Neurocientista com formação em história e antropologia, Fabiano de Abreu lembra o passado conturbado do país que se tornou a grande preocupação mundial dos dias atuais.
Quem observa as fotos do Afeganistão nos anos 1960 pode ter uma sensação única e mista de curiosidade e incredulidade. Quem vê as imagens atuais de mulheres todas cobertas não imagina que até poucos anos atrás elas tinham a liberdade de usar saias ou terem seus cabelos à mostra nas ruas de Cabul e demais cidades daquela nação.
Estes registros foram feitos por um professor norte-americano chamado Bill Podlich. Em 1967, ele viajou para o país a serviço da Unesco e atuou como Conselheiro de Princípios de Educação. Com sua câmera, ele conseguiu captar imagens do que era o Afeganistão antes da invasão soviética e, principalmente, da instalação do regime autoritário do Talibã.
Quando se observa a história do Afeganistão, é preciso lembrar que o país já passou por uma série de invasões, reconquistas, revoluções, conflitos étnicos e políticos ao longo de vários séculos. Conforme lembra o PhD, neurocientista, historiador com pós em antropologia Fabiano de Abreu, “como se pode ver, até um pouco além da metade do século XX o rosto do país era uma cultura ocidentalizada, totalmente diferente de uma imagem de uma nação pobre, politicamente instável e sempre às voltas com o medo de uma bomba estourar e causar efeitos devastadores”.
“O país que no século XIX teve que enfrentar exército anglo-indiano durante algumas oportunidades. Tanto é que em um destes litígios, o líder Dost Muhammad foi deposto. Seu neto, Abd-ar-Rahman, teve que ceder territórios do país aos britânicos após uma derrota nesta disputa”, pontua Fabiano.
Vale lembrar que foi apenas há 102 anos, em pleno século XX, que o país declarou sua independência. “Iniciou um crescimento político e econômico, e é claro, modernização, pois as mulheres passaram a ter o direito de estudar. Na década de 1940, o país ingressou na Organização das Nações Unidas. Trinta anos depois, a república foi proclamada. Pouco tempo adiante, um golpe deu início a um programa socialista, e tudo mudou”, detalha Abreu.
Para vencer o controle socialista imposto pela União Soviética, um grande conflito marcou os anos 1980. “Depois de nove anos de guerra, quinze mil soldados soviéticos foram mortos, o que fez com que este litígio fosse chamado de “Vietnã Soviético”. Depois disso, o Afeganistão se tornou uma república islâmica. Além disso, uma assembleia nacional, composta por um grande número de facções rivais, líderes tribais e religiosos, aprovam a criação de um novo parlamento”, conta Abreu.
Foi quando a questão se tornou interna. Com tantos grupos diversos, um deles cresceu e apareceu: o Talibã, um grupo fundamentalista financiado pelo vizinho Paquistão. “De lá para cá, o grupo cresceu, tomou o poder e teve que se retirar quando os Estados Unidos invadiram o país após os atentados de 11 de setembro. Foram 20 anos de controle norte-americano, que terminaram recentemente”, destaca.
Agora, em pleno 2021, os americanos saíram de cena. Mas, para surpresa geral, o Talibã reassume o poder. “Enquanto isso, a história está escrevendo mais um capítulo diante de nossos olhos, sem termos a mínima ideia de como este filme real vai terminar. Hoje tememos a volta do terrorismo, sentimos pelas mulheres, vemos o apoio da China e da Rússia, numa guerra fria que parece nunca terminar”, completa o neurocientista e historiador.
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