Certa vez, o consagrado cronista Armando Nogueira escreveu: “a tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus”. O ano deveria ser 1970, quando a maior seleção de todos os tempos desfilava seu futebol no México para se eternizar na memória de todos. Anos mais tarde, uma incoerência do destino acometeu um dos protagonistas com um grave problema ocular, e ele precisou, com 26 anos, largar uma de suas paixões. Para nossa sorte, a tal tabelinha que o maior jogador do Cruzeiro gostava também era feita com maestria em outras áreas.
Hoje colunista de O TEMPO, Tostão revela em seu novo livro, “Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos: Um Olhar sobre o Futebol” (Companhia das Letras, R$ 39,90), que será lançado em Belo Horizonte no próximo dia 27, algumas histórias do esporte, mostrado, às vezes, com planos táticos ou recordações, posicionando-se sobre situações reflexivas do atual momento.
Tostão é um senhor tipicamente mineiro. Discreto, não gosta de aparecer desde os tempos de televisão, na qual trabalhou de 1994 a 1999. Segundo o próprio ex-atleta, mesmo sabendo que seu esforço era reconhecido pelo público, ele, tímido, se sentia tenso para o trabalho televisivo.
Aos 69 anos, o tricampeão mundial, que também é formado em medicina, não dispensa uma caminhada pelas ruas de Belo Horizonte. Por isso, trocou um condomínio fechado em Nova Lima por um apartamento na região Centro-Sul da capital. Antes da entrevista, ele brincava, com um largo sorriso: “Existe coisa melhor do que ver filhos e netos na hora que a gente quer?”. Não, Tostão. Não há.
Hoje colunista de O TEMPO, Tostão revela em seu novo livro, “Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos: Um Olhar sobre o Futebol” (Companhia das Letras, R$ 39,90), que será lançado em Belo Horizonte no próximo dia 27, algumas histórias do esporte, mostrado, às vezes, com planos táticos ou recordações, posicionando-se sobre situações reflexivas do atual momento.
Tostão é um senhor tipicamente mineiro. Discreto, não gosta de aparecer desde os tempos de televisão, na qual trabalhou de 1994 a 1999. Segundo o próprio ex-atleta, mesmo sabendo que seu esforço era reconhecido pelo público, ele, tímido, se sentia tenso para o trabalho televisivo.
Aos 69 anos, o tricampeão mundial, que também é formado em medicina, não dispensa uma caminhada pelas ruas de Belo Horizonte. Por isso, trocou um condomínio fechado em Nova Lima por um apartamento na região Centro-Sul da capital. Antes da entrevista, ele brincava, com um largo sorriso: “Existe coisa melhor do que ver filhos e netos na hora que a gente quer?”. Não, Tostão. Não há.
MINIENTREVISTA
Tostão
ex-jogador, escritor e colunista de O TEMPO
ex-jogador, escritor e colunista de O TEMPO
A princípio, a ideia do livro era escrever sobre a parte tática e técnica do futebol, mas você acabou seguindo por outro caminho.
Quando acabou a Copa de 2014, pensei em escrever um livro que tentasse explicar a derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 e, também, o momento atual do futebol brasileiro. Mas eu percebi que era um assunto muito enfadonho, com muitos detalhes técnicos. Pouca gente se interessa por isso. Em um dos capítulos, faço uma síntese da maneira de jogar das equipes, não só do Brasil, mas da Europa também, comentando o que aconteceu no futebol nos últimos tempos.
Entre as histórias que teve no futebol, você comenta com muito carinho sobre os dois times em que você marcou mais gols: o Cruzeiro de 1966 e a seleção brasileira de 1970, tricampeã do mundo. Como foi viver e escrever sobre essas duas equipes?
Eu volto a essa época com informações que fui lembrando. Como sou muito sintético, eu só escrevi coisas que acho interessantes. Naquela época, o Cruzeiro já era o Cruzeiro, né? A Copa de 1970 foi o fato mais marcante da minha vida, porque fui campeão do mundo, momento da maior glória do futebol. Conto os bastidores, a história da seleção, como foi formada, detalhes técnicos e táticos. Tem, também, capítulos específicos para João Saldanha e da mudança (de direção) para o Zagallo.
