quarta-feira, 24 de julho de 2019

Terra prometida. Aonde vamos?


Um governo de esquerda democrática e progressista afinal revelou-se a grande decepção de nossa história. O bicho roedor e implacável da corrupção ensejou sua auto-implosão, abruptamente, considerado o habitual longo tempo que rege a política. As investigações de atos corruptos, começadas com o Mensalão, sob um Supremo Tribunal Federal que não foi simples marionete de "quem indicou", como deviam imaginar, foram tão fortes e inabaláveis que puseram a nu não só homens e mulheres envolvidos nos assaltos ao erário, mas terminaram por gerar crise inédita (num País em que sempre viveu sob crises), de nossas mais importantes instituições.

O povo frustrado teve sua sensibilidade despertada ante impasses gravíssimos e foi às ruas, sob as vistas grossas dos políticos, a quem pareceu nada ter ocorrido na comoção em massa das principais cidades do País. Persistiram em suas vidinhas, produtos de projetos de poder que criaram no Brasil inédita categoria, a da "classe política", distribuída por bancadas corporativas de alto impacto decisório no Congresso Nacional.

Veio o impeachment de Dilma Roussef e as eleições de 2018, depois de um pífio e descaminhado governo de Michel Temer. Desbussolado e angustiado, o povo sofredor optou por uma sentimental virada de 180 graus. Sua maioria rendeu LOAs ao motes incandescentes e superficiais da extrema direita, no embalo das últimas ocorrências desse delírio que embotaram as eleições norte-americanas, conquistou o poder na Hungria e é disseminado pelas mais importantes democracias, a exemplo da França, Alemanha e Inglaterra. Um movimento global da emoção e não do pensamento racional, que, como tal, deverá fenecer como fenecem todas as paixões humanas, em prazos imprevisíveis.

A frustração das massas será o golpe fatal que enterrará propostas ensandecidas e belicosas, fundadas no ataque à globalização, no nacionalismo xenófobo e guerras comerciais, proposições políticas que fortalecem em muitos jovens desprezados pelo Estado e por famílias incultas a propensão a um insólito e preocupante neonazismo. O principal problema residirá nas agruras, sempre suportadas pelos menos favorecidos, retratadas pelos restos mortais que ficarão no meio do caminho.

Compreende-se, não é de hoje o divórcio entre o povo e a política racional. Sheakespeare, pelas palavras de César, já vislumbrava o fenômeno: "Desde os primórdios nos ensina o tempo /De quem é foi desejado até ser. /O que cai, nunca amado no poder, /Fica caro na ausência. E o povo em massa,/Como bandeira vagabunda ao vento,/Vai e volta, lacaio da maré,/Até apodrecer.

Amadeu Garrido de Paulaé Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.

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