Iniciarei este texto contando um fato ocorrido quando era vereador em Sorocaba (SP).
Um cidadão me procurou dizendo que havia visto um passarinho morto ao lado de uma poça d’água. Havia chovido um pouco antes – daí a formação da poça – e, detalhe: antes disso, funcionários da prefeitura haviam aplicado o herbicida conhecido popularmente como mata-mato. Teria, a avezinha, sido morta pelo mata-mato? Tudo indicava que sim.
Da tribuna legislativa, discuti o assunto à exaustão. Cheguei a propor um projeto de lei proibindo o uso de “mata-mato” no ambiente urbano, que foi rejeitado. Os argumentos giravam em torno de sua suposta baixa toxicidade.
Gostaria de fazer neste momento um pequeno parêntese. Sempre achei um absurdo as empresas que fazem o marketing de inseticidas usarem como instrumento de sedução mercadológico a afirmação de que, se o produto não cheira, não faz mal ao ser humano – só aos insetos.
Essa coisa de não cheira ou de baixa toxicidade não me convenceram e não me convencem.
Ora, se um produto mata a vida, seja de mato ou de inseto, deve provocar algum dano a outras formas de vida, inclusive, ao ser humano.
Além de propor o projeto de lei, cheguei a levar o caso ao Ministério Público.
Infelizmente, aquilo que parecia óbvio à minha compreensão não gerou qualquer tipo de reação esperada, por parte das instituições envolvidas.
Passados alguns anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA, promoveu uma consulta pública sobre o assunto.
O resultado, divulgado no início do presente ano, foi o entendimento de que o herbicida usado no ambiente urbano é tóxico e, portanto, os procedimentos de segurança devem ser tão rigorosos quanto na zona rural, no sentido de se evitar a exposição da flora e fauna, aí incluídos obviamente os seres humanos. Um dos procedimentos, por exemplo, seria o da sinalização e isolamento da área por 24 horas, após a aplicação.
Procedimentos impraticáveis, segundo o entendimento da própria ANVISA, que gerou a não autorização de sua prática.
Acredito que se houvesse bom senso, esse método de limpeza urbana nunca teria sido usado, porém agora não é mais questão de sensatez ou responsabilidade socioambiental; a ANVISA, finalmente, VETOU o uso de mata-mato no ambiente urbano.
Os canários chapinha vieram fazer parte da família pratiana.
Nunca os perguntei de onde vieram nem quanto tempo vão ficar para alegrar as nossas manhãs, com seus cânticos que nos acordam de forma agradável.
Por toda a cidade estão sempre em bandos, fazendo seus ninhos.
Fazem os ninhos com muito trabalho, fio a fio trazido no bico.
Em cada árvore tem sempre um ninho com filhotes gritando, e a mãe desesperada, tentando alimentá-los.
Nos ninhos com ovos que ainda não se abriram, os movimentos dos casais são constantes, num vai e vem entre o macho e a fêmea. Além da prisão em gaiolas, a maior causa do seu desaparecimento em nosso país é a morte de milhares deles devido aos agrotóxicos sem critérios sobre as plantações. Aliás, o canário chapinha não é a única vítima dos defensivos agrícolas, existem dezenas de outras espécies que sofrem com isso.
A espécie esteve perto da extinção no passado, e hoje milhares proliferam a todo vapor por toda a cidade: apesar de maltratada por muitos, a natureza sobrevive.
É de se perguntar quem é o responsável por isso.
Lembro-me da juíza que passou em nossa cidade, a Doutora Maria da Glória, que aplicando de forma correta nossa legislação, coibiu o ato de manter pássaros presos.
Com isso preservou a espécie, e nos deixou um grande legado: o canário chapinha, pássaro bonito de plumagem amarela, cantador, sociável, valente, voltou a alegrar a vida no Prata. A policia ambiental, também teve grande participação nisso.
Se tenho uma dica a dar as pessoas é que cuidem bem dos passarinhos.
O calor dos nossos amigos e o cântico dos canarinhos chapinha tornam o Prata um lugar mais tranquilo e alegre de se viver.
Peritos mineiros irão ao Espírito Santo para fazer análises complementares; sovrevoo de hoje serviu para planejar próximas ações
PUBLICADO EM 25/11/15 - 17h01
DA REDAÇÃO
A lama da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, que se rompeu no início do mês de novembro, já alcançou um perímetro total de 826 quilômetros de extensão linear. A informação é do diretor do Instituto de Criminalística da Polícia Civil de Minas Gerais, Marcos Paiva.
Nesta quarta-feira (25), uma equipe de peritos sobrevoou a região atingida pelos rejeitos da barragem, em Mariana, na região Central do Estado. Segundo Paiva, o sobrevoo serviu para planejar as próximas etapas da perícia. A equipe pousou em alguns pontos da área afetadas pela tragédia para fazer novas verificações dos impactos causados pelos rejeitos.
Ainda de acordo com o diretor, as áreas de amostragens do local serão dimensionadas para verificação das faunas terrestre e aquática atingidas, as áreas de preservação permanente e as nascentes afetadas.