Existe uma história sobre a participação do Ronaldo em uma entrevista com você. Parece que ele ficou chateado. Como foi isso?
O pessoal da imprensa pediu uma matéria comigo e com o Ronaldo, conversando. Terminada essa matéria, ele foi embora e esqueceu a carteira. Depois, ele voltou e ficamos conversando. Eu brinquei com ele para ter cuidado para não misturar a vida particular com a profissional, porque tinha saído uma foto dele no jornal de cueca, com alguns jogadores, onde ele morava. Eu apenas comentei. Tempos depois, fiquei sabendo que ele ficou bravo por eu ter comentado.
Você também trabalhou para a televisão de 1994 a 1999 e trabalhou em duas Copas do Mundo. Como foi participar e analisar de maneira tão serena?
Na Copa de 1994, fui convidado para participar da mesa redonda, na Bandeirantes. Em 1998, fui (para a Copa) pela ESPN Brasil. Nos anos seguintes, fui como colunista em 2002, 2006 e 2010. No Brasil, acompanhei de casa, pois estava com um problema de saúde. (Acompanhar a Copa em 1998) foi uma delícia. Conto no livro uma passagem que tem até o Chico Buarque e outras pessoas importantes e conhecidas no mundo. Mas, na TV, eu fazia um esforço muito grande, pois sou tímido. Me sentia tenso e, em 1999, resolvi mudar de vida. Me mudei para um apartamento mais afastado de Belo Horizonte e passei a escrever como colunista.
No livro, você comenta que talvez não fosse jogador, se pudesse voltar atrás, e teria se dedicado à vida acadêmica. Por quê?
Tive quatro profissões: atleta, médico, professor de faculdade, comentarista e colunista. As coisas foram acontecendo sem planejamento. Quando eu tive convite para trabalhar na TV, no início eu tentei conciliar minha vida de médico com a de comentarista. Cheguei à conclusão de que era impossível e fiquei num dilema. Por uma série de razões, resolvi parar com a medicina por um tempo e assumi a função de colunista. Gostava muito de ser médico. Tenho saudade dessa época também, assim como do futebol.
Seu livro tem um peso muito grande, principalmente por ser lançado depois do 7 a 1.
Foi o maior acontecimento do futebol em todos os tempos. O Brasil é um país conhecido no mundo pelo futebol. Dentro de casa, em uma Copa do Mundo, perder de 7 a 1 é uma coisa absurda, inacreditável. Foi muito marcante. Você vê um distanciamento muito grande entre o futebol brasileiro e o europeu, na parte organizacional, na parte tática.
Você acha que algum dia vamos conseguir voltar ao nível dos times de 2002, 1982 e da seleção de 1970?
Eu acho que estamos em um processo de reconstrução. Estou otimista (e acredito) que as coisas vão melhorar. Chegamos quase ao fundo do poço. O 7 a 1 representou a queda do nosso futebol. As relações promíscuas atrapalharam muito o futebol brasileiro, culminando com a prisão de um presidente da CBF. Apesar de ainda haver muita coisa errada no futebol, está havendo uma tentativa de recuperação, né? Agora, essa recuperação ideal seria que houvesse uma mudança estrutural radical mesmo. Acabar com essa relação promíscua entre CBF e clubes e federações, além de entrar profissionais independentes para dirigir o futebol brasileiro. Esse é o caminho, né? Mas ainda leva tempo, não tem jeito de fazer de uma hora para outra.
Quando acabou a Copa de 2014, pensei em escrever um livro que tentasse explicar a derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 e, também, o momento atual do futebol brasileiro. Mas eu percebi que era um assunto muito enfadonho, com muitos detalhes técnicos. Pouca gente se interessa por isso. Em um dos capítulos, faço uma síntese da maneira de jogar das equipes, não só do Brasil, mas da Europa também, comentando o que aconteceu no futebol nos últimos tempos.
