que tem lutado para manter a cultura através dos séculos, mesmo com os 210 anos de violência oficial no nosso território. Divulgar cada vez mais para as pessoas saberem do processo de ressurgência, poder vir até a gente fazer parte do coletivo e somar forças”, finaliza Danilo.
Jornal O Liberal
Região dos Inconfidentes
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