quinta-feira, 28 de maio de 2020

Depressão... A dor da vida não vivida

Por Adriana Garibaldi


Depressão é a doença do século que, sem dúvida, provoca extremo sofrimento, em todas as idades, principalmente na terceira idade. Uma terrível praga da alma. Intensa dor do coração.

Não sou psicóloga, mas sei, por experiência própria, o significado desse triste adoecimento, chamado depressão.
É necessário refletir, fazendo um autoanálise, para tentarmos entender e contornar um mal como este. Que, sem uma causa aparente, instala-se no corpo e na psique, levando-nos a uma falta permanente de motivação e de entusiasmo. Um sentimento de desvalia profundamente destrutivo.

Depressão... A dor da vida não vivida. Esta é a minha visão particular a respeito deste drama da mente humana.

Muitos sofrimentos, perdas, amores frustrados e tantos outros que nos levaram às raias da loucura. Compõem um amontoado de dor e mais dor a povoar as prateleiras empoeiradas de nossa historia pessoal.

A vida se basta a si mesma, quando é vivida na intensidade e no tempo devido.
Viver a infância, como ela precisa ser vivida. Viver a adolescência, ou a vida adulta no diapasão correto, intensamente. Representa aquilo que nos pode garantir uma velhice saudável, sem o fantasma da depressão.

Aquilo que não nos permitimos viver nem ser acaba se transformando num fardo por demais pesado para ser carregado, um sentimento de urgência por querer recuperar o tempo perdido que, infelizmente, não volta, perturba-nos a mente.

Por causa disso, vemos muitas pessoas na casa dos cinqüenta ou sessenta querendo parar o tempo, por meio de recursos artificiais, construindo somente uma falsa perpetuação de juventude que mais se assemelha à mascara grotesca. Uma imagem distorcida daquilo que foram algum dia.

Nada contra a cirurgia plástica, quando necessária e realizada com critério e responsabilidade.

Quando não nos permitimos viver a nossa existência com alegria e na intensidade de vida, ao chegar o tempo de envelhecer, carrega-se no coração o peso morto de um ciclo que não teve a sua conclusão natural. Não podemos fechar esse ciclo que nem sequer fora aberto algum dia.

Muitos daqueles da geração dos anos cinqüenta ou quarenta, casaram cedo, provavelmente, com o primeiro ou a primeira namorada, arrastando pela vida afora um casamento sem diálogo, sem cumplicidade, onde as mentiras e as traições permaneceram abafadas na surdina de um fazer de contas, sufocante.

Muitos deles estão aqui e agora, sofrendo as dores daquilo que poderia ter sido, mas não foi, por mil e uma razões, internas ou sociais.

A chegada da terceira idade poderia ser, contudo, um tempo de finalizações amenas.

O final da vida está quase aí, à volta da esquina, e a solidão representa uma condição muito comum, quando os filhos partiram para viverem suas próprias histórias, quando, muitas vezes, um dos cônjuges mudara-se para um outro plano.

Hora em que se faz imprescindível avaliar a própria história e, nessa avaliação, muitos esbarram na dor de constatarem não terem vivido aquilo que um dia sonharam. Uma história cheia de... e se? Ou... Se eu tivesse feito de forma diferente...
Aqueles sonhos que ficaram perdidos no tempo não podem ser recuperados, mas podem com certeza, serem revistos.

Seria maravilhoso se um dia nos fosse possível nos transformarmos em Deuses ou Deusas do tempo, para ressuscitar as nossas histórias e fazer diferente dessa vez.
Quem não sonha ou sonhou vestir uma capa vermelha, ao estilo "Super Homem" e ter o poder de voltar ao passado. Não horas, mas anos. Não dias, mas décadas. Quanta frustração poderia ser revista e transformada.

É preciso amar... as pessoas como se não tivesse amanhã... Canta Legião Urbana.

Amar, sim, amar com a intensidade necessária e até com a paixão devida... Por que não?
Quem rotulou a paixão como algo quase... digamos: Sinistro?
Viver!!!
Ah!! Quanto é belo, quando é apaixonante, quanto é intenso.

Quem disse que a vida pode ser vivida sem paixão?

