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Ouro Preto
20 de outubro de 2021Por Karina Peres
Por volta das 18h desta segunda-feira (18), um forte temporal atingiu Ouro Preto, elevando o nível do Rio Maracujá, que transportou, causando enchentes e afetando principalmente os distritos de Amarantina e Cachoeira do Campo. Nos dois distritos, mais de 20 famílias ficaram desabrigadas e perderam boa parte dos seus móveis e pertences pessoais.
Dona Elenita Rosa de Aquino e o filho, Israel Rosa de Aquino, moradores da rua dos Esporte, em Amarantina, foram uma das famílias atingidas. Emocionado, Israel explicou que estava chegando do trabalho no momento em que a enchente começou e que sua mãe, uma senhora de idade, estava sozinha na casa. “Eu estava chegando do serviço e minha mãe me ligou, eu passei pela ponte com medo de ela nem estar lá mais. Eu cheguei e só deu para tirar a ‘mamãe’ de casa, o resto nós perdemos tudo. Geladeira boiando, máquina, mantimentos, tudo boiando. Depois de tirar minha mãe me passaram por cima do muro e nós fomos dormir na casa de um conhecido, foi tudo rápido demais”, contou Israel.
Mesmo após perder tudo, Israel agradeceu por ele e sua mãe terem saído sem danos à saúde da situação. “Coisas materiais a gente se vira, mas a nossa vida não, e graças a Deus estamos aqui, eu e mamãe”, afirmou.
Na casa de Denise Maria Carneiro, localizada na rua Olaria, também em Amarantina, a água chegou a atingir o nível de mais de um metro de altura. Desempregada, ela conta que perdeu diversos móveis, roupas e alimentos. “Nós tentamos subir as coisas, mas não adiantou, porque aqui já alagou outras vezes, mas nunca chegou nessa altura, entrava pouca coisa em casa. Minha geladeira ficou boiando, fogão também. Ainda não sabemos como vamos recuperar as coisas, vai ser devagar, estou desempregada, mas devagarzinho vamos recuperar, o mais importante nós não perdemos que foi a vida, tendo um colchão para dormir nós vamos levando”, relatou Denise.
Prejuízos em Cachoeira do Campo
As enchentes também atingiram Cachoeira do Campo, um dos locais afetados foi a Creche Municipal Zezinho Pedrosa. Vilma Costa, coordenadora da creche, ficou presa no local durante a enchente e relatou os momentos de tensão que vivenciou. “Eu estava aqui trabalhando, quando de repente veio uma tromba d’água e começou a encher de água e lama a creche, eu estava sozinha e fiquei desesperada, porque tudo foi enchendo de lama. Eu fiquei na janela tentando pedir socorro, liguei para os Bombeiros e tentei uma funcionária da creche, mas ninguém conseguia chegar aqui e os bombeiros não vieram. Depois um amigo, conseguiu abrir o portão, tirar o entulho e assim consegui sair”, informou. A coordenadora também explicou que alguns móveis, o sofá da entrada e alguns brinquedos foram danificados e tiveram que ser descartados.
Os comerciantes do distrito também foram afetados pelas enchentes. Bruna Fernandes, da Pizzaria Uel, localizada na rua Santo Antônio, contou que a água chegou em um nível alto dentro do estabelecimento, danificando diversos itens. “Fomos atingidos de uma forma bem grave, a água entrou bastante, geladeira e freezer ficaram bem imersos na água. Ainda não conseguimos contabilizar o prejuízo, estamos começando a limpar agora, mas alimentos embalados, tudo que estava no freezer e nas prateleiras nós perdemos”, afirmou Bruna.
Valdeci Costa, proprietário de uma loja na Praça dos artesãos, contou que seu prejuízo pode chegar a sete mil reais. “Fomos pegos de surpresa, tentamos recolher todo o artesanato que fica exposto, mas o rio enche e a água que desce da UPA e da BR escoa toda aqui, então é muito rápido. O que conseguimos guardar dentro da loja não danificou, mas infelizmente muitas peças caíram com a enxurrada e não conseguimos recuperar, um prejuízo de cerca de seis a sete mil reais”, explicou o artesão.
Ela contou que essa não é a primeira vez que o local alaga e cobrou solução das autoridades. “Ano passado tivemos prejuízos com a chuva também, nós já pedimos várias vezes por meio de ofícios, mas desde que a Praça foi aberta, um pouco mais de oito anos, ninguém nunca interviu em nada aqui, nunca foi realizada nenhuma obra nessas lojas, estamos há muito tempo desamparados pela Prefeitura. E toda vez é isso, inunda, suja e quem limpa somos nós, nenhum funcionário da prefeitura passou para ver se a gente precisava de algo”, relatou Valdeci.
Solidariedade
Mesmo em meio a tragédia, as famílias atingidas estão contando com a solidariedade da população. Centenas de doações de alimentos, roupas e colchões chegaram até a Escola Municipal Major Raimundo Felicíssimo, em Amarantina. Edneia Guimarães, diretora da escola, explicou que o local está servindo como ponto de apoio de arrecadação das doações. “Nesse momento difícil que nossa comunidade está vivendo devido aos alagamentos, a escola está recebendo todos os tipos de doações: colchões, eletrodomésticos, roupas de camas e banho, alimentos, etc. Tudo que está sendo arrecadado passa por uma triagem e depois destinamos para as famílias que neste momento estão muito necessitadas”, informou Edneia.
A diretora ressaltou que a escola está aberta das 7h até às 17h30 para receber as doações, mas que se for preciso, o horário pode ser estendido. “Como estamos servindo de apoio, ficamos abertos até mais tarde, ontem ela ficou aberta 24h e se precisar vamos continuar mais 24h auxiliando todas essas pessoas e nossa comunidade”, afirmou Edneia.
Em Ouro Preto as doações podem ser feitas na Casa de Gonzaga (Secretaria de Turismo) e no Centro de Atendimento ao Cidadão, localizado na Câmara Municipal. Em Cachoeira do Campo as doações estão sendo recebidas no CAIC e também por meio do PIX: 3198591-4602, em nome de Sandra Aparecida da Silva, após a contribuição, é necessário enviar o comprovante para o mesmo número de telefone. A Prefeitura de Ouro Preto sugeriu os seguintes itens de doação: roupas, colchões, cobertores, alimentos (principalmente os não incluídos em cestas básicas), material de limpeza, higiene pessoal, água mineral e ração para cães.
Contenção dos danos
O secretário municipal de defesa social, Juscelino Gonçalves, explicou que no primeiro momento a prefeitura está fazendo um trabalho de quantificar os danos e perdas materiais nos distritos atingidos. “As equipes da secretaria de defesa social e defesa civil estão percorrendo as ruas que foram afetadas e fazendo a quantificação de casas e famílias e do que eles perderam. Não tivemos vítimas fatais, mas agora estamos correndo contra o tempo para fazer esse levantamento. A secretaria de obra também está analisando as perdas estruturais para a partir daí tomarmos as decisões de recomposição e volta da normalidade no distrito”.
Como a previsão ainda é de chuva para a região, o secretário também informou que o clima está sendo monitorado e que o fornecimento de água e da rede elétrica já foram normalizados.
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