sexta-feira, 15 de abril de 2016

Estrangeiros preveem caos

As últimas semanas renderam grande destaque para o Brasil na imprensa internacional, a ponto de o jornal britânico “Financial Times” dizer acreditar que o impeachment da presidente Dilma Rousseff pode ser apenas o começo de mais problemas para o Brasil.
Em reportagem publicada nesta quinta, o correspondente do jornal no país, Joe Leahy, explica o complexo cenário político que marcará a votação do impeachment na Câmara no domingo. O texto chama a atenção para o que chama de “julgamento político” de Dilma, embora ressalte as acusações relacionadas às pedaladas fiscais.
“O impeachment é, essencialmente, um voto de desconfiança. Rousseff está entre as mais impopulares líderes da história democrática do Brasil”, disse Leahy. O “FT” afirma que há a possibilidade de o processo de impeachment trazer maior instabilidade ou “jogar o país no caos”.
O jornal cita o fato de o vice­presidente e possível substituto de Dilma, Michel Temer (PMDB), também correr o risco de perda de mandato por causa da investigação sobre o financiamento da campanha eleitoral que, em 2014, reelegeu ambos. E, apesar de classificar um eventual governo Temer como mais “amigável” para o mercado, aponta o risco que ele enfrentaria ao ter o PT de volta à oposição, sobretudo por causa da tese defendida por Dilma e seus aliados de que o impeachment é um golpe.
A publicação britânica ressalta a crise econômica brasileira e vê culpabilidade de Dilma, além de mencionar que, embora não seja alvo das investigações do escândalo de corrupção da Petrobras, ela foi presidente do Conselho de Administração da estatal entre 2003 e 2010, período em que o esquema operou.
O texto inclui ainda uma comparação com os eventos que levaram ao afastamento de Fernando Collor de Mello da Presidência da República, em 1992, em que Leahy observa o fato de tanto ele à época quanto Dilma terem uma popularidade baixíssima. Mas o “FT” observa que, ao contrário de Collor, Dilma tem o apoio de um partido forte no Congresso.
França. O jornal francês “Le Monde” também destacou o atual cenário brasileiro, publicando nesta quinta um perfil de Temer, o “homem dos bastidores” que pode virar presidente caso Dilma seja afastada. Discreto, elegante, glacial. É assim que o “Le Monde” descreve o vice-presidente, “filho de imigrantes libaneses, profissional da política e das intrigas parlamentares”.
O jornal lembra que o ex-líder do PMDB não tem 3% das intenções de voto, mas pode virar presidente. A publicação diz que Temer sabe que sua hora chegou e não esconde isso, citando o áudio vazado de união nacional, no qual promete fazer as reformas necessárias para o país e garantir a “perenidade dos programas sociais”.
O jornal também lembra que Temer é qualificado de “ejaculador precoce” do Planalto, que se comporta como se a batalha estivesse ganha e que suscitou a indignação de Dilma Rousseff. A presidente vê no vice-presidente e seu ex-aliado “o chefe dos conspiradores”. O papel de “traidor adjunto” caberia a Eduardo Cunha, presidente da Câmara, próximo da bancada evangélica, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Para o “Le Monde”, Cunha quer transformar a votação de domingo em um grande espetáculo público, transmitido pela Globo.
Além disso, a ação de Lula nos bastidores, diz o “Le Monde”, não impede a derrocada de Dilma. “Mesmo batalhando nos bastidores ou oferecendo ministérios em troca de apoios, a hemorragia continua”, escreve a jornalista Claire Gatinois. “Os indecisos se posicionam no campo que tem mais chances de vencer. Quanto mais as demissões se acumulam, mais o governo sai fragilizado”, avalia Marco Antonio Carvalho Teixeira, cientista político da Fundação Getulio Vargas, entrevistado pelo jornal.
Pelo mundo
Diversas publicações internacionais seguem dando destaque ao atual cenário político no Brasil.

Tanto o britânico “The Guardian” quando o norte-americano “The New York Times” destacaram nesta quinta que a presidente recorria ao Supremo em uma última tentativa para reverter uma “provável derrota” no processo de impeachment.

A rede britânica BBC também destacou o pedido ao Supremo e ainda relembrou que Dilma Rousseff insiste em apontar que um “golpe” está sendo orquestrado contra seu governo e que irá lutar até o último minuto – apesar da deserção de aliados que pretendem votar a favor do impeachment no domingo.
CNBB faz alerta contra interesses

São Paulo
. Às vésperas da votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo plenário da Câmara, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) defendeu nesta quinta que o processo de deposição da presidente da República não pode atender “interesses pessoais, partidários e corporativistas”, respeitando “o ordenamento jurídico do Estado democrático de direito”.

“Seria deselegante de nossa parte ficarmos citando nomes, mas creio que essas questões todas envolvem também o julgamento do impeachment. É preciso ter consciência de que não pode ser um mero interesse pessoal, partidário e corporativista. Tem que seguir a Constituição e a verdade dos fatos”, afirmou dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário geral da CNBB, citando trecho da declaração divulgada pela entidade.

Em documento intitulado “Declaração da CNBB sobre o momento nacional”, divulgado nesta quinta, durante a 54ª Assembleia Geral da CNBB, que termina hoje em Aparecida, interior paulista, a entidade diz que o “bem da nação requer de todos a superação de interesses pessoais, partidários e corporativistas”.

O presidente da CNBB, dom Sérgio da Rocha, afirmou que a entidade optou por “não manifestar uma posição político­partidária nem emitir um parecer mais técnico” sobre o impeachment de Dilma porque seria entrar em um campo que não diz respeito à Igreja Católica.
Declaração

Bispo
. O vice­presidente da CNBB, dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, disse que a CNBB “não se julga uma instância competente para esse julgamento (do impedimento)”.
Idealizador discorda do impeachment

São Paulo
. Idealizador da Lei da Ficha Limpa, que só nas eleições de 2014 impugnou 500 candidaturas no país, o juiz maranhense Márlon Reis considera incabível o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O magistrado argumenta que um pedido baseado em falhas administrativas, a despeito de sua gravidade, não justifica a perda do mandato.

Para o juiz, a melhor solução é o julgamento da chapa de Dilma e Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral, não importando o resultado.

Em entrevista à “Folha”, o magistrado disse ainda concordar com a atuação do juiz Sérgio Moro na condução da operação Lava Jato e elogia o instrumento da delação premiada.

Ele foi questionado sobre o atual cenário político e se cabe o impeachment da presidente Dilma.

“Não há cabimento para o pedido, porque se baseia numa falha administrativa, que, apesar de considerável, jamais poderia autorizar a destituição da titular do mais alto cargo da estrutura da República”.
O Tempo

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