* Marcelo Alcides C. Gomes
Com o avanço da tecnologia e a crescente utilização de inteligência artificial em diversas áreas, muitos profissionais temem pela perda de seus empregos, inclusive os contadores. Um recente artigo do Blog Tilt do UOL, escrito pelo jornalista Guilherme Tagiarolli (https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2023/04/06/chatgpt-vai-roubar-seu-emprego-estudo-mostra-profissoes-mais-expostas-a-ia.htm), trouxe dados e informações sobre os impactos da utilização do ChatGPT em algumas profissões e como a exposição a nova ferramenta poderia significar o fim de algumas delas em futuro próximo.
O artigo menciona que os contadores e auditores são uma das profissões que têm grandes chances de serem substituídas pela inteligência artificial, no topo do ranking. No entanto, essa não é a primeira vez que a profissão contábil é alvo de temores de perda de emprego devido ao avanço tecnológico.
Em décadas passadas a tecnologia também foi vista como uma ameaça para os contadores. Na década de 80, por exemplo, as empresas começaram a fazer a transição da escrituração contábil das antigas máquinas de contabilidade para grandes mainframes de empresas como a IBM. Na época, esses gigantescos computadores foram vistos como uma ameaça aos contadores que usavam máquinas de somar e papeis de 12 colunas. Não posso deixar de lembrar que uma dessas máquinas que ocupava aproximadamente 200 metros quadrados, equipadas com várias fitas magnéticas e centenas de milhares de cartões perfurados tinham uma memória inferior ao celular que hoje eu carrego no bolso.
Nos anos 90, a popularização das planilhas eletrônicas também gerou temores de que os contadores seriam substituídos por softwares. Lembro-me das expressões incrédulas da equipe da contabilidade do banco em que trabalhava quando conclui a apuração do resultado do mês em 4 horas, trabalho esse que costumava levar 1 dia e meio ou mais.
No entanto, a profissão contábil sobreviveu a essa mudança tecnológica para enfrentar mais uma batalha, na virada do século, com a chegada de novos programas de ERP, como SAP, Oracle e Datasul. A promessa era fantástica. Bastava definir a política contábil a ser adotada e o software faria o resto. E para a história ficaram outras dezenas ou centenas de artigos alarmistas sobre o fim da profissão contábil.
Na última década, a nossa profissão foi desafiada pela “uberização” dos serviços ou ferramentas de inovação que seriam novamente as responsáveis pelo fim da profissão contábil. Chegamos aos anos 20 desse século sãos e salvos com enorme tranquilidade.
Agora, com a chegada da inteligência artificial, os contadores novamente deveriam temer pela perda de seus empregos. No entanto, é importante ressaltar que a tecnologia não necessariamente irá substituir completamente os profissionais contábeis, mas sim modificar as tarefas que eles realizam. Creio que o histórico apresentado acima é um exemplo prático disso.
Precisamos saber, entretanto, que ao utilizarem a inteligência artificial, os contadores poderão dedicar menos tempo a tarefas rotineiras, como lançamentos contábeis, e mais tempo a atividades que exigem habilidades humanas, como análise de dados e tomada de decisões. Além disso, a inteligência artificial pode ajudar a melhorar a precisão dos dados contábeis, evitando erros que podem levar a perdas financeiras para as empresas.
Outro ponto importante a ser considerado é que a tecnologia está sempre mudando e evoluindo, o que significa que as oportunidades de emprego também estão em constante mudança. Novas áreas de atuação podem surgir para os contadores com a chegada da inteligência artificial, como análise de big data e implementação de sistemas de inteligência artificial em empresas.
Além disso, é importante lembrar que a inteligência artificial não pode substituir completamente o julgamento humano e as habilidades interpessoais. As empresas ainda precisam de contadores para interpretar e analisar dados, gerenciar projetos, interagir com clientes e tomar decisões estratégicas.
Por fim, é importante destacar que a inteligência artificial está presente até mesmo na produção deste artigo.
*Por Marcelo Alcides C. Gomes é bacharel, mestre e doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo-UPS. É sócio da prática de Forensic da KPMG no Brasil e lidera a prática de serviços de Consultorias em Disputas; sócio Sênior com histórico comprovado de trabalho em questões contábeis complexas para diferentes setores e em fraude, AML e exame anticorrupção. Tem habilidades em Perícias e Opiniões Contábeis ou Judiciais ou Arbitrárias, Prevenção e Resposta a Fraudes, Gestão e Análise de Riscos e Compliance. Professor Adjunto da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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