sexta-feira, 13 de maio de 2022

Estudo defende que esclerose múltipla é uma complicação rara de infecção por vírus

Para tentar fazer uma ligação entre o vírus EBV e a EM  foi desenvolvido um estudo entre os militares da ativa dos Estados Unidos.

O vírus Epstein-Barr (EBV) está na origem de algumas doenças. Segundo um estudo desenvolvido pela pesquisadora Sênior do grupo de Neuroepidemiologia do Departamento de Nutrição, da Escola de Saúde Pública T.H. Chan da Universidade de Harvard, Dra. Kassandra Munger, entre essas doenças está a Esclerose Múltipla (EM).

Para tentar fazer uma ligação entre o vírus EBV e a EM, a pesquisadora desenvolveu um estudo entre os militares da ativa dos Estados Unidos. O repositório sérico do Departamento de Defesa armazena amostras séricas, com mais de 62 milhões de amostras de mais de 10 milhões de militares.  A maioria deles com várias amostras coletadas durante a carreira.

A EM é uma doença clinicamente desqualificada entre os militares. A avaliação positiva, feita pelas agências de incapacidade física, acarreta no afastamento do serviço. A pesquisa se baseou na revisão dos prontuários dos profissionais com EM para confirmar o diagnóstico.

O estudo foi desenhado como um caso controle aninhado prospectivo. Foi identificada no prontuário a data de início dos sintomas e a distribuição etária dos militares da ativa no estudo.  A primeira amostra de sangue foi coletada por cerca dos 18 anos, já o início da esclerose múltipla ocorreu por volta dos 28 anos de idade. Nesse grupo foi identificada um coorte EBV-negativo.

Nesse coorte negativo para o vírus, foram dosados anti-corpos nas primeiras amostras disponibilizadas. Os militares ainda tiveram amostras de sangue testadas novamente usando o ensaio de Western Blotting. Nesses profissionais avaliados no estudo, 35 casos deram negativo no período basal e 107 eram EBV-negativo no período basal. Aqueles que não desenvolveram EM, mas tiveram infecção primária por EBV, a taxa de infecção foi mais baixa do que naqueles que desenvolveram a doença.

Na terceira mostra, cerca de 60% dos controles haviam soroconvertido, em comparação a cerca de 100% dos casos de EM. Nessa fase foi usado um vírus controle ou citomegalovírus (CMV), que é semelhante à propagação. Foi observado a soroconversão entre os negativos na linha de base para CMV.

A taxa de soroconversão foi similar em ambos os grupos e os casos CMV-negativos com ou sem EM tiveram a taxa de soroconversão igual infecção primária por EBV ligada a um risco 32 vezes maior de EM, em comparação àqueles que permaneceram com EBV-negativos. Também não foi observado aumento similar nos soroconvertido para CMV.

Há uma possível associação reversa entre infecção do CMV e o risco de EM, mas isso exige mais pesquisas. Devemos considerar outros motivos para um risco 32 vezes maior de esclerose múltipla. Uma explicação são fatores de confusão, pois não há outro motivo que possa explicar esse risco elevado de associação entre EBV e EM. Outros riscos são genética, nutrição, vitamina D, obesidade, tabagismo. E se entre esses últimos motivos há uma associação de risco relativo com a doença, está entre 1,5 e 3, o que não explica um risco 32 vezes maior.

E mesmo o fator de confusão, precisaria de um aumento 60 vezes maior entre a infecção primária por EBV e EM. Nenhum fator atende a essa exigência.

Outra consideração é a causalidade reversa.  A esclerose múltipla aumenta o risco de ser infectado com EBV? Há uma desregulação imunológica geral na esclerose múltipla? Foi medido o nível sérico da proteína neurofilamento de cadeia leve (NfL), que é um biomarcador não-específico de dano neuro-axonal.

Foram analisadas respostas de anticorpos no soro contra o vírus do viroma humano, usando a tecnologia VirScan, onde foram medidos anticorpos humanos contra 110.000 peptídeos de 200 vírus, sendo possível ver a infecção por EBV antes do aumento na NfL, visto na esclerose. Os níveis de NfL não são diferentes nas amostras séricas e EBV-negativas.

Já nos níveis de NfL medidos no mesmo momento ou na mesma amostra, mostra a positividade para EBV. Nas amostras EBV-positivas os níveis de NfL não são diferentes. Os níveis de NfL após infecção por EBV são bem mais altos naqueles com esclerose múltipla.

A variação de NfL interpessoal ao longo do tempo de algumas pessoas que desenvolveram esclerose múltipla tiveram uma amostra coletada após a soroconversão para EBV, demonstrando um aumento de 60% na NfL.  Os níveis de NfL não mudaram nos controles, nem  antes, durante ou após a infecção por EBV.

Amostra pré e pós-início para casos e controles foram comparadas. A resposta dos anticorpos foi mais alta nos casos do que nos controles. Esse é o caso para ambas as amostras pré e pós-início da EM. Com outros peptídeos não há diferença na resposta imune.

Isso sugere algo sobre a resposta imunológica da doença, ou seja, a resposta imune em pessoas com EM é específica para EBV. O número de perfídio do EBV é mais alto em casos x controle. O EBV se sobressai entre todos os vírus testados.

Em conclusão, a EM é uma complicação rara da infecção por EBV. Nenhum outro fator de risco explica a associação entre EM e EBV. A maioria dos casos seria evitado com vacina adequada contra o vírus. O risco de EM tem aumentado por um número de fatores, como tabagismo, nutrição, vitamina D e obesidade infantil.

Não há vacina para EBV. Mudanças comportamentais nesses três fatores evitaria 60% dos casos. A infecção por EBV precede o início subclínico da EM. Há uma resposta imune em amostras pré-clínicas que é direcionada ao EBV. Precisamos pesquisar a vacina e terapias anti-EBV em pessoas com esclerose múltipla. 


Victor Silva e Isabella Dias

Setor de follow up | MF Press Global

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