Ricardo Vescovi gravou um vídeo, onde agradece ao trabalho e empenho dos empregados da empresa, mas solicita que tenham equilíbrio em relação às críticas
Publicado em 25/11/2015 - 09:45hs
FERNANDA VIEGAS
Com todos os holofotes voltados para a Samarco Mineração, responsável pela barragem de rejeitos de minério Fundão, que se rompeu em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, no dia 5 de novembro, a empresa busca se manter de pé, fortalecendo o seu quadro de funcionários.
Pensando nisso, o diretor-presidente, Ricardo Vescovi, gravou um vídeo, no qual agradece ao trabalho desempenhado por todos os empregados, principalmente neste momento de crise que enfrentam.
Na gravação, Vescovi deixa claro que a empresa tem consciência dos graves danos ambientais e sociais que causou e garante que não medirão esforços para minimizar os problemas. Vescovi afirma que a Samarco vai seguir em frente e pede calma aos trabalhadores. "Tenha calma e equilíbrio em relação às criticas da imprensa e da sociedade", falou.
Barragem que se rompeu também tinha rejeitos de usina de tratamento da maior mineradora do Brasil
PUBLICADO EM 25/11/2015 - 04:00HS
LUCIENE CÂMARA
Além de ser dona de metade das ações da Samarco, a Vale, maior mineradora do Brasil, também utilizava a barragem de Fundão, que se rompeu no dia 5, para depositar rejeitos de uma de suas usinas de minério em Mariana, na região Central de Minas. A informação foi confirmada pela empresa e é investigada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que avalia quem são os responsáveis pela tragédia que matou ao menos 12 pessoas, além de milhares de animais, e destruiu comunidades e cursos d’água.
Já a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), que emite as licenças de operação, não informou sequer se tem conhecimento da utilização da barragem pela Vale. O uso compartilhado, segundo especialistas, precisa estar previsto na autorização concedida pelo órgão estadual e ser fiscalizado. Além disso, poderia ampliar as responsabilidades sobre o rompimento da estrutura.
A Vale informou que utilizava a barragem para destinação de parte dos rejeitos da unidade de Alegria, em Mariana. O volume destinado, segundo a mineradora, correspondia a menos de 5% do total de rejeito depositado na barragem da Samarco anualmente – quando se rompeu, a Fundão tinha 55 milhões de m³. “A relação era regida por contrato entre as duas empresas, que definia a Samarco como responsável pela gestão, controle e operação dessa deposição”, declarou a Vale.
A empresa não informou, entretanto, desde quando ocorria esse uso compartilhado nem se a prática era autorizada pelo poder público. A Samarco também não se manifestou sobre o assunto.
Investigação. O promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador da Promotoria do Meio Ambiente, informou que está apurando como era feita essa distribuição de rejeitos da mina de Alegria para a de Fundão e quanto de lama da Vale realmente era despejado na barragem. “Queremos saber se procede essa informação de que 5% da lama era da Vale. Mas isso não muda o cenário. A responsabilidade pelo rejeito é da Samarco”, disse.
O presidente da Comissão de Direito Ambiental, Logística da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Mário Werneck, afirmou que o Estado é quem deve dizer se as empresas tinham autorização para esse uso compartilhado. Porém, ele acredita que, independentemente disso, a Vale e a BHP Billiton (empresa anglo-australiana que detém a outra metade das ações da Samarco), têm responsabilidade objetiva pelo acidente. “Elas são as donas da empresa e assumiram o risco presumido desse tipo de atividade".
Já o advogado especializado em direito societário Charles Vieira explica que a divisão de responsabilidades depende do estatuto social e do acordo de acionistas das empresas. “Em tese, multas e indenizações só atingiriam os acionistas se a Samarco, que tem patrimônio próprio, não tivesse condições de pagar o que deve. E a soma dessas punições deve levar em conta a extensão do prejuízo e não o patrimônio das empresas”.
Estado diz que vai autuar mineradora
Sete meses antes do rompimento da barragem de Fundão em Mariana, na região Central, um vazamento de polpa de minério em uma usina da Vale ocorreu em Nova Lima, na região metropolitana. De acordo com a mineradora, todas as medidas de contenção foram tomadas e não houve impacto ambiental. Entretanto, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) informou ontem que enviará uma equipe ao local para avaliar o problema e autuar a empresa. O tipo e valor da punição só serão definidos após a vistoria.
Segundo a Vale, o acidente ocorreu no dia 5 de abril, durante testes operacionais na Usina de Vargem Grande. O rejeito vazou em direção à barragem de Codornas, da empresa AngloGold. A mineradora alegou que os rejeitos ficaram retidos no reservatório e serão retirados do local até o fim deste mês, sem interferência no meio ambiente.
O problema, segundo a Vale, foi comunicado no dia 7 de abril à Superintendência Regional de Regularização Ambiental, mas o órgão estadual alegou ontem que não foi “notificado oficialmente” pela empresa, como determina a lei.
Samarco é rebaixada por risco de calote
A agência Standard & Poor’s rebaixou a nota de crédito da Samarco, alegando riscos de calote da companhia após o rompimento da barragem em Mariana. Os títulos da dívida da mineradora, controlada pela Vale e pela BHP, estão sendo negociados por menos da metade do pico de 2014, em um sinal de que os credores também têm dúvidas sobre o futuro da empresa.
