segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Meu Pai

O Tempo

Vittorio Medioli


PUBLICADO EM 14/08/16 - 04h30





Pensando em meu pai, decidi dedicar minha crônica de hoje aos pais e ao seu papel de educador. Pois ao pai não cabe somente a função de fecundar óvulos; tem o dever de preparar os filhos para a vida.

Lembrando-me dele, é inevitável me lembrar de minha cômoda posição de filho. Digo cômoda porque ele sempre se preocupou em dar um generoso apoio para minha formação, todavia sem me conceder luxos ou extravagâncias. Era uma pessoa austera, detestava esbanjamentos e fazia questão de mostrar humildade. Ria muito de quem se excedia por vaidade e o considerava fadado à infelicidade.

Meu pai me deixava à vontade e nunca me cobrou muito, mas, quando o fazia, era com firmeza e, sobretudo, sem deixar de me explicar suas experiências de homem que passou pelo sufoco de duas Guerras Mundiais.

Às vezes discordávamos e chegávamos a ficar emburrados um com o outro, até que, cansados de caras feias, esquecíamos tudo sem precisar de uma só palavra.

Adorava ter-me por perto e, na época das férias, até para aliviar minha mãe, me levava ao moinho de trigo que dirigia. Ele me explicava a arte de manusear o trigo e de interpretar seus segredos. Já ao primeiro contato com os grãos, sabia dizer, melhor que teste de laboratório, todas as suas propriedades e que tipo de farinha se tiraria na moagem. Como todos os “emilianos”, tinha paixão pelos motores e me passou o vício ensinando-me a dirigir Lambreta com apenas 12 anos e carro com 14. Proezas que lhe custaram caro quando estampei um Fiat “millecinque” 0 km na parede do moinho e quando, aos 16 anos, passei a largar em corridas de motocross que lhe davam pesadelos.

Entretanto, para ele, eu era uma espécie de fenômeno que, ao mesmo tempo, o preocupava e lhe agradava. Gostava de me tirar da cama cedo e de me levar a treinar cachorros de caça, outra paixão sua que não conseguiu me transferir.

Quando, com 25 anos, decidi me mudar para o Brasil, ele chorou muito. Era contra essa ideia, não queria de jeito nenhum. Sempre esperou em vão que eu me cansasse e desistisse do sonho tropical. Foi bom comigo, foi um pai de verdade. Uma espécie de pai que, hoje, mais do que nunca, faz falta, e não só a mim.
O Tempo

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