O TEMPO
SAÚDE
Casos crônicos requerem uma abordagem diferente no tratamento
PUBLICADO EM 28/02/18 - 03h00
Rio de Janeiro. Clinicamente, a depressão é sempre a mesma doença ou ela muda ao longo do tempo? Um novo estudo com base em exames de imagem do cérebro conduzido por pesquisadores do Centro para Adicção e Saúde Mental do Canadá indica que a depressão persistente, ou crônica, provoca alterações no órgão ao longo dos anos, o que sugere que devemos mudar a forma como pensamos e tratamos a doença à medida que ela progride.
De acordo com o estudo, liderado por Jeff Meyer e publicado na segunda-feira (26) no periódico científico “The Lancet Psychiatry”, pessoas que convivem muito tempo com a depressão – mais de uma década – sem tratamento apresentam inflamação do cérebro significativamente maior do que as que procuraram ajuda em menos de uma década.
Em pesquisa anterior, Meyer e sua equipe já tinham revelado que a depressão clínica provoca inflamação no cérebro, mas o novo estudo aponta as primeiras evidências biológicas de que a doença crônica também causa alterações amplas no órgão. Segundo eles, isso sugere que diferentes fases da depressão podem exigir terapias diferentes, numa abordagem similar à perspectiva usada nos estágios iniciais do mal de Alzheimer.
“Maior inflamação do cérebro é uma reposta comum das doenças neurodegenerativas à medida que elas progridem, como no Alzheimer e no Parkinson” destaca Meyer, ressaltando que, embora a depressão não seja considerada uma doença degenerativa, as mudanças nos padrões de inflamação cerebral nos que sofrem com a doença persistente indicam que ela provavelmente não é uma condição estática, tendo também um caráter progressivo.
Ainda assim, acrescenta Meyer, independentemente de quanto tempo uma pessoa sofre com a depressão, ela quase sempre é tratada do mesmo jeito.
Isso apesar de algumas pessoas apresentarem apenas alguns poucos episódios de depressão ao longo dos anos, enquanto outros sofrem com episódios persistentes e frequentes por mais de uma década, enfrentando sintomas cada vez piores, e mais e mais dificuldades para trabalhar ou se engajar em atividades corriqueiras.
Tratamento
Remédios. Meyer e sua equipe estão investigando opções de tratamento para os casos persistentes usando medicações anti-inflamatórias originalmente indicadas para outras doenças.
Diagnóstico
Grupo. Os pesquisadores examinaram 25 pessoas que sofrem com a depressão há mais de dez anos, outras 25 que enfrentam a doença há menos de dez anos e 30 sem diagnóstico prévio de depressão, que serviram como grupo de comparação.
Níveis. Eles viram que nas pessoas com depressão há mais tempo, os níveis de proteína translocadora (TSPO) eram 30% maiores em algumas regiões do cérebro do que nas que sofriam há menos tempo. Os níveis gerais do marcador molecular nas pessoas com depressão persistente eram superiores aos observados nas s que não sofriam com a doença.
Flash
Medida. No novo estudo publicado na segunda-feira e liderado pelo pesquisador Jeff Meyer, a inflamação do cérebro foi medida usando um tipo de exame de imagem do cérebro conhecido como tomografia por emissão de pósitrons.
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