O engenheiro projetista da barragem de Fundão, Joaquim Pimenta de Ávila, diz ter alertado a mineradora Samarco sobre um “princípio de ruptura” na margem esquerda do reservatório um ano antes de a estrutura ceder em Mariana, na região Central de Minas. Ontem, o jornal “Folha de S. Paulo” publicou o conteúdo do depoimento dado pelo especialista à Polícia Federal (PF).
Ávila afirmou que a situação observada era “severa” e “necessitava de uma providência maior do que a que a Samarco estava tomando”. O reforço construído no local, segundo ele, não considerava a liquefação, quando a estrutura da barragem passa do estado sólido para o líquido – o que pode resultar em rompimento. O aparecimento de uma trinca provocou o princípio de ruptura.
Essa trinca foi analisada pelo engenheiro em setembro de 2014, mas, segundo soube pela Samarco, ela havia surgido um mês antes. O especialista recomendou o redimensionamento do reforço na estrutura, a instalação de ao menos nove piezômetros (instrumentos para medir a pressão da água no solo) e o acompanhamento diário da posição do nível da água – se ele subisse, a empresa deveria bombeá-la para fora da barragem.
Ainda conforme matéria publicada pela “Folha”, o engenheiro afirmou não ter tido retorno da Samarco sobre as ações tomadas. Ao solicitar, sem citar a data, os cálculos do que foi feito, Ávila disse que a engenheira Daviély Rodrigues Silva, nova responsável pela barragem de Fundão, afirmou que o disco rígido de seu computador havia queimado e que os dados tinham se perdido. A barragem de Fundão se rompeu no dia 5 de novembro de 2015. Afastado da mineradora desde 2012, Ávila passou a prestar serviços à empresa em 2014, conforme explicações prestadas à PF.
A Samarco informou que a barragem “sempre foi acompanhada por levantamentos topográficos e monitorada por piezômetros e indicadores de nível de água instalados em toda sua extensão, cujos resultados e frequência de leitura eram do conhecimento de Ávila”. A mineradora ainda informou que “os instrumentos de monitoramento da barragem indicavam sua estabilidade até a ocorrência de sismos”. Investigação.
A PF já indiciou sete pessoas pelo rompimento de Fundão. O principal nome entre os denunciados por crime ambiental é o do diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi. Também estão na lista o diretor de Operações e Infraestrutura da mineradora, Kleber Terra, e o gerente geral de projetos e responsável técnico pela barragem, Germano Lopes. Além deles, o coordenador de monitoramento das barragens, a gerente de geotecnia e o gerente geral de operações da Samarco foram indiciados, junto com o engenheiro da Vogbr, que assinou a Declaração de Estabilidade de Fundão.
Controladoria do Estado abre investigação sobre estrutura
Belo Horizonte. Mais de dois meses após a tragédia de Mariana, a Controladoria Geral do Estado (CGE) abriu investigação para apurar possíveis irregularidades e erros na fiscalização da barragem de Fundão. Por meio de sindicância aberta no último dia 7, a CGE também procura saber se funcionários públicos falharam ao conceder licença para a estrutura funcionar.
A PF já indiciou sete pessoas pelo rompimento de Fundão. O principal nome entre os denunciados por crime ambiental é o do diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi. Também estão na lista o diretor de Operações e Infraestrutura da mineradora, Kleber Terra, e o gerente geral de projetos e responsável técnico pela barragem, Germano Lopes. Além deles, o coordenador de monitoramento das barragens, a gerente de geotecnia e o gerente geral de operações da Samarco foram indiciados, junto com o engenheiro da Vogbr, que assinou a Declaração de Estabilidade de Fundão.
Controladoria do Estado abre investigação sobre estrutura
Belo Horizonte. Mais de dois meses após a tragédia de Mariana, a Controladoria Geral do Estado (CGE) abriu investigação para apurar possíveis irregularidades e erros na fiscalização da barragem de Fundão. Por meio de sindicância aberta no último dia 7, a CGE também procura saber se funcionários públicos falharam ao conceder licença para a estrutura funcionar.
Até então, o Estado investigava apenas se houve problemas com a concessão de licenças para as barragens de Germano e Santarém, que continuam de pé, embora tenham sido danificadas após o rompimento. Indícios coletados nessa apuração inicial levaram a CGE a levantar suspeita sobre o processo de licenciamento e fiscalização de Fundão e abrir o novo procedimento.
A CGE confirma que diligências feitas durante o processo de sindicância apontaram a necessidade de também investigar o reservatório que se rompeu, mas não entra em detalhes. A investigação corre em sigilo. Até agora, foram ouvidos dez funcionários do Estado.
O Tempo
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