Hácinco meses, a banca da rua Gonçalves Dias, nº 789, esquina com rua Paraíba, no Funcionários, passou por uma transformação nada convencional. Após duas décadas de contrato com a mesma editora, Robson Ferreira, 52, decidiu parar de comprar revistas, jornais e livros. “Há um bom tempo, de uns dez anos para cá, a banca não estava compensando tanto. Simplesmente não vendia as publicações, o povo não se interessava pelo que as editoras mandavam, e percebi que teria que mudar. Então, recebi as propostas desses garotos e pensei: por que não publicar livros independentes, que podem vender mais?”, diz o comerciante.
Foi assim que, há cinco meses, Robson deixou de ser um tradicional dono de banca de revistas para se tornar, ainda que meio sem querer, um empreendedor literário.
A ideia de transformar a banca em um espaço de publicações independentes surgiu dos amigos Paula Lobato, 25, Emídio Souza, 21, Otávio Arcanjo, 24 e Lucas de Mesquita, 26, todos estudantes da Escola de Arquitetura da UFMG, localizada logo em frente à banca. “Seis meses antes de abrir a banca nesse formato, conhecemos o Robson, soubemos dos problemas dele, vimos o ponto de comércio numa região muito central, com uma geografia muito específica e potencializadora: em frente a uma escola pública e a uma praça muito movimentada. Nossa ideia foi propor um experimento de longa duração com livros independentes, e ele topou na hora”, diz Lucas.
Em pouco tempo de funcionamento, a banca conseguiu reunir mais de 120 títulos independentes. Desde publicações de Belo Horizonte, como a revista “Piseagrama” e os zines “A Zica”, até mesmo livros de outras partes do país, incluindo publicações do Rio de Janeiro, como a “Revista Colaboratório”, além de lugares como Florianópolis e São Paulo.
“Fizemos um diálogo com vários produtores de BH, participando das feiras. Ao mesmo tempo, chegando aqui, fizemos uma pesquisa grande para conhecer mais autores e publicações na internet. Mas a banca não é apenas um lugar para comprar e vender. É um espaço de trocas: recebemos aqui performances, lançamentos de livros, bate-papos sobre uma obra. É um espaço de convívio”, diz Paula.
Na rotina de Robson, muita coisa mudou nesse tempo, mas velhas manias continuam em voga. Ele mantém a banca aberta das 7h às 19h, recebe os mesmos amigos de sempre, dá uma canja no violão de cordas de nylon encostado por perto, cuida do jardim e chega até a fazer churrasco na rua. “Eu senti que as pessoas começaram a se interessar mais. Elas entram, ficam curiosas, tem gente que para aqui para tomar cerveja comigo. Tem melhorado muito, principalmente quando tem festa aqui. Aí, sim, consigo vender mais”, afirma o comerciante.
Em dezembro do ano passado, a banca recebeu a instalação “Entreaspas”, dos artistas Desali e Loreno Ross; abrigou o lançamento da revista “ArtZé”, também de Desali, além de ter recebido um duelo entre os MCs Eddie e DC 95. “Nós estamos abertos a receber lançamentos, fazer pequenos eventos, criar encontros”, diz Otávio.
Mudança. Com as novas atividades, as dezenas de badulaques e suvenires que Robson tentava vender junto com revistas, jornais e livros, desapareceram completamente. A única coisa que sobrou da antiga banca foi a imagem de Nossa Senhora pendurada em um cantinho e a velha televisão de tubo, em outro. Agora, o máximo que Robson oferece para venda, além dos livros independentes, é café, cigarro picado, xerox, rotativo para carros e apostilas para aulas de direção. “Tem coisas que eu mantenho porque é necessidade do povo. O resto, deixei levarem tudo, era inútil. Hoje em dia, pelo menos eu vejo as pessoas entrarem aqui com interesse em descobrir algo novo. Isso não tem preço”, celebra Robson.
Foi assim que, há cinco meses, Robson deixou de ser um tradicional dono de banca de revistas para se tornar, ainda que meio sem querer, um empreendedor literário.
A ideia de transformar a banca em um espaço de publicações independentes surgiu dos amigos Paula Lobato, 25, Emídio Souza, 21, Otávio Arcanjo, 24 e Lucas de Mesquita, 26, todos estudantes da Escola de Arquitetura da UFMG, localizada logo em frente à banca. “Seis meses antes de abrir a banca nesse formato, conhecemos o Robson, soubemos dos problemas dele, vimos o ponto de comércio numa região muito central, com uma geografia muito específica e potencializadora: em frente a uma escola pública e a uma praça muito movimentada. Nossa ideia foi propor um experimento de longa duração com livros independentes, e ele topou na hora”, diz Lucas.
Em pouco tempo de funcionamento, a banca conseguiu reunir mais de 120 títulos independentes. Desde publicações de Belo Horizonte, como a revista “Piseagrama” e os zines “A Zica”, até mesmo livros de outras partes do país, incluindo publicações do Rio de Janeiro, como a “Revista Colaboratório”, além de lugares como Florianópolis e São Paulo.
