Alerta é usado para evitar que Justiça aceite pedido de
cotistas do fundo; banco enfrenta 30 mil ações, mas venceu maioria
A correção das contas do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS) pela inflação pode quase dobrar as taxas de juros
cobradas nos financiamentos habitacionais que usam recursos dessa fonte, diz a
Caixa
Econômica Federal (CEF).
O alerta faz parte da estratégia de defesa do banco contra cerca de
30 mil ações que pedem a correção do FGTS pela inflação, que tem superado
regularmente a Taxa Referencial (TR), usada para fazer a atualização dos saldos
do fundo. Para advogados, desde 1999 os trabalhadores tiveram perdas de até
100%.
Nos últimos dias, a Caixa, presidida por Jorge Hereda, sofreu as primeiras
cinco derrotas, após vencer em cerca de 16 mil decisões. As sentenças favoráveis
colocaram o banco e o Conselho Curador do FGTS em estado de atenção. O banco
deve recorrer.Se o FGTS for corrigido pela inflação, as taxas de juros cobradas no crédito habitacional que usa recursos do fundo subiriam da faixa atual de 6,66% a 8,66% ao ano para uma variação entre 12,5% e 14,6% ao ano, segundo contas apresentadas em um dos processo em que o banco foi derrotado.
No caso de um empréstimo de R$ 100 mil com prazo de 10 anos, o montante de juros pago pelo mutuário saltaria 63%, de R$ 110.894,49 para R$ 180.645,87. Nos cálculos, o banco usou como referência o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Até agora, nos cinco casos em que o banco já foi derrotado, a Justiça obrigou a instituição financeira a utilizar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor comum (INPC) e o IPCA especial (IPCA-E).
As contas da Caixa não indicam quantos mutuários podem ser afetados pela mudança. Para 2014, o orçamento do FGTS prevê investimento de R$ 57,8 bilhões em habitação.
Vinculados
A alta dos juros cobrados de mutuários ocorreria porque a legislação obriga os bancos a usarem, no financiamento habitacional, a mesma fórmula de correção aplicada aos saldos do FGTS dos trabalhadores, argumenta a Caixa.
Segundo o banco, caso a Justiça aceite a substituição da TR por um
índice inflacionário na correção dos saldos do FGTS, a troca ocorreria
“automaticamente” nos contratos de financiamento imobiliário.
Com isso, como dois terços dos contratos de financiamento feitos
com recursos do FGTS são realizados por cotistas do fundo, o trabalhador
ganharia numa ponta mas perderia na outra. A Caixa argumenta ainda que a
elevação dos juros eliminaria linhas de crédito habitacional destinadas à baixa
renda.
O juiz que recebeu a argumentação do banco, entretanto, discordou. Diego
Viegas Verás, da 2ª Vara Federal Cível de Foz do Iguaçu (PR), lembrou que, mesmo
no programa “Minha Casa, Minha Vida”, as taxas de juros cobradas dos mutuários
começam em 5%, ante os 3% que são aplicados ao FGTS. Com a TR próxima de zero,
essa é a praticamente a única correção que o trabalhador obtém do seu saldo.Outros impactos
A Caixa argumenta ainda que a troca da TR pela inflação causaria um "absurdo passivo trabalhista" pois quem foi demitido sem justa causa – e, assim, recebeu a multa de 40% sobre o saldo existente – poderia pedir uma revisão dessa indenização. As dívidas dos empregadores com o FGTS, que somam hoje R$ 18 bilhões, também seriam turbinadas com a alteração.
A correção maior também teria de ser aplicada aos empréstimos feitos aos Estados e municípios e, ao atrelar o fundo à evolução dos preços, poderia provocar um desequilíbrios na política econômica.
Procurada na tarde desta terça-feira (21), a Caixa não comentou o assunto, mas tem argumentado que é apenas a operadora do fundo, e que uma eventual conta judiciária teria de ser quitada com recursos do próprio FGTS. Embora o tamanho do eventual esqueleto seja incerto, é possível que ele seja superior às capacidades atuais do fundo.
iG
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