Entre as histórias que teve no futebol, você comenta com muito carinho sobre os dois times em que você marcou mais gols: o Cruzeiro de 1966 e a seleção brasileira de 1970, tricampeã do mundo. Como foi viver e escrever sobre essas duas equipes?
Eu volto a essa época com informações que fui lembrando. Como sou muito sintético, eu só escrevi coisas que acho interessantes. Naquela época, o Cruzeiro já era o Cruzeiro, né? A Copa de 1970 foi o fato mais marcante da minha vida, porque fui campeão do mundo, momento da maior glória do futebol. Conto os bastidores, a história da seleção, como foi formada, detalhes técnicos e táticos. Tem, também, capítulos específicos para João Saldanha e da mudança (de direção) para o Zagallo.
Existe uma história sobre a participação do Ronaldo em uma entrevista com você. Parece que ele ficou chateado. Como foi isso?
O pessoal da imprensa pediu uma matéria comigo e com o Ronaldo, conversando. Terminada essa matéria, ele foi embora e esqueceu a carteira. Depois, ele voltou e ficamos conversando. Eu brinquei com ele para ter cuidado para não misturar a vida particular com a profissional, porque tinha saído uma foto dele no jornal de cueca, com alguns jogadores, onde ele morava. Eu apenas comentei. Tempos depois, fiquei sabendo que ele ficou bravo por eu ter comentado.
Você também trabalhou para a televisão de 1994 a 1999 e trabalhou em duas Copas do Mundo. Como foi participar e analisar de maneira tão serena?
Na Copa de 1994, fui convidado para participar da mesa redonda, na Bandeirantes. Em 1998, fui (para a Copa) pela ESPN Brasil. Nos anos seguintes, fui como colunista em 2002, 2006 e 2010. No Brasil, acompanhei de casa, pois estava com um problema de saúde. (Acompanhar a Copa em 1998) foi uma delícia. Conto no livro uma passagem que tem até o Chico Buarque e outras pessoas importantes e conhecidas no mundo. Mas, na TV, eu fazia um esforço muito grande, pois sou tímido. Me sentia tenso e, em 1999, resolvi mudar de vida. Me mudei para um apartamento mais afastado de Belo Horizonte e passei a escrever como colunista.
No livro, você comenta que talvez não fosse jogador, se pudesse voltar atrás, e teria se dedicado à vida acadêmica. Por quê?
Tive quatro profissões: atleta, médico, professor de faculdade, comentarista e colunista. As coisas foram acontecendo sem planejamento. Quando eu tive convite para trabalhar na TV, no início eu tentei conciliar minha vida de médico com a de comentarista. Cheguei à conclusão de que era impossível e fiquei num dilema. Por uma série de razões, resolvi parar com a medicina por um tempo e assumi a função de colunista. Gostava muito de ser médico. Tenho saudade dessa época também, assim como do futebol.
Seu livro tem um peso muito grande, principalmente por ser lançado depois do 7 a 1.
Foi o maior acontecimento do futebol em todos os tempos. O Brasil é um país conhecido no mundo pelo futebol. Dentro de casa, em uma Copa do Mundo, perder de 7 a 1 é uma coisa absurda, inacreditável. Foi muito marcante. Você vê um distanciamento muito grande entre o futebol brasileiro e o europeu, na parte organizacional, na parte tática.
Você acha que algum dia vamos conseguir voltar ao nível dos times de 2002, 1982 e da seleção de 1970?
Eu acho que estamos em um processo de reconstrução. Estou otimista (e acredito) que as coisas vão melhorar. Chegamos quase ao fundo do poço. O 7 a 1 representou a queda do nosso futebol. As relações promíscuas atrapalharam muito o futebol brasileiro, culminando com a prisão de um presidente da CBF. Apesar de ainda haver muita coisa errada no futebol, está havendo uma tentativa de recuperação, né? Agora, essa recuperação ideal seria que houvesse uma mudança estrutural radical mesmo. Acabar com essa relação promíscua entre CBF e clubes e federações, além de entrar profissionais independentes para dirigir o futebol brasileiro. Esse é o caminho, né? Mas ainda leva tempo, não tem jeito de fazer de uma hora para outra.
O Tempo
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