*Por Suelen A. da Silva e Gabriel Cardoso de Mello
Grandes eventos esportivos como os Jogos Olímpicos e as Paralimpíadas sempre deixam boas lembranças e marcas em todos nós. Dos dois últimos eventos, além do ano discrepante, teremos como recordação as arquibancadas vazias, uma consequência da pandemia da Covid-19.
Hoje, os Jogos Olímpicos, são considerados o maior evento esportivo do planeta, com o objetivo estimular a competição sadia e justa entre os povos dos cinco continentes. E quando falamos em justiça aplicada a diferentes povos do mundo, imediatamente a Governança se faz presente. Como dizia Pierre de Coubertin, considerado o fundador destas competições, “O Importante não é vencer, mas competir. E com dignidade”. E como garantir dignidade, transparência e justiça sem Governança? Não há como.
A Governança sempre esteve presente na organização de grandes eventos, evoluindo em modelos, sistemas e programas ao longo dos anos, permitindo e sustentando toda estratégia e execução para tornar a sociedade esportiva um ecossistema mais sustentável. A estrutura de Governança das Olimpíadas foi modelada e remodelada diversas vezes pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), desde 1894, o que demonstra a sua constante evolução e atualização, capaz de absorver novas perspectivas, stakeholders e o status de ever changing risks.
Os processos de Gerenciamento de Riscos apareceram pela primeira vez no planejamento das Olimpíadas em 1988, nas Olimpíadas de Inverno de Calgary, utilizando pesquisas de eventos passados com o objetivo de avaliar a exposição a riscos e rever contratos para também avaliar riscos potenciais e outros pontos. Em 2010, nas Olimpíadas de Inverno de Vancouver, o Comitê Olímpico foi responsável pela completa implementação de um programa de ERM (Enterprise Risk Management), categorizando 53 áreas de desenvolvimento com riscos agrupados em: Anteriores aos Jogos, Durante os Jogos e Após os Jogos, criando assim uma cultura de gerenciamento a partir de uma perspectiva de gestão ativa, de antecipação a da materialização de riscos potenciais.
Em 2021, nos Jogos Olímpicos 2020 de Tóquio, buscando proporcionar um evento mais transparente e sustentável, o COI foi certificado por utilizar a padronização ISO 31000 para o framework de ERM, com o objetivo de ter processos e códigos claros na identificação, avaliação e gerenciamento dos riscos potenciais e seus devidos planos de mitigação. Além disso, o modelo de três linhas de defesa foi e vem sendo utilizado como uma forma de garantir uma robusta estrutura de Governança, com a preocupação de disseminar o Código de Ética durante os eventos esportivos.
De forma geral, a organização dos eventos esportivos vem caminhando para um modelo colaborativo e sustentável, não ficando somente a responsabilidade ao COI, mas também a todos os stakeholders, os quais apresentam as suas preocupações, contribuem para estruturas mais sustentáveis e promovem boas práticas socioambientais.
Nestas Olimpíadas, a estrutura de Governança e Gestão de Riscos foi colocada à prova devido à situação global em função da pandemia da Covid-19. O slogan dos Jogos, “Be better, together for the planet and the people”, propôs uma mudança de perspectivas e transformações atuais. Os esforços para proporcionar iniciativas sustentáveis como as instalações com camas produzidas com papelão, medalhas feitas com materiais recicláveis e transporte com carros elétricos e autônomos contribuíram fortemente com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, deixando um legado real à sociedade.
Todos esses aprendizados, tanto de Governança e Gestão de Riscos quanto de Sustentabilidade, são temas centrais para as Olimpíadas de Paris 2024. Num cenário de rápidas transformações e regulamentações mais rígidas e abrangentes que estão sendo formuladas e aplicadas a nível global, a Europa desponta como grande propulsora e incentivadora das boas práticas ESG e, dessa forma, tem como grande objetivo proporcionar a toda comunidade local e internacional os Jogos mais sustentáveis do mundo, criando referências em Sustentabilidade e inovação para as próximas edições.
Neste contexto, Paris será a primeira edição de Olimpíadas a obter um certificado internacional de Sustentabilidade, a ISO 20121, que atesta as melhores práticas em Sustentabilidade na organização de eventos globais, reforçando o comprometimento em assegurar que a Sustentabilidade, a Gestão de Riscos e a Governança sejam tratados com a máxima atenção. Será a primeira Olimpíada a estar alinhada com os objetivos definidos no Acordo de Paris para mudanças climáticas, tendo como uma das metas a redução em 55% da pegada de carbono dos Jogos, comparada à pegada de carbono de Londres 2012 e Rio 2016.
Há também um grupo formado por especialistas em compliance de todo o mundo que tem como objetivo garantir a conformidade dos Jogos com grande foco em questões de anticorrupção e direitos humanos, totalmente alinhado também com os ODS da ONU.
Assim como acontece em todas as empresas, a vontade, a organização e a Governança são pontos-chave para se alcançar os objetivos traçados em busca da concretização da estratégia almejada. Não podemos esquecer que em todas estas situações, seja nos eventos esportivos ou fora deles, há muito esforço, envolvimento e propósito que deixarão um legado para toda a humanidade.
Suelen A. da Silva é Research Coordinator na Bravo GRC, Mestre em Estratégia Empresarial pela FGV EAESP, com especialização em estratégia para negócios sustentáveis pela Harvard Business School
*Gabriel Cardoso de Mello é Research Analyst na Bravo GRC, cientista e entusiasta de assuntos relacionados à ESG com formação pela Universidade Federal do ABC
Sobre a Bravo GRC
A Bravo GRC é uma RiskTech líder na implementação de soluções robustas para Governança, Riscos e Compliance (GRC) com 15 anos de experiência e atuação. Somado ao core business de GRC, seu portfólio oferece tecnologias para Gestão de Riscos Corporativos (ERM), Environmental, Social and Governance (ESG), Cyber Security e Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
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