quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Psicanalistas dizem que o filme Hypnotic, da Netflix, é uma ficção que destoa a realidade da hipnose e pode prejudicar a imagem desses profissionais

Nova série da plataforma de streaming chama a atenção por seu conteúdo, mas traz uma versão equivocada do assunto, alertam especialistas.

 

Nova produção de sucesso do Netflix, o filme Hypnotic chegou à plataforma no último dia 27 de outubro, provocando muita curiosidade sobre a prática da Hipnose Clínica. É importante lembrar que grandes nomes da Psicologia e Psicoterapia submeteram-se à sua prática, seja para consumo próprio bem como para desenvolver suas habilidades e colaborar no processo terapêutico de seus pacientes. Dentre eles se destacam nomes como Freud, Jung, Erickson, Drouot, Wambach, Woolger, Assagioli, Wilber, em meio a tantos outros.

 

Porém, toda hipnose parte da auto hipnose, portanto é preciso que a pessoa deseje ser hipnotizado, Segundo a psicóloga, neuropsicóloga, mestre em psicanálise e doutoranda em neurociência pela Logos University International, Leninha Wagner, “se o seu paciente não deseja, além de antiético você efetivamente não irá conseguir”. Além disso, no filme Hypnotic, por exemplo, há “licença poética”, como toda obra de ficção. “Usa-se fatos reais como fio condutor de uma realidade paralela”, acrescenta.

 

Segundo a neuropsicóloga, “a hipnose clínica utiliza a teoria das ondas cerebrais, e há ainda muito a ser descoberto. Porém já sabemos que a hipnose é um estado alterado de consciência, uma forma de se sentir a si mesmo e uma outra forma de ver e compreender os outros e o mundo. É um acesso terapêutico dos mais antigos, que provoca mudanças físicas e psicológicas, no comportamento e na capacidade de percepção”.

 

Leninha destaca o que o uso prático da hipnose contempla: “Desejo de parar de fumar, controle da dor, cuidados paliativos, transtornos alimentares, distúrbio do sono, entre outros. É uma prática segura e que traz muitos benefícios. Mas que não guarda similaridade com o filme mencionado, no sentido de controle da mente a ponto da pessoa perder o controle de si, executando através de ‘gatilhos mentais’, ordens que serão obedecidas cegamente, isso definitivamente é mito”. Para a neuropsicóloga, “a produção, como atividade de lazer é super recomendado, mas que não seja tomada como verdade, apenas como fonte recreativa”.

 

Complementando essa opinião, o PhD, neurocientista, mestre em psicanálise com formações em neuropsicologia e psicologia, Dr. Fabiano de Abreu, acredita que o filme não está de acordo com a realidade. “Nós temos o controle de nós mesmos, a depender da capacidade para este controle. Nosso córtex pré-frontal, que é a região da tomada de decisões, orquestra este controle a depender do sistema límbico, local onde se administram as emoções e a personalidade do indivíduo. São nuances que determinam a capacidade do controle da própria mente. Mesmo assim, não há indivíduo que esteja tão afetado a ponto de não conseguir este autocontrole. Inclusive, algumas características são ‘impossíveis’ de serem hipnotizadas."

 

Fabiano lembra também que "o controle da própria mente está na capacidade de conseguir controlar as emoções, mediante a inteligência emocional e esta depende de conexões entre a área frontal e temporal do cérebro. Inúmeros fatores interferem, entre eles, a inteligência de priori genética".

 

"Nem todas as pessoas têm discernimento sobre a realidade do que é mostrado no filme, até porque a maioria não tem conhecimento em hipnose, o que é normal, já que é um sistema complexo que se aprende em psicanálise. Isso pode levar a uma crença errada sobre a hipnose, assim como a imagem dos profissionais. Não sou contrário a filmes de ficção, acho-os maravilhosos pois eleva a imaginação. Mas deve-se ter uma mensagem a dizer que aquilo não é real”, completa o neurocientista.

 

Foto Leninha:: Acervo MF Press Global

Foto Fabiano: Jennifer de Paula / MF Press Global

Foto filme: Reprodução Netflix


Jennifer da Silva 

Suporte MF Press Global 




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