“A ação de rebaixamento reflete o aumento nos riscos de liquidez da empresa porque o prazo para retomar sua produção de pelotas atualmente é incerto”, afirmou a S&P. A nota da dívida estrangeira da empresa foi rebaixada de BB+ para BB-, com perspectiva negativa.
Controladora. A agência, porém, manteve as notas BHP Billiton em A+/A-1. A tragédia não tem impacto imediato porque os dividendos da Samarco respondem por uma parcela pequena dos fluxos de caixa da companhia.
Caso não apresente todas as apólices de seguros e resseguros que possui para demonstrar que os danos decorrentes do rompimento podem ser compensados, a mineradora poderá ser multada em R$ 1 milhão ao dia.
DA REDAÇÃO
Uma decisão da Justiça de Colatina, no Espírito Santo, deu um prazo de 72 horas para a mineradora Samarco apresentar todas as apólices de seguros e resseguros que possui para demonstrar que os danos decorrentes do rompimento de duas barragens em Mariana (MG) podem ser compensados. Caso haja descumprimento, a empresa será multada em R$ 1 milhão por dia.
O juiz Menandro Taufner Gomes, da 1ª Vara da Fazenda Pública Estadual, Registros Públicos e Meio Ambiente da cidade é o autor da decisão que foi deferida no início da noite desta terça-feira (24). Ela atende à solicitação do Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES). O órgão argumentava que a exibição dos documentos securitários serviria para fiscalizar a assunção das responsabilidades da mineradora.
Procedimento investigativo criminal instaurado pelo MP-ES apurou que a Samarco tinha renovado suas apólices de seguro para cobertura do patrimônio próprio e responsabilidade civil em regime de seguro direto e resseguro. Os valores da cobertura não foram divulgados.
A mineradora, controlada pelas empresas Vale e BHP Billiton, é responsável pela barragem que se rompeu no último dia 5 em Mariana (MG) e que deixou, até agora, oito mortos e 11 desaparecidos
FOLHA PRESS
O Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo determinou que a mineradora Samarco apresente, até 2 de dezembro, um plano para evitar demissões em massa na cidade de Anchieta, no litoral capixaba.
A mineradora, controlada pelas empresas Vale e BHP Billiton, é responsável pela barragem que se rompeu no último dia 5 em Mariana (MG) e que deixou, até agora, oito mortos e 11 desaparecidos. Outros quatro corpos aguardam identificação.
Em Anchieta está a unidade de Ubu da Samarco, ponto final do mineroduto que leva a produção de Mariana ao litoral. As operações no local estão paradas desde o rompimento das barragens.
Ação coletiva foi impetrada nessa segunda-feira (23); defesa pede pelo menos um salário mínimo (R$ 788,00) para cada um dos atingidos em função do rompimento da barragem de Fundão em Mariana (MG)
DA REDAÇÃO
Cerca de 3.000 pescadores do Espírito Santo se uniram em um pedido de indenização contra a Samarco Mineração. Pedido foi impetrado nessa segunda-feira (23) em nome da Federação das Colônias e Associações dos Pescadores e Aquicultores do Espírito Santo (Fecopes).
A defesa pede pelo menos um salário mínimo (R$ 788,00) para cada um dos integrantes das colônias capixabas existentes ao longo do rio Doce até a sua Foz, em Linhares, inclusive para os pescadores deste último município, além de danos morais, em função do rompimento da barragem Fundão em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, região Central de Minas, no último dia 5.
“A lama acabou com a fauna marinha e os pescadores foram diretamente prejudicados. Pedimos que a Samarco deposite o valor em 30 dias, a contar da distribuição da liminar, sob pena de pagamento de multa diária a ser fixada pelo juiz”, explicou o advogado Leonardo Amarante. A Samarco, junto das empresas Vale e da anglo-australiana BHP, é acusada de ser responsável pelo acidente.
