segunda-feira, 23 de maio de 2016

Déficit de atenção e hiperatividade podem surgir na vida adulta

O Tempo

PESQUISAS



PUBLICADO EM 23/05/16 - 03h00

Transtorno está ligado a acidentes, prisões e comportamentos criminosos


Miami, Estados Unidos. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é amplamente considerado uma condição que afeta crianças, mas algumas pessoas podem desenvolvê-lo durante a vida adulta, segundo apontam dois estudos diferentes, do Brasil e do Reino Unido, publicados no periódico científico “Jama Psychiatry”.

Os estudos sugerem que o início tardio do TDAH pode ser uma desordem própria e distinta, já que muitos adultos jovens diagnosticados não tiveram o transtorno durante a infância.

Além disso, no caso dos adultos diagnosticados com TDAH, os sintomas de falta de atenção, hiperatividade e impulsividade eram, em geral, mais severos do que os observados em crianças e tendiam a vir acompanhados de acidentes de carros, prisões e comportamentos criminosos, disseram os pesquisadores.

“Nossa pesquisa traz novos esclarecimentos sobre o desenvolvimento e o início do TDAH, mas também levanta muitas questões sobre o TDAH que surge após a infância”, disse a co-autora de um dos estudos, Louise Arseneault, professora na King’s College, de Londres.

“Quão similar, ou diferente, é o TDAH de início tardio em comparação com o TDAH que começa na infância? Como e por que o início tardio aparece? Quais tratamentos são mais eficazes para o TDAH de início tardio? Essas são as questões que estamos procurando responder”, diz Louise. Hoje, estima-se que cerca de 4% dos adultos apresentam TDAH.

Segundo o critério para o diagnóstico clínico, o TDAH se manifesta quando uma criança menor de 12 anos mostra pelo menos seis tipo de comportamentos desatentos, ou impulsivos, que interferem no seu desenvolvimento por seis meses consecutivos.

Conclusões prematuras. Um editorial que acompanha a publicação, assinado por Stephen Faraone, da Suny Upstate Medical University, em Nova York, e Joseph Biederman, da Harvard Medical School, em Massachusetts, classificou as conclusões como interessantes, mas “prematuras”.

Os diagnósticos de TDAH em adultos jovens derivaram de sintomas autorrelatados, que são “menos confiáveis” do que os relatos de pais e professores, comentaram Faraone e Biederman. “Os adultos nos estudos do Brasil e do Reino Unido tinham entre 18 e 19 anos. Essa é uma fatia muito pequena da vida adulta para tirar conclusões definitivas”, avaliam os editores no texto.

Em vez disso, os pesquisadores devem considerar os dados como um “chamado” para realizar estudos mais rigorosos sobre o TDAH, e os médicos que tratam pacientes devem estar cientes de que o TDAH de início tardio existe e deve ser tratado – mesmo que a literatura médica diga que o transtorno deva ser diagnosticado até os 12 anos de idade –, de acordo com o editorial. “O atual critério de início baseado na idade para o TDAH, apesar de estar baseado nos melhores dados disponíveis, pode não estar correto”, aceitam os pesquisadores. “Esperamos que pesquisas futuras determinem se e como esse critério deve ser modificado”, completam.
O Tempo

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