domingo, 21 de agosto de 2016

Brasileiro vai para cama tarde e dorme pouco

O descanso restaurador que só o sono é capaz de produzir tem sido cada vez mais sacrificado pelos brasileiros. Motivados por obrigações sociais e pressionados a dar conta de todas as tarefas diárias, eles estão indo para a cama cada vez mais tarde e dormindo cada vez menos.
A enfermeira Lívia Dutra, 32, por exemplo, conta que só consegue descansar depois que o filho Edu, 2, dorme. E isso geralmente acontece após às duas da madrugada. Como durante o dia não dá para fazer tudo, Lívia conta que já trocou as horas de sono para arrumar a casa, fazer as unhas e adiantar o almoço do dia seguinte. Com isso, Lívia acaba dormindo cerca de seis horas. “Acho que 24 horas é muito pouco!”, afirma.
Esse padrão de sono cada vez mais espremido entre os afazeres foi identificado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Eles coletaram dados de usuários de 20 países por meio de aplicativos de celulares e descobriram que, ao lado de países como Singapura e Japão, os brasileiros estão entre os povos que menos ficam na cama – em média, sete horas e 34 minutos –, diferentemente de holandeses e franceses, que dormem mais de oito horas por dia. Em Singapura o sono não dura mais do que sete horas e 24 minutos, e os japoneses permanecem sete horas e 31 minutos deitados.
O trabalho, publicado na revista científica “Science Advances”, recolheu ao todo dados sobre o sono de 8.000 pessoas. Essa amostra permitiu que os pesquisadores destrinchassem o material para entender como gênero, idade e fatores culturais influenciam esse comportamento. Perceberam, por exemplo, que, em geral, os usuários mais velhos dormem menos do que os mais novos, e as mulheres dormem, em média, 30 minutos a mais do que os homens cada noite.
Para o empresário e engenheiro Joaquim Gaspar, 40, seis horas e meia por noite são suficientes. “Sempre corri da cama. Geralmente durmo por volta de 0h30 e acordo às 7h, mas não pretendo mudar, pois quando durmo mais me sinto mal, fico meio zonzo, enjoado, não gosto”, afirma.
Outra conclusão do estudo foi a de que as pessoas que passam algum tempo sob o sol por dia tendem a ir para a cama mais cedo e a dormir mais do que aquelas que passam a maior parte do seu tempo na luz artificial. E essa exposição é muito importante para o organismo, uma vez que o sono é conduzido por um relógio interno que codifica a nossa exposição à luz diária para regular várias funções do corpo.
O desequilíbrio está acontecendo, segundo os pesquisadores, porque os fatores culturais determinam a hora em que dormimos – quão tarde ou quão cedo vamos para a cama. Mas interferem pouco no horário de despertar, ainda fortemente influenciado pelo relógio biológico. E, no fim, é o horário em que você vai para cama que dita se você vai dormir muito ou pouco.
De acordo como professor de bioinformática e um dos autores do estudo, Daniel Forger, cada meia hora de sono faz uma grande diferença em termos de função cognitiva e saúde em longo prazo. “Um em cada três adultos não está cumprindo o mínimo recomendado de sete horas. A privação do sono aumenta o risco de obesidade, diabetes, pressão arterial alta, doença cardíaca, acidente vascular cerebral e estresse”, diz.

NÚMEROS

7h34 é a média de horas de sono do brasileiro.
30 min a mais, em média, as mulheres passam na cama.
7h é o mínimo de horas de sono.

Aplicativo teve acesso aos padrões de sono mundiais

A aplicativo usado na pesquisa é o Entrain, lançado em 2014 para ajudar o usuário a se recuperar do jet lag, pois quem viaja para locais com fusos horários diferentes leva um tempo para se acostumar. Contudo, ele acabou tendo acesso aos horários de sono de pessoas em todo o mundo, o que permitiu o estudo inédito, até então só feito em laboratórios, com voluntários monitorados por câmeras e eletrodos. Para deixar a vida de “vampira”, como o próprio marido de Lívia brinca, ela aposta na escolinha que o filho irá frequentar no próximo ano. “O corpo pede para dormir, fico irritada, nervosa, mas com a escolinha vou conseguir me organizar, vou ter horário, rotina”, espera a mãe. (LM)
O Tempo

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