Nível de segurança no dique de Sela, que sustenta a barragem de Germano, está em 35%; mínimo é 50%
iG Minas Gerais| Luciene Câmara|
Mais uma das paredes que sustentam a barragem de Germano, a maior do complexo da Samarco em Mariana, na região Central de Minas, sofreu ruptura e passa por reparos. De acordo com especialista em barragens que acompanha de perto as investigações dos órgãos competentes, o dique de Sela também teve danos em sua estrutura após o rompimento da barragem de Fundão, no dia 5 deste mês. O dique é uma espécie de pequena barragem usada para conter os rejeitos das estruturas maiores. O Sela estaria com o nível de segurança em torno de 35%, sendo que o recomendado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é de no mínimo 50%. Até agora, a Samarco já admitiu danos em duas estruturas: o dique de Selinha, que apresentou trincas e tem nível de segurança de 22%, e a barragem de Santarém, que, com a passagem da avalanche de Fundão, teve problemas de drenagem e de erosões no topo da parede, o que faz a taxa da estrutura permanecer em 37%. A ruptura no dique de Sela mostra que a contenção de Germano ficou mais comprometida que o anunciado. Por isso, medidas de recuperação já estão em andamento no local, segundo o especialista, que preferiu não ser identificado. Um possível rompimento da barragem de Germano poderia causar estrago quase quatro vezes maior, já que o reservatório tem cerca de 200 milhões de metros cúbicos (m³) de rejeitos de minério – enquanto a de Fundão tinha 55 milhões de m³. A diferença é que a de Germano, desativada, tem conteúdo mais sólido do que a de Fundão, que era composta de água e de resíduos. Procurada, a Samarco disse apenas que o fator de segurança no local é de 44% e que as estruturas de barragem encontram-se estáveis. Ruptura. De acordo com o especialista, quando a lama de Fundão desceu, “puxou” o que havia embaixo dela. Com isso, provocou uma ruptura de cerca de 3 m de largura e 4 m de comprimento em parte da fundação do dique de Sela – uma das quatro paredes que sustentam a Germano. “São rupturas superficiais, mas que, se não forem reparadas, podem causar mais erosão e desestabilizar a barragem”, afirmou. Ele ainda destacou que obras de contenção foram iniciadas no local desde a semana passada. “Está sendo feito um aterro por debaixo do dique, o que chamamos de ‘contrapilhamento’ e é como uma outra barragem de terra do lado”. Já o dique de Selinha é o mais comprometido. A estrutura apresentou trincas logo após o rompimento de Fundão. Uma mancha de água no local também foi vista em imagens aéreas, o que pode ser uma infiltração no fundo da bacia, problema ainda mais grave, segundo analistas. A Samarco apresentou um plano de recuperação de barragens ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) na semana passada, que já teria sido aprovado.
Saiba mais
Sobrevoo. Nesta segunda, parentes de vítimas da tragédia puderam acompanhar sobrevoos do Corpo de Bombeiros à procura dos desaparecidos. O objetivo foi mostrar a dificuldade do trabalho de buscas. Balanço. Até o momento, foram encontrados 12 corpos, sendo que quatro não foram identificados. Ainda há 11 desaparecidos. O corpo do operador de máquinas Samuel Vieira Albino, 34, foi cremado nesta segunda em Contagem, na região metropolitana. Resgate. A Defesa Civil resgatou, nesta segunda, três pessoas de uma mesma família que estavam ilhadas em Ponte do Gama. Valdemira Inácio Vieira Arantes, 92, Maria das Graças, 57, e Maria da Fátima, 52, foram encontradas e levadas para Mariana contra a vontade. Polícia Civil. Nesta quarta está programada uma reunião entre os peritos da Polícia Civil para definir como será feito o sobrevoo pelo rio Doce, que vai apurar os impactos da tragédia. A investigação terá ainda visita aos municípios atingidos. Até agora, 12 pessoas foram ouvidas.Presidente. O presidente da mineradora, Ricardo Vescovi, peça-chave no processo será interrogado pela Polícia Civil. A data não foi informada. Animais. Cerca de 30 voluntários trabalham em um galpão para cuidar de cerca de 300 animais resgatados.
Descarte de resíduo preocupa MPMG Além dos 55 milhões de m³ de lama que vazaram da barragem de Fundão e se espalharam por vales e rios, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) teme que um novo dano ambiental atinja os municípios que estão ao longo da bacia do rio Doce caso não seja dada destinação correta ao lodo e aos rejeitos extraídos do tratamento de água em Governo Valadares e demais cidades atingidas. O órgão fez nesta segunda uma recomendação à Samarco e ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) para que o material proveniente do processo de limpeza seja descartado corretamente. “Se o descarte não for adequado, pode ocorrer outro impacto ambiental, provocado não só pela lama, mas pelos produtos químicos que são usados no tratamento”, afirmou o promotor Leonardo Castro Maia. O temor, segundo ele, se deve à sobrecarga nas estações de tratamento desde que os rejeitos atingiram o rio Doce. O órgão pediu informações ao Saae sobre o destino dado ao material. O MPMG recomenda ainda que a Samarco arque com os custos ou dê a destinação final ambientalmente adequada ao conteúdo. Desde o dia 15, o Saae voltou a captar água do rio Doce e utiliza o polímero de acácia-negra para separar a lama.
Prefeitos irão eleger prioridades Mariana. Os prefeitos de 39 cidades atingidas pelo rompimento da barragem da Samarco vão decidir, juntos, como o fundo de R$ 1 bilhão a ser disponibilizado pela empresa vai ser gasto. O objetivo é que o valor seja investido nas demandas mais emergenciais e de médio prazo de cada município. Nesta segunda, 14 líderes municipais se reuniram em Mariana com os Ministérios Públicos de Minas Gerais e Federal e com a mineradora para definir como deverá ser feito o repasse.
FOTO: FERNANDA CARVALHO / O TEMPO Prefeitos se reuniram nesta segunda para organizar soluções para desastre
Cada prefeito deverá enviar, dentro de duas semanas, as medidas que considera prioritárias para sua cidade. Depois de as demandas serem analisadas, os gestores devem se reunir novamente para decidir quais devem ser atendidas com o recurso. “Há um consenso de que as cidades afetadas devem trabalhar de forma conjunta pra evitar ações judiciais individuais”, explicou o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda. Metade do valor deve ser disponibilizada pela Samarco ainda nesta semana, enquanto os R$ 500 milhões restantes deverão ser depositados posteriormente. Para garantir que o fundo – que será administrado pela Samarco – seja realmente aplicado no atendimento às demandas de cada cidade, o Ministério Público vai contratar uma auditoria, com recursos do próprio fundo, para atestar a execução das medidas combinadas e o custo real de cada intervenção. “O importante é que o MP vai acompanhar como os recursos serão aplicados. A gente entende que, neste momento, é preciso trazer respostas rápidas à população”, afirmou o prefeito de Mariana, Duarte Junior, que foi nomeado nesta segunda vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP).
