Especialistas destacam importância do Painel e discutem desafios para o enfrentamento das desigualdades educacionais
“O Painel é fundamental porque só vamos conseguir avançar na educação e superar o retrocesso dos últimos anos se tivermos clareza de enfrentar as desigualdades educacionais”, afirma Maria Alice Setúbal, fundadora do Cenpec, na abertura do evento de lançamento do Painel. Ao remontar o contexto dramático da educação básica do país, que tem retrocedido a patamares de 20 anos, a especialista reforça a importância da iniciativa na função de capturar o retrato das desigualdades educacionais e traduzi-lo, de maneira acessível e didática, para a sociedade.
O encontro on-line reuniu ao vivo o ex-ministro da educação e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine, e a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especialista em educação e relações étnico-raciais, Petronilha B. Gonçalves e Silva.
Em sua fala, Renato Janine lançou luz sobre a questão histórica das desigualdades e iniquidades que, em sua visão, constituem o próprio projeto de país, datado há 500 anos. Nesse sentido, o atual presidente da SBPC reflete que a igualdade é uma questão ética-moral, mas também de ordem econômica, e é justamente essa visão que o Brasil ainda persiste em refutar, reproduzindo desigualdades e impedindo o país de avançar como um todo.
“Uma boa parte da população está excluída por questões de educação, de saúde, de renda, de moradia e de transporte. Há um leque grande de fatores que acarretam a desigualdade e, portanto, fazem com que as pessoas mais pobres tenham, às vezes, dificuldade de identificar sua vocação, quanto mais terem espaços para realizá-las. Quantos médicos não perdemos, quantos engenheiros, cientistas, artistas, empresários, porque nasceram no CEP errado, em lugares pobres. Então além do imperativo ético e moral, há uma visão prática, pragmática. O Brasil já foi a sexta economia do mundo e hoje caímos para a 12ª”, analisa Janine.
Em sinergia com a perspectiva histórica das desigualdades, Petronilha B. Gonçalves e Silva trouxe em sua fala a importância da representatividade na educação e como isso reflete na promoção da qualidade e equidade na educação. A especialista foi a primeira mulher negra do país a integrar o Conselho Nacional de Educação e analisou os desafios que as escolas, as(os) docentes, os conselhos e as secretarias têm pela frente na luta contra o racismo, fator que incide diretamente na vida escolar de milhares de crianças, adolescentes e jovens do país.
“A grande pergunta que devemos nos fazer é: que país nós queremos? Qual é o nosso projeto? Como é que o meu povo - seja eu pertencente ao grupo de afro brasileiros - como é que cada um de nós, com a contribuição que os nossos povos nos dão e continuam trazendo ao país, vamos juntos construir um projeto de nação? É que ainda não aprendemos a fazer isso. Parece que o projeto de país ainda é uma disputa, de quem que pode mais”, reflete Petronilha.
Mais especialistas também somaram vozes para refletir sobre as desigualdades e as oportunidades de promover equidade na educação. O evento contou com depoimentos gravados de André Lázaro, diretor de políticas públicas da Fundação Santillana; Heleno Araújo, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE); Ivan Siqueira, conselheiro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação; Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime); Ricardo Henriques, economista e superintendente executivo do Instituto Unibanco; Rozana Barroso, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e Sueli Carneiro, coordenadora executiva do Geledés.
A transmissão completa da apresentação do Painel com os depoimentos de especialistas estará disponível em breve no canal do Cenpec no Youtube.
Sobre o Cenpec
O Cenpec é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que constrói equidade e qualidade na educação pública brasileira. Fundado em 1987, o Cenpec contribui no desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, na formação de profissionais de educação, na ampliação e diversificação do letramento e no fortalecimento da gestão educacional e escolar. Em parceria com redes de ensino, espaços educativos e outras instituições de caráter público e privado, atua dentro e fora das escolas públicas para diminuir as desigualdades e garantir uma educação de qualidade a todos e todas.
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