Um opúsculo, do superior literato da língua inglesa, Thomas De Quincey, segundo Jorge Luis Borges, passível de ser lido numa curta viagem, vem de ser amplamente divulgado entre nossas letras: "Os últimos dias de Imannuel Kant".
Numa fase embrionária e experimental da medicina - séculos XVIII e XIX - os sofrimentos humanos eram terríveis, sobretudo quando se inseria o homem na inevitável senectude. A ponto de De Quincey ter ficado dependente, relativamente, do ópio, para aliviar lancinantes dores de dente, algo comum em sua época.
Às insuportáveis dores de Kant em seus últimos dias, juntam-se pequenas falas, balbuciantes e brilhantes, a exemplo, muito próximo do fim, ao tratar com lhaneza todos os que o cercavam e ainda proferir uma de suas históricas máximas morais: não cairei ao extremo mais baixo da escala humana, mesmo próximo à morte, faltando com a cortesia. Outro episódio: a um empregado que o serviu por próximo de 40 anos, mas nada exemplar, só o demitiu depois de muitas considerações e, ainda assim, com uma régia compensação, não obrigatória na época. Algum tempo depois, ao receber dele um pedido de carta de referência de emprego, não a deu, como de hábito, mas descreveu as exatas condutas - entre boas e más - do servidor.
A verdade absoluta que o velho filósofo defendia intransigentemente, como se vê de sua "Crítica da razão pura". Apenas aquiesceu em revogar um testamento, em que pedia o mínimo de pessoas em seus funerais, para atender às expectativas da academia de Konigsberg, em cuja cadeira sucedeu a Lieibniz, ambos por quarenta anos de atenção a seus discípulos. O féretro demandou dez dias, passou por várias igrejas até a Catedral final, onde estão sepultados os homens de gênio.
No momento brasileiro atual, o contraste da mensagem ética arrepia, embora também tenhamos nossos Kants.
Amadeu Garrido
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