O material ocupa uma faixa de 10 quilômetros mar adentro; peixes e aves já são afetadas.
DANILO EMERICH
ESPECIAL PARA O TEMPO
A lama da barragem de rejeitos da Samarco já avançou mais de 10 quilômetros em linha reta no mar do Espírito Santo. Já no sentido paralelo, o material ocupa uma faixa de mais de 40 quilômetros, atingido as praias de Regência e Povoação, em Linhares.
A informação foi divulgada pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), que realizou um sobrevoo na área no fim da manhã desta segunda-feira (23).
Segundo o órgão, é feito um monitoramento constante do material. A orientação é para as pessoas não entrarem em contato com a água do mar com a lama. As duas praias atingidas foram interditadas pela prefeitura do município.
A investigação do Ministério Público vai determinar como foram os procedimentos da Samarco. A lei de segurança para as barragens determina que a empresa tenha um plano de ação emergencial para lidar com desastres. Parte desse planejamento consiste numa “estratégia e meio de divulgação e alerta para as comunidades afetadas”. Depois da ruptura das barragens em Bento Rodrigues, a Samarco afirma ter feito o aviso por telefone. “Não houve sirene, houve contato via telefone com a Defesa Civil, prefeitura e alguns moradores”, afirmou o engenheiro Germano Lopes, gerente-geral de projetos da Samarco, sem especificar o número de moradores comunicados. Todas as testemunhas ouvidas pelo Ministério Público negam ter havido comunicação. Na tarde da quarta-feira, dia 11, funcionários de uma empresa de telefonia contaram a ÉPOCA ter instalado sirenes na área afetada naquela tarde, seis dias após o acidente. O sistema permitiria à Samarco alertar a população em caso de risco. ÉPOCA foi ao local onde foi colocada uma antena, que emitirá sinais para disparar as sirenes, mas uma caminhonete da Samarco bloqueava a entrada. “Se houvesse um bom plano para evacuar a área, não haveria tantos desaparecidos”, afirma Jefferson Oliveira, professor de engenharia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Época
Medo de se expor, de perder o emprego e a dificuldade de recolher provas contundentes são as principais causas do silêncio em relação às agressões de cunho sexual. No país, apenas 10% das mulheres teriam coragem de denunciar
iG Minas Gerais| Mariana Alencar |
Piadas aparentemente inofensivas, comentários desagradáveis, pedidos que vão além da função para o cargo, acúmulo de afazeres. Cantadas ou insinuações constantes, de cunho sensual ou sexual, sem que a vítima as deseje, realizadas de forma explícita ou sutil. Todas essas ações acontecem frequentemente em ambientes de trabalho com vítimas que são, na maioria dos casos, mulheres. No passado, acreditava-se que a mulher tinha nascido para servir ao sexo oposto e a ele se submeter. As diferenças de gênero no plano social, marcadas por costumes herdados de civilizações antigas, continuam presentes na atualidade. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, vários aspectos dessa discriminação ainda se manifestam, e de forma cruel: não bastassem os menores salários recebidos pelas mulheres, não é incomum o ato de sofrer qualquer tipo de assédio nesse ambiente. Recentemente, a Ipsos – terceira maior empresa de pesquisa e de inteligência de mercado do mundo –, realizou um levantamento global sobre os problemas enfrentados pelas mulheres no ambiente do trabalho. Foram ouvidas cerca de 500 delas nos países integrantes do G-20 (as 19 economias mais desenvolvidas do mundo e a União Europeia), todas inseridas no mercado de trabalho. Os dados divulgados mostraram que, no Brasil, 36% já sofreram assédio. Nesse universo, apenas 10% afirmaram que teriam coragem de relatar o caso e denunciar os agressores.
Denúncia x provas:
Apesar da facilidade de realizar uma denúncia, 90% das mulheres não têm coragem de relatar o caso, de acordo com a Ipsos. Isso acontece devido à dificuldade de recolher provas relacionadas aos abusos – em sua maioria comentários e propostas feitos informalmente, como conversas “de corredor” –, ao medo de se expor e, claro, de perder o emprego. É o caso da bancária Mariana de Albuquerque. Ela conta que trabalhava em uma agência pequena e que era a única funcionária mulher. O gerente de negócios da unidade, cotidianamente, dirigia a ela palavras grosseiras relacionadas a sexo. “Esse comportamento foi minando minha autoestima. Fui me deprimindo e acabei sendo afastada do trabalho por 120 dias. O gerente espalhou na agência que eu queria ter relações sexuais com ele, mas, como ele não me quis, eu acabei ficando deprimida”, relata. Na ocasião, ela não procurou a Polícia Civil para denunciar o caso – entretanto, o sindicato da categoria foi acionado, e o gerente foi transferido para outra agência. O artigo 216 do Código Penal define que assédio é “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico”. Mas o presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Anderson Marques, explica que, para denunciar, é preciso ter provas que certifiquem a veracidade do depoimento da vítima. “É preciso que a mulher conte com testemunhas, por exemplo. É importante recolher e-mails, mensagens de celular, gravação telefônica ou qualquer outro registro”. Ele explica que, para denunciar, é preciso procurar a Polícia Civil . Em seguida, o delegado envia o caso ao Ministério Público, que segue com o processo. “A vítima tem até seis meses para fazer a denúncia. É a melhor maneira para acabar com esse tipo de conduta. As mulheres tendem a ficar caladas por medo, mas isso precisa mudar”, defende.