Contudo, às vezes imaginamos ser tarde demais e a gente se acostuma a sobreviver arrastando-se pelo tempo, como um zumbi.
A velhice e a morte nos pegam desprevenidos, num piscar de olhos. Nem lembramos quando a primeira ruga, ou o primeiro fio branco de cabelo nos deu um sinal incontestável de que a roda da vida começava a imprimir um movimento descendente.
Sinais do corpo como a gritar em nossos ouvidos: acorda!!! Viva, enquanto é tempo, enquanto é hora, de ser aquilo que se deseja.
De se amar, com a acuidade necessária, para sermos capazes de amar da mesma maneira aqueles que viajam a nosso lado, no comboio do ser e do existir.

A juventude é uma dádiva. Pena que somente se percebe isso quando já o tempo está prestes a concluir a sua história, na maioria das vezes, uma longa história de esquecimento de si mesmo.

Muitos denominam a terceira idade como: melhor idade... Desculpa, mas, parece piada.
Sem querer fazer a apologia da juventude, acredito que quem inventou essa frase deve ter sido algum jovem desavisado.
Desavisado, sim!!! Dos ismos do tempo da velhice...

Aqui uma outra frase brilhante que acho o fim:
"Sempre existe um chinelo velho para um pé cansado"... Patético!!
Quem é capaz de desejar um chinelo velho?... Nem de forma objetiva, nem tampouco figurada...
E isso de pé cansado... Não existe isso de pé cansado.
Os pés foram feitos para a dança!!! Para a celebração!!!(como diria o Mestre Osho)
Para se movimentar no compasso da vida.
Falar de chinelo velho?... Socorro!! Tenha dó!!!
Prefiro um sapato de verniz, como usavam nossos avós!!!
Poder dançar juntinhos, de rosto colado, uma dança para celebrar o fato de estarmos vivos... Ainda estarmos vivos!!!

Sem dúvida, não é possível vivermos num corpo eternamente jovem, seria absurdo imaginar tamanha proeza da Engenharia Genética. A não ser para algum Highlander do cinema americano. Mas, podemos, sim, aprender a celebrar a vida, em qualquer tempo.

A nossa alma não tem idade, infelizmente o corpo não é capaz de concordar com essa realidade essencial.
Mas... pé cansado?! Chinelo velho? Ninguém merece!!

Aí aparece alguém, com boas intenções, nos recomendando procurar um grupo de terceira idade .. para aprender tricô...
Sem dúvida, para algumas pessoas isso pode ser benéfico e até empolgante, mas para outras?... A antessala do Inferno!!!

Então aí, chega o tempo da depressão. Da dor daquilo que já não pode ser vivido ou daquilo que nem sequer fora vivido um dia.

Sem dúvida, não podemos cair na loucura de intentarmos viver aos sessenta anos aquilo que somente é possível aos vinte ou trinta.
Mas não precisamos com isso nos conformar em vestir a personagem que as outras pessoas imaginam adequada para nós. Isso não seria saudável, em nenhuma idade. Aqui podemos compreender porque é tão comum a depressão nessa face da vida.

Considero esta forma de depressão como "um grito da alma". Um pedido de socorro do coração que tem sede de viver com intensidade, amor, luz e alegria, o tempo que lhe resta. Para assim, quando as portas da vida se fecharem, seja-lhes possível mergulhar, sem medo, para fora do veículo carnal, que acabou de completar seu ciclo.
Mergulhar na morte precisa ser um movimento de libertação e de expansão, uma história que necessita ser fechada com chave de ouro. Não arrastando conosco, para um outro plano, as amarguras e depressões, por aquilo tudo que não nos permitimos viver, levando para uma outra existência, as mesmas mazelas e frustrações acumuladas nesta, ou em existências passadas.

Limpemos, enquanto é tempo, a estante empoeirada de recordações dolorosas, de amores não vividos, de sentimentos recalcados e emoções falsificadas. E, se não nos for possível, por circunstâncias óbvias, vivermos a vida com a intensidade que gostaríamos, vivamos, pelo menos, o tanto que nos for possível viver e desfrutar dessa dádiva do existir, num tempo chamado agora.

O nosso corpo pode estar desgastado pela passagem dos anos, o nosso rosto sem o viço dos vinte anos, mas o nosso coração ainda é capaz de pulsar, com a mesma intensidade de sempre...
Dancemos esta dança, vivendo intensamente antes que as cortinas do palco se fechem e devamos aguardar que um novo espetáculo volte a ser encenado, quem sabe quando...

Adriana Garibaldi

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