O tEMPO
CIÊNCIA
Eles têm tamanho e massa similares aos do nosso planeta, e quase com certeza são rochosos; três deles estão situados em zonas aptas para abrigar oceanos de água líquida.
PUBLICADO EM 22/02/17 - 17h07
AFP
PARIS, FRANÇA. Astrônomos descobriram na órbita de uma estrela anã um fascinante sistema de sete planetas do tamanho da Terra que representa o terreno mais promissor até hoje para analisar se há vida além do Sistema Solar. O anúncio foi feito ontem pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), e o estudo foi publicado na revista “Nature”. “Estamos no bom rastro para buscar a eventual presença de vida em exoplanetas (planetas fora do sistema solar)”, declarou Amaury Triaud, coautor do estudo.
Os sete planetas orbitam uma pequena estrela fria, a Trappist-1, localizada na constelação de Aquário, na Via Láctea, a 40 anos-luz da Terra. Eles têm tamanho e massa similares aos de nosso planeta, e, quase com certeza, são rochosos. A princípio, todos podem conter água, e em três deles há possibilidade de encontrar oceanos de água líquida. Para os cientistas, sua proximidade com a Terra e a penumbra de sua estrela anã vermelha representam vantagens cruciais para analisar as atmosferas e buscar as combinações químicas indicadoras de vida. “Até agora, não tínhamos planetas adequados para saber se há vida além de nosso Sistema Solar”, disse Triaud, da Universidade de Cambridge.
O sistema Trappist-1 é, entre os conhecidos até agora, o que tem o maior número de planetas do tamanho da Terra que orbitam uma só estrela, e nele abundam as zonas temperadas, onde não faz tanto calor para que a água evapore nem tanto frio para que se solidifique. Ao mesmo tempo, a descoberta supõe um novo indício de que a Via Láctea pode abrigar milhões de mundos do tipo terrestre.
O autor principal, Michael Gillon, professor da Universidade de Lieja, na Bélgica, disse que foi “uma boa ideia” procurar planetas orbitando estrelas anãs. “Isto é algo que ninguém fez antes. A maioria dos astrônomos tinha se concentrado até agora em estrelas como nosso Sol”, disse. Gillon e sua equipe começaram a rastrear a Trappist 1 – cuja massa representa menos de 10% da do Sol e seu diâmetro é apenas um pouco maior do que o de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar – em 2010, e cinco anos depois encontraram três planetas em sua órbita graças ao pequeno telescópio Trappist do Observatório Europeu Espacial (ESO), baseado no Chile.
A partir daí, o sistema foi monitorado por equipamentos na Terra e no espaço. A partir do solo, os astrônomos só podiam rastrear a atividade na órbita de uma estrela à noite, enquanto que a partir do espaço é possível observar continuamente.
Estes planetas orbitam uma estrela anã vermelha entre 1,5 e 12 dias, já que estão muito mais perto dela do que a Terra do Sol. Gillon e sua equipe começaram a analisar a atmosfera de cada planeta. “Há ao menos uma combinação de moléculas” e “se (esta) estivesse presente de forma relativamente abundante, isto nos indicaria com 99% de confiabilidade que há vida”, disse . “Mas a não ser que detectemos uma mensagem procedente de uma forma de inteligência de fora do nosso Sistema Solar, nunca teremos 100% de certeza”, completa.
Atmosfera
Avanço. O Telescópio Espacial James Webb, com lançamento marcado pela Nasa para 2018, terá a capacidade de detectar sinais da composição da atmosfera dos planetas de Trappist-1.
DETALHES
Nomes. Os exoplanetas foram batizados de B, C, D, E, F, G e H.
Estrela anã. É uma estrela mais fria e vermelha que o Sol, de um tipo muito comum na Via Láctea.
Tamanhos. Os maiores planetas são o B e o G, cerca de 10% maiores do que a Terra. Os menores são o D e o H, que são 25% menores do que nosso planeta.
Órbita. O planeta B, o mais próximo da estrela anã, precisa de 1,5 dia da Terra para completar sua órbita do TRAPPIST-1. O trânsito do planeta H, o mais distante, foi visto apenas uma vez.
SEMELHANÇA
Cientista anuncia zona habitável
SÃO FRANCISCO, EUA. O professor de física Stephen Kane, da Universidade de São Francisco (EUA), anunciou que encontrou um sistema planetário a 14 anos-luz de distância da Terra localizado em uma zona habitável – região que reúne condições para abrigar a vida como a conhecemos. O estudo foi divulgado no jornal “Astrophysival”.
Os exoplanetas, localizados no sistema Wolf 1061, ficam em uma região onde a água poderia existir em estado líquido na superfície. Um deles está inteiramente dentro da zona habitável, o que aumenta as chances de abrigar água e vida. O cientista reforça, porém que são necessários estudos mais precisos para comprovar ou não as condições.
Kane está trabalhando com a ajuda de colaboradores da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, e da Universidade de Genebra, na Suíça, para esclarecer mais detalhes sobre o exoplaneta Wolf 1061c e ver se ele tem características parecidas com as da Terra, que dão suporte à vida.
Um dos pontos a serem desvendados pelos novos estudos é a distância do exoplaneta de sua estrela-mãe. Planetas muito distantes podem ter temperaturas tão baixas que não permitam a existência de água líquida. Em planetas que ficam perto demais da estrela na qual orbitam, o problema pode ser o contrário: temperaturas tão altas que a água evapora antes de chegar ao solo.
Outra questão a ser esclarecida é a velocidade de mudança da órbita do Wolf 1061c em volta de sua estrela-mãe. Se a rota do exoplaneta mudar rápido demais, o clima pode ser caótico.
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