Dano moral: outro problema recorrente em ambientes corporativos:
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o assédio moral acontece quando há a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício das suas funções. O presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da OAB-MG, Anderson Marques, explica que tanto homens quanto mulheres estão suscetíveis a sofrer assédio moral, mas que esse tipo de perseguição acontece mais com as mulheres. “A sociedade a vê como subordinada. É mais comum que elas sofram com esse tipo de assédio”, revela. Foi o que aconteceu com a estudante Gabriela Silva (nome fictício). Aos 16 anos, ela estava contratada como “pequena aprendiz” em uma empresa terceirizada que prestava serviços a um órgão público do Estado. Na época, era obrigada a realizar atividades que iam além das suas funções e que eram recorrentes, como fazer café, pagar contas pessoais da chefia, levar óculos e outros objetos para fora da empresa e comprar lanches, entre outras coisas. Como essas atividades acabavam tomando o tempo da estudante, ela começou a receber críticas por não realizar o seu trabalho da melhor maneira possível. Depois de uma série de abusos, Gabriela foi responsabilizada pelo sumiço de um documento importante. Ao tentar se defender das acusações, foi dito à garota que ela estava com “problemas psicológicos comuns aos adolescentes”. “O que me indignava era o fato de que nunca havia feito nada para receber tal tratamento, tanto que em meu setor todos ficavam chocados com essas atitudes”, lamenta. Gabriela diz que desistiu de denunciar os abusos por se sentir impotente diante da situação. “Cheguei a falar dos abusos com a pessoa que era hierarquicamente superior à minha chefe, mas nada foi feito”.
O poeta Carlos Drummond de Andrade parecia prever o desastre provocado pela Samarco, empresa controlada pela Vale (ex-Companhia Vale do Rio Doce) e a anglo-australiana BHP Billinton quando escreveu, em 1984, o poema “Lira Itabirana”:
I O Rio? É doce. A Vale? Amarga. Ai, antes fosse Mais leve a carga.
II Entre estatais E multinacionais, Quantos ais!
III A dívida interna. A dívida externa A dívida eterna.
IV Quantas toneladas exportamos De ferro? Quantas lágrimas disfarçamos Sem berro?
Publicado em 1984 no jornal Cometa Itabirano, o poema não chegou a ganhar versão subsequente em livro — o que levou alguns portadores de antologias de poemas do autor a, em um primeiro momento, duvidar da autenticidade da citação, mas os versos são mesmo de Drummond.
Pé na bunda. Quem nunca? Esta que vos fala já perdeu as contas – de quantos levou e de quantos deu – por que, se nesta vida apanhamos, também temos a oportunidade de bater de vez em quando.
A verdade é que nada nos pertence. As coisas e as pessoas podem simplesmente cansar de você quando você menos esperar, e, por mais que pensemos estar preparados, não estamos. Nunca estamos. Mas, se o sofrimento nos visita com mais frequência do que desejamos, então, que tiremos disto algum proveito.
O grande ponto quando se trata de lidar com um pé na bunda é saber perder. É o que fazemos a vida inteira: administramos perdas. E a vida, embora nos ensine muito mais a ganhar do que a perder, nos tira coisas com a mesma velocidade que nos presenteia.
Pode parecer impessoal – frio e cruel, em certo ponto – falar em ganhar e perder quando se trata do fim de um relacionamento. Como se as pessoas fossem objetos ao nosso bel prazer, que ganhamos e perdemos como quem perde uma grana no pôquer ou ganha um presente de natal. Mas, se pensarmos com a tal frieza que a vida nos exige, é exatamente isto.
A ARTE DE SABER PERDER
Choramos muito mais a perda daquilo que julgávamos ter do que a própria saudade, que deveria ser o ponto principal do tal pé da bunda. Choramos o nosso próprio fracasso em manter alguém que julgávamos nosso. A dor de não poder escolher agiganta-se diante da mera saudade do abraço, do cheiro, do cotidiano.
O amor fica pequeno perto do egoísmo de simplesmente sentir-se dono – e quando você se livra da ideia de que alguém lhe pertence ou pertenceu em algum momento, você abstrai a perda. Por que os relacionamentos, na verdade, são como barquinhos num grande oceano: cada um navega para onde melhor lhe convir. Se convier navegar lado a lado, ótimo. E, se não, paciência. Cada um continua seguindo seus próprios ventos.
