domingo, 12 de junho de 2016

Paixões de Laura Medioli

O Tempo

PUBLICADO EM 12/06/16 - 04h30

Laura Medioli

Paixões










Outro dia vi no “Super” a seguinte notícia: “Quebradeira e tiro agitam consultório de cartomante”. Curiosa, fui ler a história.
O sujeito pagou a uma cartomante, autointitulada “consultora espiritual”, o valor de R$ 2.500 para reconquistar o amor de uma mulher. Não tendo o resultado esperado, voltou para tirar satisfações e pedir seu dinheiro de volta. Pagar R$ 2.500 a uma picareta, pensando resolver seus problemas sentimentais, foi muita ingenuidade. E, depois disso, promover uma quebradeira no recinto, chamando a atenção de vizinhos e polícia, com direito a tiros para o ar, foi burrice. Final da história: foi preso pelos crimes de ameaça e danos contra o patrimônio, não teve seu dinheiro de volta e muito menos a mulher desejada. Ou seja, se lascou.
Esse caso me fez lembrar o do Tinoco, outro apaixonado, que, para agradar à pretendente, com um violão, uma aliança e um buquê de rosas na mão, escalou o muro da escola onde estudava a moça.
Incompreendido e confundido com um ladrão, foi parar na delegacia – na delegacia e na capa do “Super”. Além do medo de perder a namorada, quase perdeu o emprego, afinal, seus arroubos amorosos ocorreram justamente durante seu horário de trabalho.
Segundo ele, a aliança já estava comprada, e a música “Nós Dois”, de Tadeu Franco, devidamente ensaiada. Procurou a secretaria da escola pedindo para chamarem a garota. Disseram que teria que esperar até o fim da aula. O problema é que seu amor tinha urgência. Deu no que deu.
Apesar da confusão causada, devo confessar, fiquei fã do rapaz. Adoro histórias cujos personagens são movidos pela emoção. Já pensou na chatice que seria o amor movido pela razão? “Vou me apaixonar pelo fulano; ele é interessante, mora próximo a minha casa, tem um bom emprego...” Felizmente, as coisas não são bem assim, o amor é imprevisível, não tem data nem hora, não escolhe, simplesmente acontece.
Assim como aconteceu a uma amiga, que deu a maior chutada de balde de que se tem notícia. Largou o emprego de secretária numa grande empresa e o conforto de sua casa, vendeu o carro, mudou-se de cidade e, literalmente, foi “viver de amor”. Explico: o sujeito morava em um pequeno município, exatamente no meio do nada, numa casinha simples, quase sem móveis (mas com varanda, me conta a apaixonada), desempregado e sem maiores expectativas. Tinha lindos e instigantes olhos verdes, alternava palavras doces com outras “calientes” e, como se não bastasse, a chamava de “tigresa”. Claro, depois dessa, quem é que conseguiria convencê-la do contrário? Fazê-la desistir de seus sonhos, naquela altura da vida, quando finalmente tinha encontrado um que lhe trazia um vulcão de emoções? Viveram de amor por dois anos. Nenhum arrependimento, principalmente quando se lembra das noites passadas na tal varanda, iluminada pelo céu mais “estrelado do mundo”. Alguém duvida? Eu, não.
Outro dia me diverti com uma crônica intitulada “Amor – doença”, da sensacional Danuza Leão. Para a autora, “não dá para conviver com uma pessoa apaixonada; todas, quando acometidas desse mal, ficam burras, obsessivas e incapazes de falar sobre qualquer assunto, a não ser do único que lhes interessa, ou seja, da sua paixão. E se as coisas não estão indo bem, melhor (ou pior) ainda; quem está apaixonado não consegue entender que a paixão do outro possa ter acabado, e aí começa a se perguntar (e perguntar aos outros) o que pode ter acontecido”.
Pois é, o outro foi perguntar à cartomante, e deu no que deu.
Não o culpo; quando mocinha, eu também não saía de cartomantes, quiromantes, búzios, astrólogos, enfim, de todos aqueles que poderiam me dar uma luz sobre minhas projeções amorosas.
No meio de muitas bobagens e alguns acertos, apenas uma me impressionou. Aquela que há mais de 30 anos descreveu meu futuro marido em detalhes, mesmo sem nunca ter me visto na vida. Cheguei até a pensar que lia meus pensamentos. Nada! A mulher era incrível, relatou meu passado, presente e futuro. E nunca cobrou nada por isso.
Finalizo com mais uma da Danuza: “a cada vez que ouço uma pessoa apaixonada falando de sua paixão, me vem imediatamente à cabeça um verso de uma música cantada por Dalva de Oliveira, que diz: ‘o amor é simplesmente o ridículo da vida’. Mas vou ser sincera: a cada vez que estive apaixonada, fui tão ridícula quanto”.
É isso aí, Danuza, e não é só você não, tá?
O Tempo

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