Medida foi
tomada após "enxurrada de pessoas" pedir apoio para procurar a Justiça;
interessados podem aguardar decisão para integrar processo
A Defensoria Pública da União (DPU) prepara uma ação coletiva
para tentar garantir a correção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)
pela inflação. O objetivo é que todos os que tiveram saldo no fundo desde 1999
possam ser beneficiados por uma eventual decisão favorável. À época, eram 65
milhões de contas. Hoje, são 122 milhões.
A decisão foi tomada depois que “uma enxurrada de pessoas”
começou a procurar os escritórios da DPU, sobretudo no Nordeste, para pedir a
revisão na Justiça, segundo a defensora pública Fernanda Hahn, uma das
responsáveis pelo processo coletivo. Só em Pernambuco, são distribuídas cem
senhas de atendimento sobre o tema por dia.
“Estamos estudando em todo o
país a questão do ajuizamento de uma ação civil pública (ACP). [A
ideia] é unificar numa demanda só”, afirma a defensora, ao
iG.”Ajuizaríamos e pediríamos que o efeito do pedido seja para todas as
pessoas que tem contas, e para os sucessores de quem faleceu.”
A ação, contra a Caixa Econômica Federal, será protocolada no Rio
Grande do Sul, provavelmente na próxima semana. Para se beneficiar de uma
eventual vitória – o que não é garantido –, os interessados terão de se
habilitar no processo, o que pode ser feito depois da decisão. Quem já tiver
pedido a correção individualmente e teve decisão desfavorável não será
beneficiado.
Perdas de 100%
Por lei, as contas do FGTS são corrigidas monetariamente pela
Taxa Referencial (TR). Desde 1999, entretanto, esse índice tem perdido para
inflação. Nos cálculos de escritórios de advocacia e institutos que defendem a
revisão, as perdas chegam a até 100%. Por isso, a Caixa Econômica Federal já
enfrenta mais de 30 mil ações de indivíduos e grupos que pretendem mudança na
forma de cálculo.
Até agora, as decisões são majoritariamente contrárias –
segundo o banco, foram 16 mil – mas o surgimento de cinco decisões favoráveis de
dois juízes na primeira quinzena de janeiro estimulou mais gente a procurar a
Justiça. Em dois dias, 400 advogados tiraram cópia dos processos
vitoriosos.A ação da Defensoria Pública pedirá que a TR seja substituída por um índice inflacionário – possivelmente o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a partir de 1999.
A defensora pública ressalta que a chance de sucesso existe, mas é pequena. E mesmo uma decisão favorável à revisão não significará, necessariamente, que o trabalhador não receberá uma bolada em seguida.
“A gente reconhece que há uma tese importante, a TR não é realmente o melhor índice, e é por isso entende que tem de se ajuizar ações”, afirma. “Mas está se construindo uma falsa ideia de que é só entrar com ação e amanhã o dinheiro está disponível. O FGTS não se saca quando a gente quer.”
A Caixa argumenta que, ao aplicar a TR, apenas cumpre a lei. Procurada na tarde desta sexta-feira (24), não respondeu imediatamente ao pedido de comentário feito pela reportagem.
Desafios
A Defensoria Pública também precisará convencer a Justiça de que pode mover uma ação civil pública relativa ao FGTS. A legislação proíbe esse tipo de processo, mas segundo a defensora Fernanda, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF) – que responde por Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – já autorizou a prática em um processo que interesse do trabalhador, como é o caso da revisão.
Outro percalço possível é a decisão final ter seus efeitos
restringidos apenas ao local onde a ação foi apresentada. Caso isso ocorra, diz
a defensora Fernanda, outros processos semelhantes serão abertos nos outros
Estados
iG
Nenhum comentário:
Postar um comentário