Choramos, na verdade, nosso próprio fracasso. Nossa suposta incapacidade em manter ao nosso lado aquele que julgamos querer. Choramos por que, no íntimo de nossas almas, julgamos que perdemos por demérito – e o sentimento de não merecer é mais cruel do que qualquer saudade. O sentimento de perder o controle da situação é mais desesperador do que qualquer abraço quente que lhe falta na cama.
Alguém inteligente – veja bem, não a inteligência das equações, mas aquela inteligência complicada que os sentimentos exigem – compreende que nada nos é tirado. Que a mania de sofrer pode ser maior do que o próprio sofrimento. Que a autopiedade é mais cruel que a própria saudade.
NEM SEMPRE O MUNDO NOS OBEDECE
A saudade, sozinha, é aquele sentimento bonito por algo bom que foi vivido algum dia e que compreendemos não nos pertencer mais. Mas a saudade temperada pelo melodrama, pela mania de querer tudo para si – como se o mundo não escolhesse por nós de vez em quando – é catastrófica.
Quando nos livramos do egoísmo, do sentimento de posse e do orgulho, compreendemos que nada é quando realmente não deve ser. Que tudo passa se deixamos passar. Que tudo vem se sabemos receber. Que um pé na bunda não nos torna mais ou menos merecedores de coisa nenhuma: nos torna humanos, como um monte de seres humanos por aí que já sofreram por amor e continuam vivos.
Aprende que o mundo não vai te obedecer sempre. E que de vez em quando você vai perder – aliás, você vai perder quase sempre. Ganhar é a exceção. Estar acompanhado é a exceção. A regra é estar só. Aprende a ser só. Aprende a navegar. Toca teu barquinho.
Onda de lama de rejeitos atingiriam 10 mil km² em região conhecida como Giro de Vitória, importante celeiro de nutrientes para animais marinhos
BBCBrasil
A chegada da onda de lama, resultado do rompimento de uma barragem em Mariana (MG) há duas semanas, ao Oceano Atlântico ─ prevista para ocorrer neste domingo ─ teria um impacto ambiental equivalente à contaminação de uma floresta tropical do tamanho do Pantanal brasileiro.
A afirmação é do biólogo André Ruschi, diretor da escola Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Aracruz, Santa Cruz, no Espírito Santo
De acordo com Ruschi, os 62 bilhões de litros de rejeitos do beneficiamento do minério de ferro ─ o equivalente a 25 mil piscinas olímpicas ─ despejados ao longo de 500 km da bacia do rio Doce atingiriam cerca de 10 mil km² numa região conhecida como Giro de Vitória, importante celeiro de nutrientes para animais marinhos, como a tartaruga-de-couro (ameaçada de extinção), o golfinho pontoporia e as baleias jubartes.
A foz do rio Doce está localizada no distrito de Regência, na cidade de Linhares, litoral norte do Espírito Santo.
Ele estima que a descarga tóxica contaminaria principalmente três Unidades de Conservação marinhas ─ Comboios, Costa das Algas e Santa Cruz, que juntas somam 200.000 hectares (2.000 km²) no oceano.
Ruschi lembra, contudo, que como o ecossistema marinho é mais vulnerável do que o terrestre, o impacto no mar seria proporcional à contaminação de uma área continental dez vezes maior ─ ou 20.000.000 hectares (200.000 km²) ─ de floresta tropical primária.
"Seria como dizimar, de uma só vez, todo o Pantanal", afirma Ruschi à BBC Brasil. O Pantanal se estende por 250.000 km² pelo Brasil, Bolívia e Paraguai.
"O ecossistema marinho é muito mais eficiente na biossíntese do que o terrestre. Cerca de dois terços de toda a biomassa do planeta é produzida em apenas 5% ou 6% dos oceanos. Trata-se da borda dos continentes ou de regiões com menos de 200 metros de profundidade, onde as algas podem receber luz e fazer fotossíntese", explica.
Ruschi acredita que, se nada for feito, o prejuízo ambiental do 'tsunami marrom' pode demorar 100 anos para ser revertido.
"Precisamos impedir a todo custo que essa lama chegue ao mar. Caso contrário, pode se tornar um desastre de proporções mundiais, com consequências difíceis de imaginar. É um risco que não podemos correr. E o preço que pagaremos por ele será enorme", alerta.
"O fluxo de nutrientes de toda a cadeia alimentar de 1/3 da região sudeste e o eixo de 1/2 do Oceano Atlântico Sul está comprometido e pouco funcional por no mínimo 100 anos", afirma.
'Desastre ambiental'
Há cerca de duas semanas, toneladas de lama vazaram no rompimento de uma barragem da empresa Samarco em Mariana (MG), no maior desastre ambiental da indústria da mineração brasileira.
A Samarco, fruto da sociedade entre a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, é responsável pela exploração de minério de ferro no município.
Até agora, o 'tsunami marrom' destruiu vilarejos, como o distrito de Bento Rodrigues, deixando pelo menos 11 mortos ─ sendo sete já identificados ─ e 12 desaparecidos.
Na quinta-feira, a onda de lama chegou à cidade de Colatina, no Espírito Santo, distante 400 km de Mariana. O abastecimento foi interrompido e os moradores estão recebendo água em caminhões-pipa.
