Para especialistas, momento pede atenção e dá oportunidade de ensinar a esperar
Crianças e jovens têm se mostrado cada dia menos tolerantes à espera. A atual geração, com tanta tecnologia e informação à distância de um clique, é a que mais sofre de ansiedade na história. O significado mais aceito de ansiedade hoje em dia é do psiquiatra Aubrey Lewis que, em 1967, descreveu o termo como “um estado emocional com a qualidade do medo, desagradável, dirigido para o futuro, desproporcional e com desconforto subjetivo”, ou seja, uma angústia pelo que ainda está por vir.
Dados de uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mostram que os casos de ansiedade e estresse tiveram um aumento de 80% durante o isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus. O estudo foi feito por meio de um questionário on-line durante os dias 20 de março e 20 de abril e contou com a resposta de 1.460 pessoas de 23 estados.
Enquanto isso, são inúmeros os casos de denúncia de jovens furando a quarentena para realizar festas e encontros com amigos. E nas redes sociais, a espera pela saída de casa está entre os tópicos mais comentados. Para a diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino, Acedriana Vicente Vogel, essa falta de sabedoria ao lidar com a espera é uma característica cada vez mais presente entre os mais jovens e é resultado de uma criação, tanto em casa quanto na escola, que não os prepara para serem pacientes. “Há escolas que afirmam acelerar processos ‘porque a família exige’. Há algo tão distorcido nesse processo que há empresários impressionados com a quantidade de jovens que ingressam no mundo do trabalho certos de que vão sentar, no primeiro dia, na cadeira de Diretor Geral. Por quê? Porque desde a Educação Infantil, há meninos e meninas que não estão sendo educados para o respeito ao tempo de espera, para a disciplina que exige perseverança, alteridade e acolhimento”, expõe.
“Talvez seja esse motivo que os gráficos apontam nas pesquisas, de forma contundente, que os profissionais recém egressos das escolas são admitidos pela sua inquestionável qualidade técnica - e demitidos, em sua grande maioria, por sua extrema incapacidade de estabelecer relações sociais”, exemplifica Acedriana, lembrando que a perseverança deve fazer parte de habilidades socioemocionais desenvolvidas ao longo da vida e está sendo de imensurável importância no cenário atual e, por isso, precisa ser trabalhada pelos pais ao demonstrar a necessidade da espera e, muitas das vezes, a recompensa da mesma. “Respeitar o tempo das coisas implica no equilíbrio entre a proatividade ansiosa que elimina os encantos da espera e o simples esperar sentado”, finaliza.
Central Press
Central Press
Nenhum comentário:
Postar um comentário