domingo, 26 de junho de 2016

Livraria famosa reabre com estantes vazias em Paris

POR CIARA NUGENT


PARIS — Gauthier Charrier, um estudante de design gráfico, entrou em uma nova livraria em Paris e pensou: “Onde estão todos os livros?”
“Eu vi aquele grande espaço vazio, só com algumas banquetas, e me perguntei: ‘Alguém fez uma besteira?’”, disse Charrier.
A evidente falta de estoque dentro da Librairie des Puf, dirigida pela editora Presses Universitaires de France, ou simplesmente Les Puf, não é consequência de um erro de pedidos. Lá existem livros, mas eles são impressos apenas sob encomenda, bem diante dos olhos do cliente, em uma máquina Espresso Book.
A empresa americana On Demand Books, que fabrica a máquina, a batizou de acordo com a atividade que você é capaz de completar nos cinco minutos necessários para imprimir um livro: tomar um cafezinho.
A máquina fica num canto no fundo da loja, murmurando enquanto transforma PDFs em brochuras. Os frequentadores usam as mesinhas para escolher um título — acrescentando ao texto, se quiserem, suas próprias anotações manuais — enquanto tomam um café. “Os clientes ficam surpresos”, disse o diretor da loja, Alexandre Gaudefroy.
De um ponto de vista empresarial, disse Gaudefroy, “não preciso me preocupar com espaço para estoque. Estamos em um lugar com menos de 80 m² e posso oferecer aos leitores o número de títulos que eu quiser”. Todos os 5.000 livros publicados pela Les Puf estão disponíveis, além de outros três milhões de livros compilados pela On Demand Books.
É uma reinvenção radical de uma loja que foi inaugurada em 1921. A Librairie des Puf original ocupava vários andares e tinha uma frequência intelectual animada das universidades próximas. Foi por muito tempo um símbolo acadêmico e cultural, até que fechou por causa da queda de lucros e o aumento dos aluguéis.
De 2000 a 2014, quase um terço das livrarias de Paris fechou. Os aumentos de aluguéis exagerados no centro da cidade, densamente habitado, foram os principais culpados, assim como a concorrência de livrarias online.
O Quartier Latin foi um dos bairros mais duramente atingidos pelos preços. Para proteger o caráter único da região, o Conselho da Cidade de Paris o transformou no centro de seu programa Vital’Quartier, que compra espaços comerciais e os aluga a pequenas empresas de interesse cultural por valores muito abaixo do mercado. Les Puf alugou um desses lugares na Rue Monsieur-le-Prince, o que permitiu que fosse reaberto no mês de março passado.
Livrarias independentes em outros locais também estão começando a encontrar um caminho após uma década de declínio. “É um setor que começa a se recuperar”, disse Nick Brackenbury, um dos fundadores do NearSt, aplicativo de celular criado em Londres que está ajudando a afastar os clientes da Amazon.com, incentivando-os a voltar a suas livrarias locais.
“As livrarias começam a fazer muitas pequenas coisas inovadoras e trazem as pessoas de volta”, disse Brackenbury.
Em Londres, o Society Club, no bairro do Soho, é ao mesmo tempo um bar, sala de encontro para os sócios e uma livraria, e a Books for Cooks, em Notting Hill, oferece uma experiência sensorial, cozinhando todas as manhãs uma das receitas de seus livros em uma cozinha aberta no fundo da loja.
Na Librairie des Puf, Gaudefroy disse que já pensa em abrir em outras cidades francesas.
“Depois de algumas semanas de funcionamento, há um motivo comercial para fazer isso, porque estamos vendendo muitos livros — muito mais do que prevíamos”, disse ele. “Pensamos que venderíamos 10, 15 livros por dia, mas tem sido mais como 30 ou 40"

Dinheiro + Negócios

Folha São Paulo

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