Prestes a lançar o seu quarto romance, “Descobri que Estava Morto”, João Paulo Cuenca chega hoje à Belo Horizonte, onde vai participar do projeto itinerante Literaturas – Encontro com Autores da Nova Literatura Brasileira, que será inaugurado aqui e depois seguirá para São Paulo e Brasília. A iniciativa vai trazer mais seis nomes do cenário literário nacional e dos quadrinhos (leia mais na página 2), que se apresentarão na capital mineira até dezembro.
Convidado para inaugurar esse ciclo de palestras, Cuenca deverá centrar a sua fala nas origens do romance – gênero em que estreou em 2002, com “Corpo Presente” –, até comentar as manifestações mais recentes observadas nesse segmento.
“Eu vou começar explanando um pouco sobre a forma romanesca, desde a antiguidade. Minha ideia é mostrar algumas definições sobre o que é o romance, trazendo algumas ideias relacionadas à teoria da literatura antes de entrar no universo contemporâneo. Vou citar alguns textos de autores, desde (George) Lukács, Walter Benjamin, até ensaios de Ricardo Piglia, somando-se a isso a minha prática como escritor”, resume.Ele vai bater papo com o público ao lado do poeta Lucas Guimaraens e do ator Leonardo Fernandes, que deverá fazer a leitura de alguns dos trechos do novo livro. Durante o evento, também será exibido o trailer do filme “A Morte de J. P. Cuenca”, que está previsto para estrear no dia 30 e marca a sua primeira experiência no cinema, atuando como diretor e ator.
Tanto o longa-metragem quanto a ficção têm como ponto de partida um fato que aconteceu em 2008 e ainda está sob investigação. Naquele ano, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, um cadáver foi encontrado com a certidão de nascimento de Cuenca.
A partir disso, ele passou a investir nessa história, contemplando a ideia do roubo de identidade como um dos principais temas da narrativa, que permeia o universo das tramas policiais e, em vários momentos, atravessa as fronteiras entre realidade e ficção.
Na época desse episódio, ele estava compondo um outro enredo, o que o estimulou a incorporar alguns fragmentos da proposta anterior no título. “Parte dela saiu numa edição da revista ‘Granta’, que foi publicada em 2012, mas no romance também faço algumas citações ao texto que estava fazendo antes e introduzo alguns trechos”, acrescenta.
Cuenca afirma que a escrita do novo livro aconteceu paralelamente à realização da obra cinematográfica. Em comparação com os volumes anteriores, este se diferencia, principalmente, pela maneira explícita como ele se assume personagem. “Há a minha experiência como escritor refletida ali e o livro traz reflexões sobre o cotidiano de quem vive da escrita. Trata também um pouco do mercado em que esse profissional circula”, afirma o carioca.
Na esteira disso, ao seu ver, “Descobri que Estava Morto” possibilita abordar alguns aspectos ligados à imagem do autor no cenário contemporâneo. Nos últimos anos, quem se dedica ao ofício da escrita experimenta oportunidades anteriormente inexistentes, a exemplo da participação em festivais, feiras de livros e de estar à frente de curadorias.
Essa mesma dinâmica, baseada na maior aproximação do escritor com os leitores, por outro lado, observa Cuenca, acabou gerando uma demanda pela presença do autor, que também se torna uma espécie de performer. “Há os lados mais sombrios desse comportamento. As pessoas, às vezes, deixam de ler os livros para apenas se satisfazer com a performance do autor numa mesa de debate. Mas, ao mesmo tempo, durante uma conversa dessas, é possível fisgar um novo leitor. Ou seja, a gente vê, de fato, essa espetacularização da figura do escritor, que surge também como personagem”, reflete.
Aliado a isso, ele pontua como essa dinâmica pode, em diferentes níveis, estar relacionada ao próprio trânsito entre linguagens que alguns autores – a exemplo dele, que também é dramaturgo e agora cineasta – realizam.
“Eu sempre tive interesse em outras formas de arte, além da literatura. Na verdade, eu quis ser cineasta antes de ser romancista, mas eu não tinha as condições econômicas para lidar com tanta gente. Fui construindo isso e o hoje em dia o que mais me interessa é essa transversalidade”, afirma Cuenca.
Uma referência, para ele, de escritor contemporâneo que passeia por diferentes searas é o autor e cineasta francês Michel Houellebecq. “Muitas vezes, as pessoas não estão interessadas só no livro, mas na performance que aquele autor desempenha. Um caso conhecido é o Michel Houellebecq, que em alguns momentos você pode vê-lo na televisão; em outros, pode assistir aos seus filmes, e acho que tudo isso influencia na leitura dos romances. E eu desde sempre encarei esse lado da performance como algo que faz parte do trabalho”, afirma.
Agenda
O quê. Bate-papo com João Paulo Cuenca
Quando. Hoje, às 19h30
Onde. Teatro do CCBB (praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. Entrada gratuita
O Tempo
Nenhum comentário:
Postar um comentário