Desse homem
conheço numerosos fatos notáveis, mas nada é mais digno de admiração do que a
maneira como enfrentou a velhice.
Todas as
pessoas desejam viver muito, mas, quando ficam velhas, algumas se lamentam
muito.
Certa
ocasião, perguntei a meu pai se desejava viver muito tempo, ele
respondeu:
- nada tenho a reprovar em relação à velhice, os frutos dela são todas as lembranças que adquiri do passado;
- os velhos não devem se apegar, nem renunciar ao pouco de vida que lhe resta, porque ninguém é bastante velho para não viver vários anos a mais;
- saber distribuir o tempo é saber aproveitá-lo;
- as pessoas agradáveis suportam facilmente a velhice; o temperamento e a beleza estão em todas as idades;
- toda idade tem seu prazer e sua virtude. Não é a força nem a agilidade que marcam as grandes façanhas de um homem. O que importa é a maneira de pensar, a sabedoria, a humildade, o discernimento, a honestidade, a bondade e a verdade;
Portanto,
meu Pai acreditava ser o ser humano a origem e o fim de todas as coisas na
sociedade. Ele entendia que as pessoas, através do estudo e trabalho, buscam a
sobrevivência e o crescimento da espécie.
Gostava de
dizer: velho sim, velhaco jamais.
Enfatizava
que chegou àquela idade tendo permanecido ativo, trabalhado sem descanso desde
novo, sobretudo porque tinha perdído seus pais muito cedo, criado sua familia,
participado do processo da construção do Colégio Marques Afonso e cultivado o
caminho do bem.
A
construção do Colégio foi uma boa lembrança que carregava consigo. Sentia que
ela tinha propiciado às pessoas, desde o mais humilde ao mais abastado,
sentarem-se lado a lado e terem as mesmas oportunidades na vida.
Seu grande sonho e desafio foi diminuir as
desigualdades através da educação. Acreditava que não há limites para os sonhos
e não importa o tamanho do seu sonho, o importante é acreditar.
Ele dizia que a razão que o motivou a lutar pelo
colégio naquela época foi ter observado que muitos pais não tinham
condições financeiras de manterem seus filhos estudando fora do
prata.
Sua alegria foi muito grande
ao perceber que, depois de construido, dentre os primeiros alunos matriculados
no colégio havia não só pessoas do Prata, mas também de cidades
vizinhas.
Fazia questão de ressaltar que tinha aprendído com sua
esposa Auxiliadora, minha mãe, que o que fazemos de graça recebemos em
graça.
Meu pai
exerceu seu ofício com profissionalismo, dedicação, amor e respeito aos
clientes.
As lembranças das coisas boas que realizou o
confortaram muito na velhice. Dizia que seus cabelos brancos e suas rugas eram a recompensa de um
passado exemplar que teve e concluia afirmando:
"assim como
o bom vinho, as boas ações que praticamos no passado não azedam com o passar do
tempo; Deus nos fornece, aqui na terra, um hotel provisório e não um domicilio
definitivo".
Essas são as lembranças que tenho do meu Pai, Benjamim
Torres. Guardo com muito carinho a imagem de um homem bom que se sentia muito
bem em fazer o bem, que lutou muito para o bem da coletividade, que nos deixou
muito orgulhosos com seus gestos, e soube envelhecer com sabedoria, embora tenha
partido, continua vivo em meu coração.
Cristóvão
Martins Torres
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