O TEMPO
Eduardo Aquino
PUBLICADO EM 03/12/17 - 03h00
Levamos milênios para desenvolver a lógica. Séculos para aprimorá-la. Porém, apenas três décadas para torná-la artificial. Ficamos viciados na inteligência artificial, prisioneiros da cognição eletrônica. Não precisamos memorizar coisas banais como números de celulares de mãe ou namoradas, arquivar dados, abrir um dicionário para compreender uma nova palavra ou pesquisar numa biblioteca um novo saber.Basta um movimento mágico e temos nosso totem do saber, o onipresente e onisciente Google. É médico, professor, cientista, inventor, tradutor, guia, mestre, o que nós acomodados usuários quisermos. Seria um deus, se não fosse o maior lobo em pele de cordeiro. Sabe tudo de mim, de você, de todos nós. Falso ou verdadeiro, inventado ou historiado, invade minha privacidade sem ao menos pedir licença. Tem a chave de todos meus cômodos e, se deixar, indica até onde encontrar minha alma gêmea.
Mas o que dizer do mamute Facebook? Começou como um conector de pessoas numa universidade americana. Traçava um perfil e apresentava uma pessoa a outra à distância. Hoje, vigia cada passo, é cheio de armadilhas, de ferramentas viciantes, é instrumento de guerras, desunião, fofocas e ciberbullying. Muda eleições nos EUA e na Inglaterra, promove tribos que se odeiam e acentua preconceitos e ódios. Instagram, Tumblr, Twitter e tome tela de smart, IPad e desktop. E destila-se ódios, amores, mentiras, alegrias, difamações.
De longe, à distância, virtualmente, a covardia se faz corajosa. Constrói-se uma vida a vida inteira, destrói-se em poucas tecladas, poucos segundos. Haters irrelevantes têm seu momento de glória ao postar sobre as celulites da celebridade.
Aí, nessa selva virtual, onde predadores nos rondam 24 horas, sete dias por semana, a droga rola. Viciados em telas, se tornam zumbis, comandados por nuvens de agentes do mal. Ingenuamente repassando nossos dados e segredos, expondo corpos, mentes e almas. Sendo sugados para uma engrenagem que mói sentimentos, emburrecem e destroem relações.
Quando tudo parecia irremediavelmente empobrecedor, surge o WhatsApp. Neura total! Grupos de trabalho, de família e de escola. O som perturbador, o responde e não responde, o chato de galocha, o namoro de emojis, o recebimento sem resposta, as postagens sem nexo e as piadinhas sem noção. Ou um instrumento de trabalho, a democratização da comunicação, ou a nova fonte de spam e de vigília dos serviços de espionagem e de venda de informação. Afinal, não existe almoço grátis.
Já ouviram falar da tempestade solar do século XIX, que destruiu toda a rede de telégrafos do mundo, que só foi restaurada dez anos depois? Não havia eletricidade. Se aproxima a possibilidade de um novo ciclo de explosão solar que modificará o campo eletromagnético da Terra, torrando toda vida eletrônica. Quem quiser, que busque um documentário. Como? Ora, pra quê existe o YouTube?
O Tempo
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