O TEMPO
DESALENTADOS
Em cinco anos, dobrou o número de pessoas que desistiram de procurar qualquer emprego
PUBLICADO EM 24/02/18 - 03h00
Rio de Janeiro e São Paulo. Quando 2017 acabou, faltava trabalho para cerca de 26,4 milhões de brasileiros, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral divulgada na sexta-feira (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse número representa os trabalhadores subutilizados, grupo que reúne pessoas que poderiam trabalhar, mas estão desocupadas, e aqueles que trabalham menos de 40 horas semanais.
O índice de subutilização atingiu 23,6% da força de trabalho no quarto trimestre de 2017, uma queda em relação ao trimestre anterior, de 23,9%, mas ainda acima do registrado no mesmo período do ano passado, de 22,2%.
Segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, a população de trabalhadores subutilizados tem “praticamente um perfil único”: “os jovens, dadas as dificuldades e barreiras de eles se inserirem no mercado de trabalho, falta de experiência, falta de qualificação”.
Sem esperança. O número de pessoas que perderam a expectativa de conseguir um emprego e desistiram de procurar – chamados pelo IBGE de “desalentados” – dobrou nos últimos cinco anos. Segundo a Pnad, o total de pessoas em desalento chegou a 4,3 milhões no fim de 2017. Esse é o maior número já registrado desde o início da série histórica, em 2012, quando 1,9 milhão eram consideradas desalentadas. No fim de 2016, eram 3,8 milhões.
A população desalentada é, segundo o IBGE, aquela fora da força de trabalho por não conseguir serviço, não ter experiência, ser muito jovem ou idosa, ou ainda não ter encontrado trabalho na localidade. “A causa disso pode ser o ambiente econômico, que coloca muita gente na rua desempregada e desestimula a procura por emprego”, afirmou Cimar Azeredo.
Jônata Francisco Alves, 34, ainda não desistiu. Depois de seis meses procurando emprego sem nenhuma resposta, o desespero o levou a colocar faixas pela cidade. “Não acho nada, só bicos. No fim de semana vou vender balas no metrô. Estou aberto ao que aparecer, pois é muito duro ver sua filha pedir um pão e não ter dinheiro para comprar”, lamenta Jônata, que já recebeu algumas ligações e está torcendo para a estratégia dar certo. (Com Queila Ariadne)
Pessoa sem carteira ganha 44% menos
Rio de Janeiro. O trabalhador que não tem carteira assinada recebe, em média, 44% menos que o trabalhador formal. É o que aponta o detalhamento da Pnad divulgado na sexta-feira pelo IBGE. De acordo com a pesquisa, o rendimento mensal médio do trabalhador com carteira assinada no país era de R$ 2.090 no último trimestre do ano passado. Já os empregados sem carteira tiveram renda média de R$ 1.179.
O cenário pode começar a mudar. Depois de três anos de queda, a geração de empregos formais deve voltar a ser positiva em 2018. Esse crescimento, no entanto, ainda se dará por meio de vagas que exigem uma qualificação mais baixa – mas que, em geral, são ocupadas por candidatos com nível de escolaridade maior. É o que mostra um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “As empresas estão com um poder de barganha enorme para escolher o bom e barato. O bom é o qualificado, e o barato é o jovem”, explicou Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC.
Olhar limitado
“Um quinto da população apta a trabalhar no Sudeste está subutilizada. (...) A política hoje tem que olhar para 26,4 milhões de pessoas, não para 12 milhões de pessoas (desempregadas).”
Cimar Azeredo
Coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE
Informalidade
“2018 será um ano de recuperação do emprego formal, mas, possivelmente, o aumento será ainda maior nas ocupações informais (sem carteira assinada).”
Fernando de Holanda Barbosa Filho
Pesquisador do Ibre da Fundação Getulio Vargas
Saiba mais sobre o emprego no Brasil
Taxa de desemprego. Em 2017, o índice fechou o último trimestre em 11,8%. Com isso, a taxa média anual passou de 11,5% em 2016 para 12,7% em 2017, a maior da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012.
Cor. A participação da população preta no contingente de pessoas desocupadas aumentou de 9,6% em 2012 para 11,9% em 2017.
Escalada. O contingente de desocupados no Brasil era de 6,7 milhões de pessoas em 2012. Em 2017 subiu para 12,3 milhões.
Informalidade. No quarto trimestre de 2017, 75% dos empregados do setor privado (exceto trabalhadores domésticos) tinham carteira de trabalho assinada. Os outros 25% estavam informais.
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