quinta-feira, 9 de setembro de 2021

As motivações do ciclo de ódio provocado por “Haters” nas redes sociais


No último fim de semana, uma matéria na TV aberta, expôs a cultura do ódio e perseguição provocada por “Haters” (odiadores), tendo como alvo tanto, pessoas famosas, quanto anônimas. Um avanço do extremismo do julgamento nas redes sociais que pode provocar sérios danos à saúde mental das vítimas, inclusive motivando episódios suicidas. E o que leva uma pessoa a destilar o ódio na internet? Quais as consequências na vida de quem está na mira destes ataques virtuais?


Para melhor entender essas questões, antes de falar da cultura do ódio devemos analisar a cultura do narcisismo que pode ser a mola impulsionadora deste movimento nocivo ao ser humano, afinal desejamos que o mundo veja uma realidade diferente daquela que muitas vezes vivemos, e as redes sociais nos permitem isso.


Uma verdadeira explosão de espelhos irreais que nem sempre refletem nossa vida real. Além disso, a falsa ideia de invisibilidade ou de “estar protegido” por uma tela, alimenta a permissividade, a segurança e a onipotência validando as agressões preconceituosas, as palavras de humilhação e de julgamento que culminam no ódio generalizado.


Ataques que, muitas vezes, fogem do controle e provocam danos irreversíveis naqueles que estão sendo atacados, causando sérios desequilíbrios à saúde mental de suas vítimas, inclusive motivando o desejo de eliminar a dor e a vergonha tirando a própria vida.


Apesar de termos hoje a ajuda das delegacias especializadas em ataques virtuais, equipadas com instrumentos de rastreio tecnológico cada vez mais avançados, capazes de localizar e identificar um “Hater” expondo sua verdadeira identidade de forma rápida e assertiva, a internet ainda traz a falsa atmosfera de impunidade e condescendência, na qual o indivíduo impiedoso acredita que possa estar protegido por uma tela e que, desta forma, é possível agir como bem entender: julgando, gerando ódio, apontando dedos, caluniando, humilhando, ridicularizando, expondo, e usando de racismo e preconceitos para provocar o caos na vida de alguém.


Mas por que a necessidade gratuita de atacar alguém que muitas vezes, não se tem qualquer intimidade ou relação? Quem é esse indivíduo e o que ele ganha com esses ataques? Sem dúvida, é uma pessoa de autoestima baixa, complexos enraizados, carência afetiva latente e infeliz no que diz respeito à realidade em que vive.


A grande verdade é que, naturalmente, dentro de nós existe todo tipo de sentimento, bons e ruins, positivos ou negativos, como: alegria, esperança, serenidade, paz, humildade, empatia, bondade, verdade, generosidade, perdão, fé, compaixão, harmonia, e tantos outros pensamentos e emoções positivas.


Mas também abrigamos sentimentos negativos, como:  a inveja, a raiva, o ódio, medo, raiva, ciúme, tristeza, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho, superioridade, ego e tantas outras emoções negativas. No entanto, quais sentimentos irão prevalecer é uma escolha e decisão nossa ao longo de nossa trajetória.


O fortalecimento de um ou outro sentimento dentro de nós vai depender do quanto consumimos e alimentamos cada um deles internamente. E, a consequência de tudo isso, será refletida em nosso comportamento e na forma como gerenciamos nossas relações, sejam elas virtuais ou não.


Porém, a grande dificuldade é a resistência de alguns seres humanos em se manifestar de forma a elogiar ou valorizar o outro, visto que essa reação positiva está altamente ligada ao equilíbrio emocional deste indivíduo e em como ele se relaciona com sua autoestima.


Se, por algum motivo existirem sentimentos e resquícios de perversidade em sua psique, certamente, o ódio e a raiva serão evidenciados em sua vida cotidiana e destilados a todo momento por todos os lados, sem qualquer sentimento de culpa ou dor.


O ataque perverso gera prazer e estimula hormônios como a adrenalina e a oxitocina, além de provocar uma sensação de empoderamento ao “Hater” fazendo com que ele sinta uma espécie de prazer impulsivo através dos ataques que provoca na internet.


Desta maneira, as redes sociais por terem a falsa proteção de camuflagem, incentivam o sujeito a fazer uso destes canais como forma de descarga dessa energia, ou, ainda, como um meio de extravasar as fantasias perversas mais inconscientes, as quais ele não teria incentivo ou coragem de realizar no mundo real.


Enfim, psicanaliticamente falando, o “Hater” que dissemina discursos de ódios nas redes, na maioria das vezes, apresenta desvio de comportamento e caráter, caracterizado por sinais de sociopatia, ou seja, ausência de empatia em relação ao outro.


Ou até mesmo, uma psicopatia motivada pela perversidade, na qual sente um prazer nefasto em saborear o sofrimento e a dor do próximo sem qualquer remorso ou culpa. Mas, independente, de qualquer rótulo diagnóstico eles devem ser identificados e punidos pelos crimes que estão praticando.


E, o mais indicado, é que suas vítimas não devem responder aos ataques ofensivos e criminosos recebidos, por mais doloroso que seja. Pois, responder e contra-atacar alimenta o “Hater” e fortalecer seu discurso de ódio, já que ele passa a sentir que os holofotes estão voltados para si, potencializando ainda mais sua veia narcísica.


A denúncia deve ser feita nas delegacias especializadas no mundo virtual, para que os crimes praticados sejam investigados e não caiam na impunidade.


Além disso, ao se sentir mal, triste, depressivo, humilhado e exposto por situações como essa, deve-se buscar ajuda de um profissional de saúde mental que, com os instrumentos adequados, poderá auxiliar no fortalecimento da autoestima, no resgate do amor próprio, na ativação da alegria de viver e no aumento da consciência de sua importância enquanto ser humano.


Afinal, o mundo virtual deve ser usado com moderação de forma a entreter e trazer informação, aproximando e não afastando ou adoecendo mentalmente os indivíduos.

 

Dra. Andréa Ladislau

Psicanalista Psicanalista Andréa Ladislau: doutora em psicanálise, psicopedagoga, palestrante, administradora, membro da Academia Fluminense de Letras, colunista do site UOL e de outros veículos importantes do país.

 

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