“Fizemos um diálogo com vários produtores de BH, participando das feiras. Ao mesmo tempo, chegando aqui, fizemos uma pesquisa grande para conhecer mais autores e publicações na internet. Mas a banca não é apenas um lugar para comprar e vender. É um espaço de trocas: recebemos aqui performances, lançamentos de livros, bate-papos sobre uma obra. É um espaço de convívio”, diz Paula.
Na rotina de Robson, muita coisa mudou nesse tempo, mas velhas manias continuam em voga. Ele mantém a banca aberta das 7h às 19h, recebe os mesmos amigos de sempre, dá uma canja no violão de cordas de nylon encostado por perto, cuida do jardim e chega até a fazer churrasco na rua. “Eu senti que as pessoas começaram a se interessar mais. Elas entram, ficam curiosas, tem gente que para aqui para tomar cerveja comigo. Tem melhorado muito, principalmente quando tem festa aqui. Aí, sim, consigo vender mais”, afirma o comerciante.
Em dezembro do ano passado, a banca recebeu a instalação “Entreaspas”, dos artistas Desali e Loreno Ross; abrigou o lançamento da revista “ArtZé”, também de Desali, além de ter recebido um duelo entre os MCs Eddie e DC 95. “Nós estamos abertos a receber lançamentos, fazer pequenos eventos, criar encontros”, diz Otávio.
Mudança. Com as novas atividades, as dezenas de badulaques e suvenires que Robson tentava vender junto com revistas, jornais e livros, desapareceram completamente. A única coisa que sobrou da antiga banca foi a imagem de Nossa Senhora pendurada em um cantinho e a velha televisão de tubo, em outro. Agora, o máximo que Robson oferece para venda, além dos livros independentes, é café, cigarro picado, xerox, rotativo para carros e apostilas para aulas de direção. “Tem coisas que eu mantenho porque é necessidade do povo. O resto, deixei levarem tudo, era inútil. Hoje em dia, pelo menos eu vejo as pessoas entrarem aqui com interesse em descobrir algo novo. Isso não tem preço”, celebra Robson.
INVESTIMENTO
Projeto ZineClube começa neste mês
Antes sem conseguir pagar as contas, agora Robson Ferreira está se acostumando a um novo modelo de negócios. Com o novo projeto, 13% dos lucros são revertidos para despesas e melhorias na banca; 1/4 vai para Robson, e o restante é referente aos valores pagos a cada autor ou pequena editora participante do negócio.
A partir do próximo dia 23, a banca vai inaugurar o ZineClube, convocando escritores e projetos de publicações independentes para formatar seu livro. A ideia do projeto é receber publicações independentes do país inteiro e aproveitar o xerox da própria banca para imprimir os títulos selecionados.
“É como se fosse um modelo de pequena editora aqui dentro, mas voltada para os zines, impressões mais simples de fazer. Vamos organizar uma convocatória, chamar os interessados, expandir esse acesso”, diz Otávio Arcanjo.
Além disso, o projeto vai abrigar uma biblioteca virtual, com acesso gratuito para o público, de todas as publicações envolvidas no ZineClube – os livros que tiverem licença gratuita poderão ser disponibilizados para download, sem qualquer custo para os leitores.
A longo prazo, a perspectiva da banca é montar uma biblioteca própria, para que o público possa consultar e ler livros, antes de comprar. “Nossa ideia é mesmo propiciar um lugar de encontro, de passagem, de criação de cultura, formação de leitura. É mais ou menos o clima que a banca tem hoje. Não é só compra e venda de livros, é formação de cultura”, analisa Paula Lobato.
A partir do próximo dia 23, a banca vai inaugurar o ZineClube, convocando escritores e projetos de publicações independentes para formatar seu livro. A ideia do projeto é receber publicações independentes do país inteiro e aproveitar o xerox da própria banca para imprimir os títulos selecionados.
“É como se fosse um modelo de pequena editora aqui dentro, mas voltada para os zines, impressões mais simples de fazer. Vamos organizar uma convocatória, chamar os interessados, expandir esse acesso”, diz Otávio Arcanjo.
Além disso, o projeto vai abrigar uma biblioteca virtual, com acesso gratuito para o público, de todas as publicações envolvidas no ZineClube – os livros que tiverem licença gratuita poderão ser disponibilizados para download, sem qualquer custo para os leitores.
A longo prazo, a perspectiva da banca é montar uma biblioteca própria, para que o público possa consultar e ler livros, antes de comprar. “Nossa ideia é mesmo propiciar um lugar de encontro, de passagem, de criação de cultura, formação de leitura. É mais ou menos o clima que a banca tem hoje. Não é só compra e venda de livros, é formação de cultura”, analisa Paula Lobato.
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O Tempo
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