Os sinais estão em toda parte. Diariamente surgem aplicativos, games, tecnologias que parecem saídas de um desenho dos Jetsons, profissionais largando carreiras e salários para empreender, CEOs de startups cada vez mais jovens e ricos. Ao mesmo tempo, o IBGE aponta queda de 1,1% no total de empregos no setor privado com carteira assinada entre o segundo trimestre de 2015 e o mesmo período deste ano. Também segundo o IBGE, a produção industrial em junho de 2016 foi 18,4% menor do que o de junho de 2013. O perfil do negócio que dá certo mudou.
“Em 15 anos, de 40% a 50% das profissões que conhecemos não vão existir, e quem não dominar a tecnologia do seu mercado não vai ter emprego”, afirma Francesco Farruggia, presidente da Campus Party, evento de inovação, ciência, criatividade e entretenimento digital. “Um tsunami vai passar na vida das pessoas e mexer com o mundo do trabalho. Essa transformação está ligada à capacidade de processamento dos computadores, que duplica a cada ano”, aponta Farruggia.
Para o professor de recursos humanos da Uninove, Cristiano Teixeira de Souza, a tecnologia trouxe uma mudança estrutural no mundo do emprego. “O número de vagas vai diminuir em todos os setores. Isso aconteceu na Revolução Industrial, quando as máquinas a vapor passaram a fazer o trabalho de vários homens”, compara Souza. “A tecnologia não veio para tirar emprego, mas para melhorar. Agora, o profissional e a empresa que não se atualizarem é que vão perder espaço”, avalia Souza.Adaptação. A boa notícia é que novos modelos de negócios e o empreendedorismo ganham força nesse cenário. “Aquela história de entrar na faculdade, arrumar um emprego, casar, comprar casa, cachorro, ter filhos e aposentar acabou. O primeiro mundo está percebendo isso. A vantagem do Brasil é que aqui as pessoas sabem se virar frente à crise”, afirma Farruggia. Dudu Obregon, sócio e “diretor de whatever” (tanto faz, em inglês) da Perestroika, uma “escola de atividades criativas” que oferece cursos nas áreas de gestão, comunicação e ensino, é a cara do profissional que está substituindo o executivo engravatado. Ele começou a “vida profissional” aos 11 anos vendendo games e programas de som aos amigos e fazendo negócios no Orkut. “Meu PHD em gestão de pessoas foi quando fui presidente de uma torcida organizada de futebol aos 15 anos”, relata. Aos 21, trabalhou no Parlamento Europeu e hoje, aos 25, despreza propostas de consultorias e valoriza “o currículo da escola da vida”.
“Acho que o modelo antigo está totalmente ultrapassado e que as pessoas estão cada vez mais tomando consciência disso. Não consigo de maneira nenhuma me imaginar batendo ponto em qualquer emprego que seja”, afirma a coach Alana Trauczynski, 32, autora do livro “Recalculando a Rota”, e do programa homônimo, que segundo ela ajuda as pessoas a “se responsabilizarem por suas vidas e a serem co-criadoras de uma nova vida”, diz.
SOBREVIVÊNCIA
Para companhias, caminho é buscar por mais inovação
Para as empresas, a busca pela inovação é uma estratégia para sobreviver em uma conjuntura de constante mudança. “A empresa que não estiver pensando em mudar sua tecnologia e seu modelo de gestão vai ter um grande problema lá na frente”, avalia Sergio Gomes, sócio administrador da Ockam, uma consultoria focada em transformação organizacional.
Gomes explica que quando uma empresa faz transformações sem alterar a tecnologia ou o modelo de gestão, são consideradas “mudanças incrementais, de baixa inovação”. Quando a mudança é significativa em pelo menos um desses eixos, a coisa começa a melhorar. “Já consideramos inovação. Por exemplo, utilizar uma tecnologia nova em seu mercado pela primeira vez ou adotar um modelo de gestão de outro setor em seu negócio são inovações”. Para o consultor, porém, o melhor é fazer a mudança nas duas áreas. “Quando a alteração afeta o modelo de gestão e a tecnologia, chamamos de ‘inovação desruptiva’, e aí os concorrentes vão ter que correr atrás dessa empresa”, afirma Gomes.
Uma das dificuldades que a empresa enfrenta, porém, diante da inovação, é a resistência dos funcionários. “Quando o trabalhador está dentro da organização, a tendência dele é resistir. Faz parte do papel da consultoria ajudar a vencer essa resistência”, avalia. (LP)
O Tempo
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