Artistas e intelectuais lançaram, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um manifesto contra a "ameaça à democracia" que representa, segundo eles, o possível impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O documento foi lido pelo escritor Eric Nepomuceno no palco da Fundição Progresso, na Lapa, no centro do Rio.
"O que vivemos hoje no Brasil é uma clara ameaça a algo conquistado a duras penas: a democracia. Uma democracia ainda incompleta, mas que soube, nos últimos anos, avançar de maneira decidida na luta contra desigualdades e injustiças na eterna tentativa de transformar este país na casa de todos e não de uns poucos privilegiados. Nós, trabalhadores das artes e da cultura, estamos unidos na defesa da democracia. Somos integrantes das mais diversas opções ideológicas, políticas e eleitorais, mas nos une, acima de tudo, a defesa da democracia."
O documento é assinado por artistas e intelectuais como Chico Buarque, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Leonardo Boff, José Celso Martinez Corrêa, também presentes ao ato.
Lula foi ovacionado pelas cerca de 2.000 pessoas presentes ao ato, segundo a direção da Fundação Progresso. Militantes entoaram o coro "Lula ladrão, roubou meu coração" assim que o ex-presidente apareceu. Também cantaram "Olê olá Lula" e "Lula guerreiro do povo brasileiro". Havia expectativa de um discurso do petista, o que não ocorreu até as 20h.
Os discursos misturaram defesa do mandato da presidente com cobrança a Dilma. O ator Gregório Duvivier disse que o ato não era um ato de adesão ou apoio ao governo. Ele afirmou não ser um eleitor de Dilma, mas defendeu sua permanência. "A mensagem não é Dilma fica. É fica e melhora."
Na mesma linha, o ator Wagner Moura disse, em vídeo exibido na casa de show, não achar que Dilma seja "uma presidente extraordinária". "Eu nunca votei nela. Mas 54 milhões de outras pessoas votaram", disse o ator.
Para ele, a democracia brasileira é frágil, mas avançou devido a políticas dos governos Lula e Dilma.
"O que acontece hoje é uma tentativa clara de retrocesso da democracia brasileira. Em 2012 houve um golpe no Paraguai. Não é paranoia brasileira. Tenho orgulho de dizer que a minha geração, assim como a de 1964, não está se omitindo".
"O que acontece hoje é uma tentativa clara de retrocesso da democracia brasileira. Em 2012 houve um golpe no Paraguai. Não é paranoia brasileira. Tenho orgulho de dizer que a minha geração, assim como a de 1964, não está se omitindo".
O líder indígena Sônia Guajajara criticou governo mas se posicionou contra impeachment. Enquanto discursava, militantes puxaram o grito "Fora Kátia Abreu", atual ministra da Agricultura. "Nós, indígenas, sabemos o que é opressão. O avanço está longe de ser o que esperávamos deste governo. Ele errou! Queremos a demarcação de nossas terras. Mas a situação que se instala hoje pode ser pior."
O dramaturgo Aderbal Freira Filho afirmou que quem quer o impeachment é a oposição derrotada nas urnas. Pediu que quem peça a "renúncia" seja o senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado na última eleição presidencial. "Aécio, cara, renuncia à presidência que você não ganhou".
Do lado de fora da casa de shows, militantes também se reúnem sob os Arcos da Lapa, em frente ao palco montado pela Frente Brasil Popular. Ativistas estenderam cartazes de apoio à presidente Dilma no alto dos arcos, onde passava o bondinho de Santa Teresa, atualmente desativado. Policiais militares retiraram, sob vaias, as faixas por volta das 17h40.
O Tempo
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