A previsão, segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que monitora a evolução da mancha de lama, é de que o contato do material contaminado com o mar, no litoral do Estado, ocorra no domingo, 22.
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) confirmou o prognóstico à BBC Brasil. Inicialmente, o órgão havia previsto que a lama contaminada atingiria o mar na sexta-feira.
Biodiversidade ameaçada
Ruschi prevê que a lama poderia ser levada para uma área maior do que o Giro de Vitória, afetando o banco de Abrolhos (em cujo extremo norte se localiza o arquipélago de mesmo nome) e a Cordilheira submarina, uma cadeia de montanhas submersas originadas do afastamento das placas tectônicas.
"É este Giro de Vitória (área de ressurgência de nutrientes) que nutre toda a região (cordilheira Vitória Trindade e banco de Abrolhos) por efeito das variações estacionais e climáticas que influenciam essa dispersão", explica.
Segundo o biólogo, a longo prazo, os efeitos ambientais poderiam ser sentidos em até 20 milhões de km² no oceano, o equivalente a cinco vezes o tamanho da Floresta Amazônica.
"A lama que chega carregada pelas correntes vai se depositar inicialmente numa área menor, mas como o tempo ─ devido a chuvas, por exemplo ─ pode afetar áreas maiores", explica Ruschi.
"Estamos falando do eixo de funcionamento de todo o Atlântico Sul. Essa é a região de maior biodiversidade marinha do mundo. É um sistema especial, único, importante e fundamental", acrescenta ele. Ruschi ressalva, porém, que a contaminação não se daria de forma imediata.
"Isso depende da caracaterização química desses resíduos industriais minerais e de outros poluentes que essa lama vem trazendo na calha do rio Doce", diz ele.
Na quinta-feira, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou que a mancha de lama proveniente do rompimento da barragem em Mariana deve se espalhar por uma extensão de 9 km quando chegar ao mar. A estimativa foi baseada em um estudo feito pelo grupo de pesquisa do oceanógrafo Paulo Rosman, da UFRJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Teixeira descartou qualquer impacto ambiental no arquipélago de Abrolhos (250 km ao norte da foz do rio Doce) e nos manguezais da região de Vitória (120 km ao sul).
Segundo a ministra, foi concluída a escavação de um canal na região para tentar desviar a lama da área de desova de tartarugas de couro, espécie ameaçada. Desde o último sábado, funcionários do projeto Tamar vêm recolhendo ovos de tartaruga-de-couro na região.
O rejeito de mineração de ferro é composto por terra, areia, água e resíduos de ferro, alumínio e manganês. Ainda não se sabe se a composição é tóxica para humanos, mas, de acordo com especialistas, ela funcionaria como uma "esponja", absorvendo outros poluentes para dentro do rio.
Aquecimento global
Ruschi também diz que a chegada da lama ao mar poderia, em última instância, elevar a temperatura da Terra.
Isso porque, segundo ele, a foz do rio Doce concentra 83% das algas calcárias da costa brasileira, um dos principais 'fixadores' de gás carbônico da atmosfera.
"Como os sedimentos tendem a cobrir as algas, impedindo a luz e a troca de gases, esses animais tendem a desaparecer da área. Quanto mais ampla for a dispersão, maior o impacto, pois pelas correntes tudo vai acabar na região da Cordilheiras e do banco de Abrolhos", explica.
"Quando não existia esse banco de algas, há 100 milhões de anos, a temperatura da Terra era 10 graus Celsius maior, assim como a concentração de CO2. Naquela ocasião, esse gás era emitido pelos vulcões. Desde então, a atividade dos vulcões diminuiu significativamente, mas o CO2 passou a ser emitido por outras fontes, como as indústrias".
"Por isso, o impacto desse material (lama tóxica) pode induzir a reprodução do clima daquele período".
Multas
Na quinta-feira, a Justiça Federal do Espírito Santo determinou que a Samarco apresentasse e adotasse em 24 horas medidas para barrar a chegada ao litoral capixaba da lama oriunda do rompimento da barragem em Mariana. Se não cumprir a decisão, a mineradora será multada em R$ 10 milhões por dia.
A empresa já havia sido multada em R$ 250 milhões pelo Ibama na semana passada. Caso a lama chegue ao mar, o órgão prevê novas multas, cada uma no valor máximo de R$ 50 milhões.
Também na semana passada, a Justiça de Minas Gerais determinou o bloqueio de R$ 350 milhões na conta da Samarco. O montante deverá ser revertido para reparação dos danos às vítimas do desastre, que já produziu mais de 500 desabrigados.
Procurada pela BBC Brasil, a Samarco informou que está tomando "providências para mitigar as consequências geradas com o avanço da mancha pelo Rio Doce, no Espírito Santo". Diz ainda ter iniciado "a coleta de amostras de água nos trechos impactados".
"Nove mil metros de barreiras de contenção offshore e Sea Fence começaram a ser instaladas 18/11, na foz do Rio Doce, no Espírito Santo. Outra ação em andamento é o resgate de espécies de ictiofauna (peixes), principalmente aquelas endêmicas e ameaçadas de extinção, nas regiões de Baixo Guandu, Colatina e Linhares – Regência, seguindo as diretrizes técnicas do Ibama e Iema", disse a empresa, em nota.