segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Amor incondicional

O TEMPO


Laura Medioli
PUBLICADO EM 11/02/18 - 04h00
Leio no Super que na China filhotinhos de cães vivos servem de alimento para cobras pítons. O fato ocorre num zoológico na província de Henan e tem causado muita revolta na internet. A fotografia de um pequenino ser indefeso dormindo encostado à serpente, antes de ser devorado, me deixa um aperto no coração.
Não consigo mais ver nas redes sociais postagens que divulgam covardias com os animais, em especial com os cães, que vejo como seres constituídos de amor puro na sua essência. Só mesmo quem tem um cão ao seu lado pode entender a magnitude desses seres de Deus, um amor que nada pede em troca, prova maior de fidelidade e lealdade que possa existir.
Por isso, quando vejo na tela de um computador cães serem maltratados, abandonados em rodovias, enquanto seus antigos donos saem correndo sem olhar para trás, sinto-me mal, com aquela incômoda sensação de impotência. Cães arrastados por veículos em movimento; acorrentados e deixados à própria sorte no relento, no frio, no calor, sem alimento; cães cuja presença inocente incomoda e, por isso, são escorraçados das portas dos bares, das padarias, dos restaurantes. Que levam chutes e pedradas de adolescentes sem limites por puro sadismo.
Enquanto escrevo, passo os pés descalços no pelo de minha cadela Vlora, que se acomodou sob a mesa do computador. Ela me olha com uma ternura tão grande que me encanta.
Com apenas dois meses, Vlora foi abandonada às margens da antiga estrada que liga Belo Horizonte a Sete Lagoas. Nenhuma casa próxima, nenhum ser humano, apenas carros em alta velocidade que, por muito pouco, não a atropelaram. Até que um amigo de minha filha, vendo aquela coisinha miúda perdida no meio do nada, resolveu ampará-la. Chegando em casa, divulgou a foto na internet, para quem se interessasse em adotá-la. Minha filha foi rápida na decisão: “Segura ela, que ela é minha”. E assim foi.
Em janeiro, Vlora completou quatro anos em nossa casa. É a pura alegria, a companhia que não falta nunca, o amor ambulante que nos persegue, nos faz rir, brincar, voltar a ser criança. Que deita no sofá ao nosso lado para ver televisão, mesmo que não entenda nada; que não desgruda de minha cama quando estou doente, que senta e dá a pata educadamente quando quer alguma coisa; que de vez em quando destrói caminhas de espuma e se alimenta às escondidas, sem um pingo de educação, de bolos e pães deixados ao seu alcance. Que vai pro gramado brincar com as companheiras Estopa, que, como ela, foi encontrada imunda e perdida numa rua movimentada de BH, e a Mali, uma golden estabanada que precisa urgentemente emagrecer.
O espaço delas é minha casa, mas nos fins de semana, com coleiras coloridas, saem às ruas das redondezas. Amam passear e marcar com xixi todas as árvores que encontram no caminho. Temos que ter paciência, afinal, o passeio para elas é como uma viagem à Disney, cheia de diversões e fortes emoções, como latir pro cachorrão do outro lado da rua, correr livre nos gramados que encontram e parar tremendo quando algo desconhecido desperta a atenção; receber cafunés de transeuntes, focinhadas desconfiadas de cães recém-apresentados, às vezes rosnadas, hora de puxar as coleiras e sair.
O espaço que possuem lhes basta, pois no meio desse pequeno universo o mundo delas e deles somos nós. Nós, seres humanos, que deveríamos ter mais respeito, cuidado e admiração por esses presentes que felicitam a vida. Não somente os cães, mas todos os animais que dividem conosco este planeta e são frutos de um esforço modelador dos deuses. O mundo seria menos cruel se todos entendessem que eles são portadores de paz e alívio aos nossos corações.

Para quem se interessar em adotar um cão ou um gato, procure se informar sobre as ONGs protetoras e feiras de adoção existentes em Belo Horizonte e na região metropolitana. Adote um bicho e por toda a vida terá por perto o seu melhor amigo.
O Tempo

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