A presidente Dilma Rousseff (PT) avaliou nesta terça-feira, 19, em entrevista a jornalistas estrangeiros, que ainda há muita coisa que não se sabe sobre corrupção no Brasil e que nem tudo está "escancarado". Ela ainda comparou a Operação Lava Jato "a um raio em céu aberto" e retomou o discurso de que a corrupção foi revelada e lançada à luz por causa de medidas tomadas nos governos dela e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
"Foi preciso a (lei da) delação premiada, o reconhecimento da independência dos procuradores, uma atitude da Polícia Federal e um conjunto de leis para que isso fosse descoberto", disse. Dilma afirmou ainda que a corrupção sempre foi feita "às escuras" para justificar o fato de ela não saber dos fatos revelados pela Operação Lava Jato. "Ainda tem muita coisa que não se sabe. Não vamos acreditar que está tudo escancarado".
"Conspiração"
Dilma também afirmou que a defesa do impeachment feita pelo vice-presidente Michel Temer deve-se à impossibilidade do grupo do peemedebista ser eleito em uma eleição direta. A petista voltou a dizer que o vice-presidente conspirou "de forma aberta" contra ela e ressaltou que os defensores de seu afastamento "estão vendendo terreno na Lua", em uma referência às articulações entre PMDB e PSDB para a composição de uma nova equipe ministerial caso o impeachment seja aprovado.
"A conspiração se dá pelo fato que a única forma de chegar ao poder no Brasil é utilizando de métodos, transformando e ocultando o fato que esse processo de impeachment é uma tentativa de eleição indireta, de um grupo que de outra forma não teria acesso pelo único meio justificável, que é o voto direto", criticou.
"Até o fim"
A petista disse que vai resistir até o fim do processo com "honra" e "dignidade" e voltou a criticar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo ela, o peemedebista acolheu o pedido de impeachment como "vingança" e na teoria do "quanto pior, melhor" para o país.
"Ele tem um antecedente que não o abona como juiz de nada, mas como réu", disse.
Segundo ela, o processo de impeachment "não vai trazer estabilidade política ao país", uma vez que rompe "a base da democracia". "Eu acredito que, sem democracia, o Brasil não se transforma, não recupera sua capacidade de crescimento", afirmou.
Getúlio Vargas
Em seu discurso, Dilma disse que desde o mandato do ex-presidente Getúlio Vargas o país tem um "veio golpista adormecido". Segundo ela, a partir da década de 1960, o "impeachment sistematicamente se tornou instrumento contra presidentes eleitos".
A petista ressaltou ainda que, desde a redemocratização do país, não houve um presidente que não tenha sido alvo de um pedido de afastamento no Congresso Nacional. Segundo ela, "infelizmente" o ex-presidente Fernando Collor sofreu impeachment em 1992.
O partido da presidente, o PT, defendeu quando estava na oposição ao governo federal tanto a saída de Fernando Collor como a de Fernando Henrique Cardoso, em 1999.
"O Brasil tem um veio que é adormecido, um veio golpista adormecido. Se acompanharmos a trajetória dos presidentes dos meu país, a partir de Getúlio Vargas, vamos ver que o impeachment sistematicamente se tornou instrumento contra os presidentes eleitos", disse.
A petista disse ainda que é vítima de um processo de impeachment baseado em uma "flagrante injustiça" e em uma "fraude jurídica e política".
Preconceito
A petista disse ainda que, no processo de impeachment, tem sido vítima também de preconceito por ser mulher. Para ela, o tratamento dado ao presidente neste momento seria diferente se fosse do sexo masculino.
"Há misturado nisso tudo um grau de grande preconceito contra a mulher. Há atitudes comigo que não seriam feitas com um presidente homem", disse.
Jair Bolsonaro
A presidente também criticou discurso feito pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que dedicou seu voto favorável ao impeachment ao coronel Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI em São Paulo.
Segundo ela, a homenagem é "lamentável" e "terrível" e demonstra que a discussão sobre o impeachment deu abertura no país à "intolerância" e ao "ódio".
"É terrível ver no julgamento alguém votando em homenagem ao maior torturador que este país conheceu", disse. "Eu fui presa nos anos 1970 e de fato conheci bem esse senhor a que ele se refere. Ele era um dos maiores torturadores do Brasil e sobre ele recai acusações de tortura e morte", criticou.
Pressão da oposição
A presidente também acusou os partidos de oposição de terem atuado contra a sua gestão desde que foi eleita, em 2014. Para ela, seu segundo mandato tem o "signo da desestabilização política".
"A eleição perdida por uma margem pequena tornou no Brasil a oposição derrotada bastante reativa a essa vitoria e, com isso, começou um processo de desestabilização do meu mandato desde o início dele", disse.
Pedaladas fiscais
Ela ainda voltou a dizer que gestões anteriores também cometeram as chamadas "pedalas fiscais" e que, caso o processo seja válido contra ela, deverá também ser aplicado a outros governos da federação que também praticaram manobras contáveis.
"É por isso que se diz que se valer o meu processo do impeachment, não sobra nenhum governo do passado com as mesmas características que o meu, assim como muitos outros da federação nacional", disse.
Ela disse ainda que não pesa contra ela nenhuma denúncia de corrupção. "Não tenho nenhum processo por corrupção, não há provas contra mim ou qualquer outro tipo de irregularidade que tenha cometido com dolo ou má-fé", criticou.
Ela afirmou ainda que não pode ser apontada como única responsável pela crise econômica, uma vez que o cenário é desfavorável não apenas para o país, mas também para países desenvolvidos e em desenvolvimento no país.
O Tempo
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