04 de outubro de 2023
Projeto foi patrocinado pela Prefeitura Municipal de Ouro Preto
Por Lucas Porfírio
“O que uma escola do interior de Minas Gerais tem a ver com o mar?” Essa é a pergunta que abre o documentário “Histórias Transatlânticas: o mar como território da Arte e Patrimônio Cultural Afro-brasileiro”, desenvolvido na Escola Municipal Aleijadinho, em Santo Antônio do Salto, distrito de Ouro Preto.
O projeto, idealizado pela professora de Artes, Dalila David Xavier, no dia 29 de setembro, recebeu o prêmio “Arte na Escola Cidadã”, na categoria Fundamental II (6° ao 9° ano), considerado o maior prêmio de arte-educação do Brasil, e promovido pelo Instituto Arte na Escola.
Para Dalila, que tem toda a sua trajetória educacional na educação pública, ser a melhor professora de artes que pode ser, é retribuir à sociedade brasileira: “O prêmio pra mim tem dois significados muito importantes. O primeiro é o reconhecimento da importância da arte na educação. A arte ainda é uma disciplina muito desvalorizada nas escolas. E o outro significado é de perceber que a gente não está sozinho, porque viemos de um momento em que a educação pública estava sendo muito atacada nos quatro últimos anos. Então, esse prêmio só vem reforçar que tem muitos professores com práticas bacanas”.
Ao todo, mais de 500 projetos inscritos concorreram à premiação. Projetos estes, que trazem discussões e práticas transformadoras. A iniciativa da professora Dalila ultrapassou as fronteiras da sala de aula. Os alunos, do sexto ao nono ano, da Escola Municipal Aleijadinho, em novembro de 2022, realizaram um passeio curricular para a cidade do Rio de Janeiro, onde puderam conhecer, além do mar é claro, o Circuito de Herança Africana, criado pelo Instituto Pretos Novos, em 2016.
Dalila explica que o projeto “Histórias Transatlânticas” surgiu de um sonho que possuia de poder proporcionar para os seus alunos a experiência estética e sensorial de ver o mar pela primeira vez, algo que não era possível dentro da comunidade. “Toda a experiência estética e sensorial é fundamental na formação de artistas. Eu acho que a escola também tem esse papel de mostrar para os alunos que um outro mundo é possível e de ampliar o horizonte, que eles entendam que, assim como é importante valorizar a comunidade deles, também é importante que eles saiam”,completa a professora.
Desenvolver o projeto foi uma responsabilidade grande, afinal sair com dezenas de estudantes de uma escola do interior de Minas Gerais para outro estado é uma tarefa árdua. E apesar dos desafios, os resultados foram gratificantes. No Rio de Janeiro, os alunos tiveram a oportunidade de compreender o processo da diáspora africana e sua influência na formação da sociedade brasileira, para além dos ensinamentos da sala de aula.
A professora de artes ressalta que é papel de todo educador trabalhar a cultura afro-brasileira nas escolas. “Sobretudo para aqueles que trabalham com arte. A arte existe para que a gente possa pensar no mundo em que a gente vive, ela não é uma mera diversão. Ela é uma ferramenta de pensamento crítico, de formação. É muito importante a gente pensar sobre o silenciamento que a cultura afro-brasileira sofreu em nosso país. Quando a gente reconta a história dessa população, um outro lado da história, a gente tá quebrando todos os padrões, com essas correntes invisíveis que tiram a oportunidade de muitas pessoas, inclusive de crescerem. Tem a ver com o resgate da autoestima dos nossos estudantes, que são em maioria meninos e meninas pretos e pretas, autonomia e de saber que a gente não pode ter uma visão reducionista e preconceituosa”, acrescenta Dalila.
A jornada dos alunos até o Rio de Janeiro pode ser assistida no curta disponível no canal do YouTube da Escola Municipal Aleijadinho.
Jornal O Liberal
Região dos Inconfidentes
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